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Naquela época não existia resis-
tência dos materiais, não existia o
concreto armado, não existia nem
teoria de resistência. Galileu não
tinha publicado ainda a obra dele
que tratava do início da resistência
dos materiais. De modo que o in-
divíduo só podia intuir. Então não
existia nenhum processo que se
possa dizer processo tecnológico.
Não existia a tecnologia ainda. Não
existia a figura do engenheiro e do
arquiteto. Era uma pessoa só.
Em seguida continuamos a conversa
onde o tema passa a ser a Arquitetura
Moderna, sua implantação no Brasil, no
Rio de Janeiro e posteriormente em São
Paulo. Como Vasconcelos atuou, e ainda
atua profissionalmente em São Paulo, o
assunto é logo direcionado para Vilanova
Artigas, com quem ele trabalhou:
O Artigas marcou época aqui. Isso
eu posso dizer porque eu tive na
carne essa experiência. Quando
eu me formei, o Artigas me convi-
dou para calcular algumas coisas
que ele tinha projetado. Então eu
ia no escritório dele, fazia lá alguns
cálculos e mostrava para ele, in
loco, na hora, o que é que eu tinha
achado.
Ao relatar esta experiência, Vascon-
celos indica uma relação de atuação
conjunta, onde o engenheiro fornece ao
arquiteto as bases para o prosseguimen-
to de seu trabalho, em uma espécie de
consultoria ainda na fase de concepção
arquitetônica.
Ele ficou muito contente com isso,
de modo que eu fiz uma porção de
obras em Londrina. O cinema de
Londrina foi feito assim, a estação
rodoviária de Londrina também,
que marcou época... a rodoviária
tem uma marquise muito grande,
que faz um zigzag, então dá um as-
pecto estético diferente das mar-
quises usuais.
Eu ia lá no escritório dele e ele mostra-
va o que tinha feito e perguntava pra mim:
“Como é que e posso fazer isso? Como é
que eu posso colocar essa marquise em
funcionamento?”. Então eu sugeri colocar
dois pilares em “V” para sustentar a mar-
quise e ele gostou muito. Gostou muito e
executou a marquise.
Em um relato que mostra uma intera-
ção entre engenheiro e arquiteto, que
confirma a retroalimentação de informa-
ções como fonte para a concepção arqui-
tetônica, Vasconcelos nos conta:
No fim, na estação rodoviária de
Londrina ele usou uma série de
cascas abobadadas e terminou
a última com um pilar vertical. Aí
eu disse não, olhe, a última, você
quer colocar vertical? Vertical não
funciona bem. Coloque a última
e quando chegar no final, conti-
nue na tangente e faça um pilar
oblíquo. Ele fez e ficou muito es-
pantado de dar certo. Ele fez não
acreditando muito que ia dar cer-
to. Fez, fotografou e me mandou
a fotografia com uma dedicatória:
‘Vasconcelos, foi executado e não
caiu....’ (risos).
Vasconcelos continua seu relato
sobre a época:
Com o Artigas eu fiz várias coisas...
a casa dele fui eu que fiz também.
Não tinha concreto protendido lá.
Fui eu que projetei. Eu até tenho os
desenhos comigo ainda.
O prédio da FAU-USP quem fez
foi Figueiredo Ferraz. O cálculo
era para ser dado para nós. O Ar-
tigas só dava cálculos para nós.
Mas o Figueiredo Ferraz fez tanta
pressão que pegou o MASP com
a Lina e depois a FAU-USP, que
veio logo em seguida ao MASP.
Então eu perdi a chance.... (risos)
acontece...
Eu trabalhei com o Paulo Mendes
da Rocha também, mas foi muito
pouco. Eu fiz umas três obras com
ele só.
Com o Paulo Mendes da Rocha
não tinha muito intercâmbio não.
Eu tinha muito relacionamento era
com o Artigas e com outros arqui-
tetos. Com o Rino Levi tinha muito
contato também. Com o Jacques
Pilon... lembra do Jacques Pilon?
Era um francês que tinha escri-
tório de arquitetura aqui em São
Paulo. Era famoso aqui. Eu tive al-
guns contatos com ele.
Confirmando a importância de Emílio
Baumgart para a engenharia no Brasil,
Vasconcelos nos conta do intercâmbio
entre os engenheiros brasileiros e ale-
mães para o desenvolvimento de tec-
nologias relacionadas à engenharia de
estruturas, que, através de novidades
para a época, como a protensão, possibi-
litaram a viabilidade de futuros projetos
da arquitetura moderna, principalmente
os da escola brutalista.
O projeto para a ponte sobre o
Rio do Peixe, do Baumgart, teve
uma repercussão internacional.
Na Alemanha foi um sucesso. Eles
mostraram que os brasileiros con-
seguiam construir em concreto ar-
mado pontes com balanços suces-
sivos. Aí surgiu o termo balanços
sucessivos. Então, essa ideia foi
do Baumgart, enquanto ainda não
existia a protensão. As pontes pro-
tendidas começaram com a ideia
do Baumgart, aplicadas na Alema-
nha. O Baumgart revolucionou a
Alemanha toda com essa ideia do
balanço sucessivo, que teve uma
repercussão fantástica. Daí para a
frente começaram a surgir as pa-
tentes. O protendido realmente
deslanchou quando a Alemanha
Os conhecimentos
da arte, da
arquitetura e
principalmente
da história
enriquecem
a prática da
engenharia
“
“