25
Essa viga circular, esse anel, era
um tirante de concreto que tinha
uma tração imensa, de centenas
de toneladas...Como realizar uma
peça com tanta tração assim, a
ponto de segurar 48 tirantes que
eram aquelas nervuras que faziam
parte do piso do anfiteatro? Ainda
tinha a cobertura que se apoiava
em pilaretes que nasciam no pavi-
mento em balanço...
O anel foi feito com protensão em
segmentos. Eram pequenos cabos
que começavam em baixo subiam
e depois desciam, com duas curva-
turas. Era bastante complicado. O
Hélio Duarte, que foi o gerente da
obra e arquiteto da cidade univer-
sitária me perguntava como eu po-
dia projetar aquilo? Como eu podia
deixar aquilo em baixo vazio?
Ele pediu para acompanha-lo du-
rante a execução do projeto. Quan-
do ele tinha o projeto imaginado,
em mente, eu estive com ele várias
horas discutindo como é que seria
a estrutura. Discutimos sobre a es-
trutura, sobre as dimensões, sobre
o processo de construção, ele que-
ria saber como é que aquilo ia po-
der ser feito. Ia precisar concretar
tudo e só tirar o cimbramento de-
pois de tudo pronto? Como é que
ia ser aquilo?
Outra preocupação dele era sobre a
entrada das pessoas que acontecia
por um único lado. Primeiro o audi-
tório enchia de um lado só, para só
então as pessoas se distribuírem.
Então ficava uma carga excêntrica
e ele ficou muito preocupado com
isso. De uma certa forma ele intuía
que isso seria um problema.
Na inauguração o prefeito foi lá e
me perguntou sobre a estrutura e
também perguntou isso....
Outra obra importante que e calcu-
lei lá foi o prédio da engenharia civil.
Esse prédio também tempeças pro-
tendidas mas não é uma protensão
geral, de tudo, é só na cobertura. E
na cobertura tem uma coisa muito
estranha. A cobertura não é plana.
É formada por cascas fininhas, de 7
cm, em forma de paraboloide hiper-
bólico. Sai de um pilar e tem 4 faixas
quadradas, formando um quadrado
de 15x15 metros. Um quadrado não
cola no outro. Só encosta. Estão li-
gados fisicamente, mas trabalham
separados. Então cada quadrado
desse recebe a carga da cobertura
e transfere para o andar de baixo.
Até aí não tem nenhuma novidade.
Mas o que tinha de extraordinário é
o seguinte, quando foi feita a obra,
eles pararam esses paraboloides
hiperbólicos num certo ponto e isso
foi uma tragédia. A obra estava toda
pronta e aquela ligação ficou para
depois e deu problemas, com defor-
mações maiores que foram muito
difíceis de igualar.
A conversa continuou ainda por mais
algumas horas, com a recordação de
projetos diversos, as discussões pedagó-
gicas sobre métodos de ensino, passan-
do pelo trabalho de Joaquim Cardozo e a
construção de Brasília e as novas tecno-
logias aplicadas ao cálculo e dimensiona-
mento de estruturas.
A lição que fica após uma privilegiada
conversa com Vasconcelos é de que a
compartimentação intelectual nos isola
como pessoas e também como profissio-
nais. O conhecimento da arte, da arqui-
tetura e principalmente da história enri-
quecem a prática da engenharia, como já
demonstrado em seu extenso trabalho.
Trabalho que deveria ser adotado como
leitura obrigatória em todos os cursos de
engenharia civil do Brasil.
FIGURA 2: AUGUSTO CARLOS DE VASCONCELOS E MONICA AGUIAR EM 04/10/2016.
A AUTORA