Revista Estrutura - edição 5 - page 22

REVISTA ESTRUTURA
| ABRIL • 2018
22
MEMÓRIAS
| AS LIÇÕES DO MESTRE VASCONCELOS
nicas no Brasil (ABNT), Esta-
dos Unidos (ACI) e Europa
(FIP). Escreveu
O Concreto
no Brasil
8
e
Máquinas da Na-
tureza
9
.
Engenheiro, professor e es-
critor, com uma participação
reconhecida na história da
engenharia de estruturas no
Brasil, Augusto Carlos de Vas-
concelos, testemunhou não
só o desenvolvimento tecno-
lógico da engenharia como
também a implantação e de-
senvolvimento da Arquitetura
Moderna no Brasil, principal-
mente nas décadas de 1930
a 1970. Arquitetura que foi
objeto de reconhecimento in-
ternacional, pela atuação de
arquitetos e engenheiros es-
truturais, como Vasconcelos,
que enfrentaram os desafios impostos
pela modernidade.
O trabalho que une a engenharia es-
trutural e a arquitetura na elaboração de
projetos é um tema de particular interes-
se aqui, por se tratar de uma prática mul-
tidisciplinar que agrega conhecimentos de
fontes diversas e faz parte da realidade de
muitos profissionais da construção civil.
Nesse sentido, Vasconcelos temmuitas
lições a nos dar. Lições que surgem em
uma simples conversa, focada no tema
da interação entre engenharia estrutural
e arquitetura, área em que atuou com
brilhantismo ao longo de várias décadas.
Conversa que tive a honra e o privilégio
de ter com ele, em sua casa.
CONVERSA COM O
ENGENHEIRO AUGUSTO
CARLOS DE VASCONCELOS
Através de trabalhos elaborados ao
longo de décadas, em colaboração com
8 VASCONCELOS, Augusto Carlos de.
Volume I
:
O Concreto no Brasil: Recordes – Rea-
lizações – História.
São Paulo: PINI, 1992.
Volume II
:
O Concreto no Brasil: Professores –
Cientistas – Técnicos
. São Paulo: PINI, 1992.
Volume III
:
O Concreto no Brasil: Pré-fabrica-
ção – Monumentos – Fundações
. São Paulo:
Studio Nobel, 2002.
Volume IV
:
O Concreto no Brasil
:
Obras Espe-
ciais – Contos Concretos
. São Paulo: IBRA-
CON, 2011.
9 VASCONCELOS, Augusto Carlos de.
Máquinas
da Natureza, Um estudo da interface entre Bio-
logia e Engenharia.
São Paulo: IBRACON, 2004.
arquitetos como Vilanova Artigas, atuan-
do em projetos como a casa do arquiteto
e a rodoviária de Londrina, Vasconcelos
pode nos contar sobre uma dinâmica de
relações que não constam da literatura,
nem do registro destes projetos, onde
acabam sendo arquivados apenas os
desenhos finais de execução.
O relato destas vivências, os detalhes
das relações entre engenheiros e ar-
quitetos e os aspectos relacionados às
dinâmicas de desenvolvimento de proje-
tos, são o que nos interessa aqui. Qual
a importância da relação entre Vascon-
celos e Artigas, especificamente para o
desenvolvimento e solução dos projetos
em que atuaram conjuntamente? Como
foram as conversas definidoras dos pa-
râmetros que conduziram às melhores
soluções? Quais os conflitos soluciona-
dos, ou não solucionados?
A conversa
10
com Augusto Carlos de
Vasconcelos foi realizada em sua resi-
dência, no dia 04 de outubro de 2016,
no cômodo destinado ao seu escritório
particular, onde estuda e trabalha diaria-
mente (Figura 1).
Ao entrar em seu escritório, imedia-
tamente meu olhar se desvia para o
computador sobre sua mesa, bem como
para os livros espalhados pelas estan-
tes, muitos deles de sua autoria, seu di-
ploma de doutorado, preso emoldurado
10 Foi mantido o tom coloquial da conversa,
com a intenção de reproduzir o mais fiel-
mente possível o conteúdo.
em uma das paredes, além de retratos
da família e objetos pessoais.
O professor Vasconcelos, como é cha-
mado pelos que com ele convivem, mos-
tra-se bastante formal, cerimonioso, e,
com uma gentileza comovente, inicia
nossa conversa com a singela pergun-
ta: “O que posso fazer para te ajudar”?
Singela porque, aos 94 anos, esta seria
apenas mais uma das centenas de con-
versas que deve ter tido com engenhei-
ros e arquitetos, sobre os mais variados
temas, em função de sua biografia tão
relevante e extensa.
Inicialmente o tema gira em torno de
seus estudos atuais, que se concen-
tram em obras antigas, do período da
Renascença, confirmando seu interesse
histórico, dessa vez focado no desenvol-
vimento da engenharia e da arquitetura
da igreja Santa Maria del Fiori, em Flo-
rença, construída em 1426. Vasconce-
los pretende escrever um artigo sobre
os conceitos estruturais intuitivos de
arquitetos daquela época, Brunelleschi
principalmente, uma vez que as teorias
relacionadas à resistência dos materiais
ainda não haviam sido elaboradas e,
consequentemente, não haveria com-
provação científica possível do compor-
tamento das estruturas propostas para
os projetos de arquitetura. Desta forma,
os projetos e processos construtivos se-
riam baseados em repetição de suces-
sos e experimentações em modelagem
reduzida.
FIGURA 1: AUGUSTO CARLOS DE VASCONCELOS EM SEU ESCRITÓRIO, EM 04/10/2016.
A AUTORA
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