Revista Estrutura - edição 5 - page 8

REVISTA ESTRUTURA
| ABRIL • 2018
08
somos uma construtora que simplesmen-
te executa os projetos. Nós procuramos
trazer a nossa experiência construtiva
para, junto com os projetistas e outros
elos da cadeia produtiva, encontrar as
melhores soluções que atendam custos,
prazo e qualidade.
ABECE – Com esse retrospecto inova-
dor, como avalia novas ferramentas
como o BIM?
Newton Simões –
Inovação sempre fez
parte do nosso DNA. Quanto ao BIM, a fer-
ramenta em si é excepcional. O problema é
sua aplicação. É uma ferramenta que tem
de ser utilizada comuma forte e sólida ade-
rência cultural em toda a cadeia produtiva
da construção. Não basta a construtora
aplicar sozinha. Temos de ter o engajamen-
to dos parceiros projetistas, fornecedores
de produtos e serviços, assim como dos
clientes. Penso que o envolvimento com a
plataforma tem de vir desde a ideia original
até a entrega da obra para operação, pois
o BIM tem um módulo que trata de manu-
tenção, avançando inclusive no conceito de
ciclo de vida. Nosso compromisso aqui na
empresa é utilizar o BIM para trazer resul-
tados concretos para o projeto e não por
ser moda ou por ficar bonito. Não adianta
nada fazer a concepção do projeto em BIM
e chegar na obra os nossos engenheiros e
os mestres não saberem operar essa pla-
taforma. Estamos trabalhando e investin-
do bastante para fazer essa conexão, de
forma que todo o ciclo do processo saia
beneficiado com a tecnologia.
ABECE – Dê exemplo de uma obra onde
a ferramenta está sendo utilizada.
Newton Simões –
Temos algumas. Esta-
mos para começar uma obra do aeropor-
to de Florianópolis. A partir do programa
original de trabalho do cliente, que é uma
empresa suíça, foi constituída a equipe de
projetos, pois nós aqui apenas coordena-
mos a equipe, e todo ele foi concebido ten-
do a plataforma BIM como balizadora dos
projetos básicos e do projeto executivo.
Alémdessa obra, estamos iniciando os tra-
balhos de projeto de dois shoppings com
os quais ainda temos acordo de confiden-
cialidade, além de uma universidade. Nes-
se caso, o arquiteto é dos Estados Unidos
e nós estamos interagindo com ele já den-
tro da ferramenta, o que mostra a versati-
lidade do BIM. Em termos de obras pron-
tas, avançamos bastante na exploração
da plataforma na fábrica da Jaguar Land
Rover, em Itatiaia, no Rio de Janeiro, que foi
entregue em 2016 e na qual interagimos
com um arquiteto inglês. Funcionou mui-
to bem, tanto que o cliente segue usando
os preceitos da ferramenta na operação e
também na manutenção do edifício.
ABECE – Poderia fazer uma avaliação
sobre o uso e os resultados de con-
cretos de elevado desempenho.
Newton Simões –
Estamos finalizan-
do as obras estruturais do Laboratório
Nacional de Luz Sincrotons (LNLS), que
será construído junto ao Centro Nacio-
nal de Pesquisa em Energia e Materiais
(CNPEM), em Campinas no interior paulis-
ta. Em razão do rigor em relação a estabi-
lidade da base onde funcionarão os equi-
pamentos necessários aos experimentos
com luz sincroton de quarta geração, foi
preciso uma operação complexa sobre-
tudo no tocante a precisão e rigor quanto
ao nível de planicidade. Em razão disso, o
túnel no qual serão feitos os experimen-
tos, que exigiu um piso de concreto com
90 centímetros de altura, não poderia
ter uma deformação superior a 20mm
em toda sua superfície, com deformação
relativa máxima de 0,25mm (250 micrô-
metros) a cada 10 metros. Além disso,
nas várias camadas do concreto, foram
colocados sensores para alertar contra
qualquer tipo de abalo, para não interfe-
rir nas experiências. Tivemos de estudar
profundamente a tecnologia do concre-
to, entre outros aspectos para executar
a obra e assim garantir um desvio que no
nosso pior cenário chega a 10mm. Para
conseguir isso foram incorporados uma
série de fibras e outros aditivos no con-
creto, tornando o piso único no mundo.
ABECE – Esse exemplo confirma que
o Brasil domina o estado da arte da
engenharia?
Newton Simões –
A engenharia nacional
está apta a realizar o que de mais avan-
çado existe no mundo. O que nos falta
é projeto de longo prazo em termos de
país. Temos uma enorme deficiência em
relação a infraestrutura e não sabemos
qual nossa referência para suportar o
desenvolvimento futuro. Falta sequência
em função das mudanças de governo.
Hoje, independentemente do talento e de
conhecimento, e os nossos são equipará-
veis aos melhores do mundo, temos con-
dições de fazer intercâmbios e trabalhar
de forma integrada com o mundo todo.
As modernas ferramentas nos permitem
formar equipes multinacionais, pois a pre-
sença física não é tão necessária na maior
parte do processo construtivo. A busca e
o acesso ao conhecimento hoje são muito
mais fáceis do que no passado. O proble-
ma está na aplicação desse conhecimen-
to. Como é que você traz esse conheci-
mento e as experiências do mundo, mas
adaptada à realidade brasileira. Existe um
desafio de tropicalização de soluções. Nós
estamos muito preparados. Na Racional
ENTREVISTA
| NEWTON SIMÕES FILHO
Em engenharia, o erro trágico é
quando se faz uma concretagem
complexa e errada, cuja correção
posterior é impossível
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