Revista Estrutura - edição 5 - page 7

essas ideias nas viagens que fazia ao exte-
rior, sobretudo para a Itália que tinha esse
sistema bem consolidado e com conceitos
estruturais para galpões e indústrias mui-
to interessantes. Eu ia pelo menos duas
vezes por ano para visitar as feiras e vinha
com ideias que precisavam ser tropicaliza-
das para a realidade brasileira.
ABECE – Como foramos primeiros anos?
Newton Simões –
Na época, eu trabalha-
va com um projetista, que era um gran-
de desenhista, além de um calculista. Eu
apresentava a concepção estrutural que
estava bolando e o projetista delineava
as estruturas em três dimensões, à luz do
que hoje se faz no BIM. Só que, naquela
época, não havia nem computador. Então
ele desenhava tudo com nanquim em pa-
pel e isso era validado pelo calculista, que
dizia se a proposta tinha viabilidade do
ponto de vista de estabilidade estrutural.
Esse trabalho deu bons resultados comer-
ciais e resultou numa grande visibilidade
para a Racional, pois na época era real-
mente uma proposta inovadora no Brasil.
ABECE – Quer dizer que o espírito ino-
vador predominou desde o início?
Newton Simões –
Sim. Desenvolvemos
um sistema de uma usina móvel, com
um pórtico bem simples e um sistema
de trilhos e industrializávamos desde a
carpintaria, a fabricação das armações e
a própria concretagem. Fomos montan-
do linhas de produção e o resultado foi
excepcionalmente bom. Fizemos inúme-
ras obras usando essa tecnologia. Isso
durou todo o chamado “Milagre Brasilei-
ro”, que foi até 1978 ou 1979, e deu um
impulso enorme para a empresa, que
ganhou uma projeção bastante grande.
Depois, na década de 1980, o mercado
entrou numa grande crise, pois o Brasil
quebrou, e começamos a diversificar a
atuação da construtora: entramos no
ramo de hotelaria, escritórios e sho-
ppings. Aliás, o primeiro shopping que
construímos foi entregue em 1982, o de
Ribeirão Preto, iniciando uma época de
grande expansão desse tipo de cons-
trução por todo o pais. Tivemos nesse
campo um importante desenvolvimen-
to, com a realização de inúmeras obras
em todo o país e somos referência até
hoje. Temos clientes nessa área com os
quais já trabalhamos há 30 anos.
ABECE – Em relação aos projetos das
obras como eram tratados nessa
época? Como era o entrosamento da
construtora com os projetistas?
Newton Simões –
Nessa segunda onda
do nosso desenvolvimento – continuamos
a atuar na área industrial – procuramos
manter sempre o envolvimento na coor-
denação dos projetos para permitir a
construtibilidade
e assim obter a maior efi-
ciência possível. Inclusive nos projetos de
shopping, começamos a ter uma visão crí-
tica dos projetos que nos eram apresen-
tados, afinal de contas, shopping quando
marca a data de inauguração é algo ime-
xível. Por essa razão, tínhamos de ter um
envolvimento maior com a concepção do
projeto, pois era preciso de propor uma
solução construtiva para que a industriali-
zássemos, mas sem perder a essência do
projeto. Essa é uma prática que trazemos
até hoje. Isso é muito estimulante, pois
nós fazemos realmente engenharia. Não
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comercial, em especial a área de sho-
ppings, e também edifícios corporativos,
seguindo com um ritmo de crescimento
expressivo. “Antes da recente crise, prin-
cipalmente no período 2006 a 2012, tive-
mos uma expansão média anual de 25%”,
informou o empresário. Na entrevista a
seguir, ele também comentou sobre os
mais recentes avanços e desafios futuros
da engenharia brasileira, com destaque
para uma necessária “melhor coordena-
ção dos projetos para permitir a
construti-
bilidade
e assim obter maior eficiência no
processo construtivo”.
ABECE –Oque o levoua ser engenheiro?
Newton Simões –
Quando criança, tive
um convívio intenso com meu avô, que
era construtor. Ele chegou adolescente
ao Brasil, vindo da Itália e foi trabalhar
na construção civil. Começou como aju-
dante, mas logo alcançou as funções de
pedreiro, mestre de obras e empreiteiro.
Eu gostava muito das estórias que ele
contava sobre as obras. Se orgulhava de
ter trabalhado na construção do edifício
Martinelli, primeiro arranha-céu de con-
creto armado do Brasil. Isso me influen-
ciou bastante e, além disso, na minha
época de juventude, as três profissões
que mais atraiam os jovens eram: medi-
cina, engenharia e direito. Dentro dessas
opções, engenharia era a que, para mim,
fazia mais sentido. Nunca tive dúvida so-
bre a carreira que seguiria, pois desde o
ginásio tinha facilidade e uma proximi-
dade muito grande com exatas. Nesse
sentido, a opção por engenharia surgiu
quase como uma decorrência natural.
ABECE – Como nasceu a Racional e que
balanço faz dos seus quase 50 anos?
Newton Simões –
Eu sou suspeito, pois
me sinto realizado com o trabalho feito
na empresa. Montamos a construtora em
1971, dois anos após ter me formado na
Poli e foi num momento econômico muito
bom, pois o país estava crescendo em rit-
mo chinês em função do plano do governo
militar de estimular a produção nacional,
o que fez a atividade produtiva crescer
bastante, sobretudo o setor industrial,
estimulando a área de construção. Além
disso, entramos no segmento de galpões
industriais com uma proposta inovadora
para a época, que era um sistema cons-
trutivo baseado em pré-fabricação de es-
truturas no canteiro das obras. Buscava
Demoramos mais na
pré-construção, pois enquanto
se trabalha com papel, basta
rasgar e fazer de novo
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