Revista Estrutura - edição 1 - page 64

REVISTA ESTRUTURA
| JULHO • 2016
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esforços solicitantes para servir de base
para o dimensionamento dos elementos
estruturais no Estado Limite Último.
5. JUSTIFICAÇÃO E
VALIDAÇÃO DE MODELOS
A área de Barragens tem utilizado modelos
numéricos em menor escala que outras
áreas da engenharia, função principalmen-
te do comportamento geotécnico comple-
xos dessas estruturas. Para ampliar o uso
da análise numérica na área, são recomen-
dados pelo ICOLD (International Comission
on Large Dams), entre outros procedimen-
tos, a justificação e validação dos modelos
estruturais (Gutstein, 2011).
Esses procedimentos podem ser aplicados
na área de projeto de estruturas usuais com
pequenas adaptações, servindo para me-
lhorar a qualidade das análises estruturais.
5.1 JUSTIFICAÇÃO
Coma disponibilidade de programas basea­
dos no Método dos Elementos Finitos, é
possível conceber e executar modelos com-
plexos tanto de análises lineares como não
lineares. Existe uma tendência de achar
que modelos mais complexos são melho-
res. Essa tendência precisa ser analisada
com cuidado, porque muitas vezes os
modelos mais simples conseguem repre-
sentar todos os fenômenos importantes e
comprecisão adequada para a engenharia.
Modelos mais complexos agregam teorias
e parâmetros novos que precisam ser ade-
quadamente usados. Muitas vezes ummo-
delo mais complexo, que poderia melhorar
um resultado relevante em, digamos, 5%,
por má avaliação dos novos parâmetros
necessários, ou por problemas de mode-
lagem, pode acarretar erros inaceitáveis ao
projeto. Em casos extremos, modelos que
são usados pela primeira vez podem trazer
erros grosseiros.
Nesse sentido é muito importante que os
modelos usados possam ser justificados,
ou seja, que a adoção de determinado
modelo tenha uma justificativa adequada
principalmente em relação aos modelos já
testados para o caso em estudo.
Modelos usuais, que já foram exaustiva-
mente testados possuem uma grande van-
tagem em relação a modelos novos que
aparentemente são mais “completos”.
No caso de programas mais voltados ao
projeto de edifícios, que de certa maneira
orientamos usuários aomodelo de pórtico
espacial, eles usamummodelo já testado e
portanto já justificado. Mas mesmo nesse
tipo de programa, existem várias decisões
que precisam ser tomadas ao longo do
processo de modelagem e que precisam
ser justificadas em alguns casos.
Por exemplo pode-se citar a modelagem
incluindo a interação solo-estrutura, a ne-
cessidade de se usar uma análise incluindo
efeitos de segunda ordem, a inclusão de
comportamento não linear para os mate-
riais, entre outros.
A justificação, em última análise, tem a ver
com a avaliação se o modelo consegue re-
presentar adequadamente a estrutura em
questão.
5.2 VALIDAÇÃO
O processo de validação do modelo
deve verificar se o modelo em questão
está fornecendo resultados, qualitativa
e quantitativamente, adequados para a
estrutura em estudo.
Nesse processo é que são corrigidos erros
de entrada de dados, falhas namodelagem,
e são analisados os resultados numéricos
obtidos. Esse processo ainda é muito ba-
seado em experiência profissional, onde a
ordem de grandeza dos resultados e o co-
nhecimento qualitativo do comportamento
estrutural tem um papel fundamental.
Um engenheiro sem experiência pode
querer aceitar os resultados advindos de
um programa computacional sem uma
análise crítica adequada. Mas é muito im-
portante saber que o fato do programa ter
produzido um resultado, mesmo que ele
possa ser visualizado graficamente, não é
garantia que esse resultado seja adequado
ao projeto. Exagerando essa afirmação:
Muitas vezes o processo de validação é rá-
pido. Por exemplo, um engenheiro Junior
faz o lançamento estrutural que é avaliado
por um engenheiro Senior. O Senior pode
validar o modelo sugerindo modificações
que são facilmente incorporadas ao mode-
lo e reanalisadas.
O importante neste caso é que o engenhei-
ro Júnior não se ache o “autor” do modelo,
uma vez que o modelo feito por ele não
era adequado ao uso em projeto, e que foi
necessário que um profissional mais expe-
riente modificasse o modelo. Nesses casos
a experiência profissional de toda uma vida
faz muita diferença.
Entretanto é necessário desenvolver no-
vos procedimentos para que engenheiros
menos experientes possam realizar a eta-
pa de validação de maneira satisfatória.
Uma ferramenta importante é a visualiza-
ção da deformada da estrutura. Esse tipo
de resultado é muitas vezes desprezado
mas pode fornecer muitas informações e
ser uma maneira rápida de achar erros na
modelagem.
Outro procedimento muito útil é o uso de
modelos mais simples para validar mo-
delos mais complexos. Isolar partes do
modelo completo, que podem ser compa-
radas com modelos simplificados é muito
útil para ajudar a analisar se os resultados
estão numericamente corretos.
Nesse sentido pode-se perceber que:
Bucalem and Bathe (2011), em um contex-
to mais abrangente do que só modelos
para projeto de edifícios, propõem o uso
do que eles chamam de modelos hierár-
quicos cujas idéias podem ser usadas na
validação de modelos.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A dificuldade que alguns engenheiros
possuem na utilização de recursos com-
putacionais pode ser decorrência de
falta de embasamento teórico e de falta
de conhecimento na área de modelagem
estrutural. A área de estruturas possui
muito conhecimento que não é forneci-
BOAS PRÁTICAS PARA PROJETOS
| O CONCRETO ARMADO
NÃO É POR QUE A BARRA DE
PROGRESSO DO PROGRAMA
CHEGOU AO FINAL QUE O
PROJETO ESTÁ PRONTO.
NÃO PARECE SER UMA BOA
IDÉIA UM ENGENHEIRO USAR UM
MODELO NUMÉRICO QUE ELE
NÃO CONSEGUE JUSTIFICAR.
DIFICILMENTE UM ENGENHEIRO
PODE AVALIAR CORRETAMENTE
UM MODELO DE PÓRTICO
ESPACIAL SE NÃO TEM
FAMILIARIDADE COM MODELOS
DE VIGAS CONTÍNUAS, DE
GRELHAS PLANAS E DE PÓRTICOS
PLANOS.
1...,54,55,56,57,58,59,60,61,62,63 65,66,67,68
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