Revista Estrutura - edição 6 - page 8

REVISTA ESTRUTURA
| OUTUBRO • 2018
08
Rubens Menin –
A busca pela inovação
sempre foi uma obsessão. Desde os pri-
mórdios da MRV, buscamos oferecer à
classe de baixa renda um produto que não
apenas coubesse no bolso, mas superasse
as expectativas do comprador, ditando as
tendências do mercado e estabelecendo
parâmetros inovadores. Adotamos o BIM,
sistema que integra as etapas da constru-
ção (projeto executivo, instalações, estrutu-
ral e arquitetônico) de um empreendimen-
to em um ambiente colaborativo. A MRV é
uma das pioneiras na adoção do programa
que é considerado o futuro da construção.
ABECE – Como a MRV encara as novas
tecnologias do concreto? Tem utiliza-
do essas inovações em suas obras?
Rubens Menin –
Na MRV temos um de-
partamento específico para inovação, que
fica responsável por gerenciar os novos
projetos e trabalhar para aprimorar os
processos construtivos, atendimento ao
cliente, desenvolvimento de alternativas
sustentáveis para escritórios, canteiros de
obras e empreendimentos, entre outras
ações inovadoras estamos usando em
mais de 80% das nossas obras o concreto
auto adensável nas formas de parede de
concreto e o desempenho das obras em
que usamos essa tecnologia é fantástico.
O concreto utilizado para a produção das
unidades residenciais obedece a critérios
rigorosos na sua formulação. Um laborató-
rio montado nos canteiros de obras realiza
os ensaios de concreto auto adensável a
partir de amostragens obtidas no próprio
local para garantir a qualidade do produto.
ABECE – Qual sua opinião sobre os
projetos executivos elaborados hoje
no Brasil? Eles são de padrão de ex-
celência?
Rubens Menin –
Acredito que o
projeto
executivo constitui a parte mais impor-
tante de uma obra de engenharia e pode
garantir o sucesso ou a falha total de um
empreendimento – como vemos em mui-
tas obras públicas e em projetos de gran-
des construtoras e incorporadoras. Um
projeto executivo bem detalhado garante
a fluidez dos trabalhos nos canteiros. Os
funcionários não precisam parar para tirar
dúvidas, corrigir problemas que surgem
inesperadamente e todas as decisões re-
lativas à construção estão claras. Além de
ser um detalhamento de como a obra de-
verá funcionar, o projeto executivo deve
ser visto como parte do plano de comuni-
cação da empresa, garantindo o repasse
de informações, tarefas e a produtividade
de toda a equipe envolvida e não é o que
vemos em grande parte das empresas.
ABECE – Qual sua percepção em rela-
ção ao estágio técnico atual da enge-
nharia de estrutura brasileira em re-
lação ao que existe em outros países?
Rubens Menin –
Precisamos evoluir mui-
to. A comparação internacional, em geral,
é muito desfavorável ao Brasil. Os países
emergentes da Ásia, incluindo a China, o
Vietnã, a Coréia do Sul e a Tailândia, têm
conseguido investir em infraestrutura,
algo próximo a 10% dos respectivos PIBs.
Perifericamente a esse núcleo mais ativo,
outros países como as Filipinas, a Índia e
o Japão também têm conseguido taxas
de investimento elevadas, quase todas
superiores a 5% do PIB. Na América Lati-
na, alguns dos nossos vizinhos também
se destacam, merecendo menção os ca-
sos da Colômbia, do Peru, do Chile e do
México. Nesse panorama geral, é preocu-
pante registrar a situação brasileira, cuja
infraestrutura deficiente e deteriorada
está sendo objeto de investimentos limi-
tadíssimos, já há quase três décadas.
ABECE – Como avalia as perspectivas
do mercado da construção civil brasi-
leira no médio prazo? Acredita numa
recuperação efetiva das obras nos
próximos anos?
Rubens Menin –
Sou um otimista e acre-
dito que o mercado imobiliário mostrará
uma retomada gradual no curto a médio
prazo, sustentada pela demanda consis-
tente por imóveis, pela continuidade do
Minha Casa Minha Vida (MCMV) e pela
oferta de financiamentos, ainda que o
setor precise de ajustes regulatórios. O
Brasil ainda conserva um crescimento de-
mográfico significativo, o que implicará na
necessidade de produção de 35 milhões
de moradias ao longo dos próximos 20
anos. Isso faz do Brasil o quarto maior
mercado de habitação do mundo em ter-
mos de demanda que só é superado por
China, Índia e Estados Unidos. Além dis-
so, contamos com boa disponibilidade de
crédito, embora seja preciso diversificar
as fontes de financiamento para se evitar
escassez de recursos futuramente, quan-
do o setor estiver novamente aquecido.
Acho que pode faltar
funding
na retoma-
da, por isso a importância de novas fontes
de financiamento.
ABECE – A seu ver, que medidas se-
riam necessárias para acelerar a re-
cuperação?
Rubens Menin –
As empresas brasilei-
ras tiram de seus resultados quase 40%
de tudo o que ganham ou produzem para
pagar, na forma de tributos, os elevadíssi-
mos custos da ineficiente máquina pública
brasileira. Com uma carga deste padrão,
não há competitividade que resista. Já
a burocracia parece ter saído definitiva-
mente de controle e pressiona, mais do
que qualquer outro fator, a elevação final
e persistente do Custo Brasil.  No setor de
construção: com o impacto da burocracia
associada ao licenciamento de obras e à
aprovação de projetos, os custos já alcan-
çam, emmédia, 10% do preço final de ven-
da dos imóveis. O absurdo decorre do fato
de que, em quase todas as regiões do Bra-
sil, essas atividades burocráticas estão de-
mandando tempo da ordem de três anos
para a obtenção de todas as licenças e al-
varás. Não há competitividade que resista
a um desperdício desse tamanho. O Brasil
precisa destravar com urgência estes dois
gargalos. A reforma tributária está na pau-
ta há muitos anos, mas há enorme dificul-
dade para a obtenção de consenso para
que ela avance. No caso da burocracia, po-
rém, a tarefa não é tão complicada: basta
vontade política e um bom planejamento
para reduzir de forma rápida e vigorosa
este tipo de entrave ao desenvolvimento
mais robusto do nosso país.
Um projeto
executivo bem
detalhado garante
a fluidez dos
trabalhos nos
canteiros
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