Revista Estrutura - edição 1 - page 55

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FIGURA 2 – TRINCAS NAS PAREDES DIVISÓRIAS INTERNAS DO FÓRUM
DE JUAZEIRO. AS PAREDES FRONTAIS ONDE ESTÃO AS PORTAS FORAM
OMITIDAS, PARA MELHOR VISUALIZAÇÃO
FIGURA 3 - TRINCAS NAS PAREDES FRONTAIS DO PAVIMENTO
SUPERIOR DO FÓRUM DE JUAZEIRO, BA
FIGURA 4 - SEÇÃO TRANSVERSAL DA LAJE NERVURADA DO PISO, COM ENCHIMENTO DE TIJOLOS
CERÂMICOS. CONCRETO FCK = 18 MPA. ARMAÇÃO DE 1
φ
16 + 1
φ
12.5, POR NERVURA.
nervurada em uma só direção, com 22
cm de altura e 6,80 m de vão, com a se-
ção transversal da Figura 4 é excessiva-
mente deformável para as paredes que
suporta.
Realmente, as paredes, com cerca de 3
m de altura, portanto muito rígidas à fle-
xão, não conseguem acompanhar as de-
flexões da laje sem se dividir em partes,
fissurando-se. Observe-se que a confi-
guração das trincas nas paredes reflete
a deformação, com um traçado inclinado
dos pontos de menor para os de maior
deformação (Figura 2), e com um traçado
horizontal, ao longo dos pontos de igual
deformação (Figura 3).
As deformações do piso são de fato pro-
gressivas com o tempo, o que converge
com o depoimento dos funcionários do
Fórum de que o fenômeno ainda está
evoluindo.
Uma avaliação numérica das flechas a
meio vão da laje pelo procedimento da
Norma ABNT NBR 6118:2014 ITEM 17.3.2.1
indicou para a flecha que se integraliza
após um ano da elevação das paredes o
valor de 41 mm. Segundo essa mesma
Norma, o valor admissível da flecha, nesse
caso, é de (6800/500 =) ~14 mm. Apesar
do cálculo numérico de flechas ser cerca-
do de muitas incertezas e grande disper-
são (20% para mais ou para menos), há
um indicativo forte na comparação entre
esses valores que as deformações do piso
são exageradas para as paredes e podem
ser a causa de suas trincas.
Segundo os cálculos teóricos, há ainda
uma expectativa de aumento de flecha
da ordem de 15 mm (23% da flecha fi-
nal), com agravamento do cenário então
observado.
A verificação da segurança à ruptura da
laje apresenta no entanto resultados fa-
voráveis. De fato, o momento fletor capaz
da seção a meio vão da laje nervurada é
cerca de 36% maior do que o valor de cál-
culo (Md ) do momento fletor solicitante,
demonstrando pois suficiente segurança
à ruptura por flexão.
COMO EVITAR
A lição aprendida é a da importância do
controle das deformações dos pisos e
danos delas decorrentes sobre as pa-
redes divisórias que devem suportar,
notadamente quando as lajes têm vãos
iguais ou maiores do que 5 m, sejam ar-
madas em uma direção ou nas duas, ma-
ciças ou nervuradas. Não basta ter segu-
rança à ruptura, os pisos necessitam ser
rígidos nesses casos, pois as alvenarias
são muito sensíveis às deformações.
Lajes em balanço que suportam panos
inteiros de paredes são inimigas do
engenheiro de estruturas. Um vão em
balanço equivale em efeito a um vão
simplesmente apoiado 2,4 vezes maior,
pelo menos. Quem diz que projetou ba-
lanços com paredes sem fissuras possi-
velmente não visitou de novo a constru-
ção com mais de um ano de idade.
Quanto mais tempo o reescoramento
for mantido, tanto menores serão as
deformações finais do piso.
Uma forma de evitar deformações em
lajes de piso que possam causar danos
nas paredes é avaliar numericamente es-
sas deformações pelo procedimento do
item 17.3.2.1 da nossa Norma ABNT NBR
6118:2014 e comparar seus valores calcu-
lados com os respectivos valores limites
da Tabela 13.2 dessa mesma Norma.
1...,45,46,47,48,49,50,51,52,53,54 56,57,58,59,60,61,62,63,64,65,...68
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