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ca o bom projeto. Normalmente obra
melhor e de menor preço não é aquela
cujo projeto é o mais barato.
ABECE –
No caso de cálculo estrutu-
ral, quais evoluções o senhor desta-
caria ao longo das últimas décadas?
CONTARINI –
As evoluções aconteci-
das na estrutura nestes últimos anos
é uma soma de melhorias com a uti-
lização de materiais de melhor quali-
dade, os cálculos facilitados pela uti-
lização do computador (como grande
auxiliar do calculista). A utilização de
aços especiais, fundamentalmente no
caso do concreto protendido, que re-
presentou uma das maiores evoluções
do concreto nos últimos anos. Além
disso, os concretos de melhor quali-
dade foram aparecendo, bem como as
facilidades de execução de formas e
escoramentos, uma evolução normal
com o passar do tempo.
ABECE –
Como tem sido essa evo-
lução no caso de outros itens liga-
dos à engenharia, como materiais,
normas técnicas, formação profis-
sional e equipamentos? A melhoria
dos materiais e dos projetos pode
contribuir para reduzir os riscos de
colapsos nas estruturas?
CONTARINI –
A grande maioria dos co-
lapsos tem sido causada por erros. A
melhoria dos materiais teve muito pouca
influência na diminuição dos colapsos.
ABECE –
Entre as diversas obras das
quais o senhor participou, qual foi a
mais desafiante, do ponto de vista
estrutural? E em termos de inovações
incorporadas à engenharia nacional?
CONTARINI –
Indubitavelmente, em
grandiosidade e importância de engenha-
ria estrutural, tanto como projeto e execu-
ção, a obra mais importante da qual par-
ticipei foi a Ponte Presidente Costa e Silva
(Rio – Niterói). Nessa obra fui o ART- CREA
- RJ (Anotação de Responsabilidade Téc-
nica), responsável pela execução e pelo
comando, como diretor técnico, de um
contingente de 1000 operários, além de
mais de 130 engenheiros e arquitetos. Em
termos de inovações introduzidas na en-
genharia brasileira temos uma infinidade
de setores que foram beneficiados pelas
novas técnicas introduzidas. Inicialmente,
podemos falar das fundações com
tubu-
lões
profundos (cerca de 80 m) com reti-
rada de material usando o sistema
Air-lift
e
concretagem submersa, assim como todo
um sistema ultramoderno de pré-fabrica-
ção, transporte e colocação de aduelas
commais de 110t com colagem com epóxi.
Toda uma execução bastante sofisticada
sem qualquer acidente registrado.
ABECE –
Como o senhor analisa o atual
estágio do ensino de engenharia no
Brasil? Comparado com a época em
que o senhor iniciou sua carreira, quais
as principais alterações?
CONTARINI –
Na época de minha forma-
tura, em 1956, o Brasil estava passando
por grandes transformações na área po-
lítica, inclusive com uma época marcada
por grandes obras, com uma presidência
séria, interessada em fazer em 5 anos o
progresso de 50. (Este era o lema do Pre-
sidente Juscelino Kubitscheck).
Na sequência, com os governos milita-
res no Brasil, o ciclo das grandes obras
continuou e havia trabalho para todos,
sem desemprego e sem a corrupção de-
senfreada como vemos hoje, quando
temos obras com superfaturamento
onde a corrupção atinge a todos os
setores, alguns comandando a exe-
cução, e optando não pela melhor
solução mas sempre pela solução de
maior lucro ou vantagens.
ABECE –
Relate um pouco sobre sua
experiência profissional no exte-
rior?
CONTARINI –
No exterior executa-
mos obras de Oscar Niemeyer com as
dificuldades de soluções do Oscar com
grandes vãos e pequenas espessuras
de estrutura. É necessária a adoção
de estruturas especiais com controle
total das tensões e de deformações
com acerto de tensões compatíveis
com os momentos. No exterior execu-
tamos obras com arcos e vãos de 80m
de vão e espessuras de 30 cm. A
sal-
le de omnisporte
, cúpula de resolução
com 100m de diâmetro e espessura
de 30cm e com um anel de suporte em
concreto protendido de modo que a
protensão neste anel suspendeu a es-
trutura em 5cm, facilitando a retirada
de todo escoramento.
ABECE –
Qual sua orientação a um
jovem estudante que esteja pen-
sando em cursar engenharia civil?
CONTARINI –
Estou muito satisfeito com
a engenharia civil que executei e hoje vejo
certa dificuldade por falta de obras ou
pelo próprio desemprego. Na época que
comecei a trabalhar havia facilidade de
emprego, com bom salário e bom servi-
ço a ser executado. Hoje não existe mais
esta flexibilidade e está difícil o serviço
de engenharia civil e há muita dificulda-
de em encontrar uma boa colocação e o
engenheiro por vezes é obrigado a adotar
soluções mais econômicas em detrimento
de uma solução mais técnica.
Seja qual for a situação, vocês terão de
pensar sempre em optar pela melhor so-
lução de engenharia e nunca na solução
mais econômica, mesmo esta solução não
sendo a melhor. Procure sempre se atua-
lizar nas soluções mais usuais e progredir
raciocinando sobre a obra estudada. Hoje
acho que existem mais soluções de com-
putador em prejuízo de obras com utili-
zação da inteligência. O engenheiro deve
procurar conhecer mais os equipamentos
utilizados em engenharia.