Revista Estrutura - edição 5 - page 9

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não sentimos barreiras de conhecimento
para vencer os desafios técnicos da área
de projetos da engenharia moderna.
ABECE – Nossos projetos executivos
são de padrão excelentes?
Newton Simões –
Hoje não são. E vou
te dizer as razões. Em geral os projetos
seguem uma metodologia baseado no
trinômio projeto, concorrência e cons-
trução. Os atuais projetos feitos no Brasil
ainda são marcados por essa estanquei-
dade entre projetar, fazer a concorrência
de contração e depois construir. Com
isso, deixam de incorporar soluções ope-
racionais que beneficiam o projeto.
ABECE – Como fazer então?
Newton Simões –
O que temos feito
aqui na Racional é procurar trabalhar
mais na fase de pré-construção, onde
participamos, horizontalmente, junto
com o grupo que desenvolve o projeto,
geralmente com a liderança do arquite-
to ou do próprio cliente. Com isso, es-
tabelecemos a conexão e um ambiente
de colaboração necessários para que o
projeto seja concebido de forma que sua
construtibilidade
seja garantida. Graças a
essa estratégia, evitamos iniciar a obra
com projetos complementares ainda in-
definidos, o que causa inúmeros proble-
mas durante a execução da obra, com im-
pactos no prazo, na qualidade e também
nos custos, que levam a um caminhão de
desgaste na relação cliente-construtora.
O que fazemos é demorar mais na fase
de pré-construção, pois enquanto você
está trabalhando com papel, você rasga e
faz de novo, mas quando já iniciou a obra,
tem lá 1.000 funcionários trabalhando e,
se é detectado um erro, esse custo passa
a ser vital para a empresa. O Brasil pre-
cisa trazer um pouco mais a cultura de
trabalhar em ambiente colaborativo, que
é a palavra da vez no mundo da inovação
e da tecnologia, onde dentro desse am-
biente você consiga, de uma forma trans-
parente, com mais segurança e com me-
lhor governança, desenvolver os projetos
com muito mais conteúdo para a execu-
ção que atenda a demanda do cliente.
ABECE – E sinergia é importante nes-
se processo?
Newton Simões –
Total. Um profissional
tem de reconhecer o papel do outro. Se
um negar isso, por exemplo, o arquiteto
diz eu vou conceber e depois o calculista
que se vire. Quando não se tem essa inte-
gração e interação pode ocorrer uma su-
cessão de erros que não são válidos. Erro
válido é aquele que você consegue inter-
pretar e corrigir. O erro trágico é quando
se faz uma concretagem complexa e erra-
da cuja correção posterior é impossível.
A gente tem muito cuidado ao longo da
nossa pré-construção. Numa determi-
nada situação, um projetista busca uma
segunda opinião para poder fazer a vali-
dação daquela solução. E isso deveria ser
bem recebido por todos, pois no fundo,
nós queremos é o sucesso da operação.
ABECE – No exterior tem essa melhor
integração?
Newton Simões –
Quem está bem na
frente nesse campo são os Estados Uni-
dos. Essa é uma prática antiga e corri-
queira. E nós aqui na Racional estamos
muito inspirados nisso. Temos equipes
que visitam regularmente os Estados
Unidos, temos alguns parceiros com os
quais trabalhamos em aliança e fazemos
uma troca de experiências.
ABECE – Cite uma obra da Racional
que foi mais desafiante do ponto de
vista de soluções de engenharia ou
de projeto.
Newton Simões –
Tivemos uma obra
muito conhecida, concluída em 1989, que
é a do Shopping Paulista. No local havia
um prédio com cerca de 50 anos, que
abrigava uma loja de departamento, com
área de 25.000 m
2
e que ocupava todo o
terreno. Se o empreendedor demolisse
a loja para erguer o shopping, que seria
muito maior, perderia o direito de explo-
rar a totalidade do terreno, tendo de dei-
xar espaços de recuo, conforme previa
a legislação municipal da época. Então
foi necessário fazer um trabalho con-
junto com o arquiteto Julio Neves desde
a concepção do projeto, que envolveu
reforma e ampliação. O que tivemos de
fazer: sem que a loja parasse de funcio-
nar, entramos no subsolo e começamos
a substituir as fundações de cada pilar,
transferindo cargas para uma fundação
provisória, com macacos e sensores para
identificar o momento exato de anular a
carga em cada um dos pilares. Quando
se confirmava carga zero no pilar, nós im-
plodíamos a fundação antiga e construía-
mos um novo tubulão que seria transfor-
mado em pilar posteriormente isso em
cinco subsolos embaixo da loja. Trabalha-
mos nisso durante praticamente um ano.
Depois que essa operação de engenharia
foi concluída, a loja foi fechada e construí-
mos mais seis andares sobre as novas
fundações, com ampliação dos 25.000 m
2
originais da loja para 120.000 m
2
do novo
empreendimento. Essa obra mereceu in-
clusive publicações na França como um
tratado de uma obra inédita por ter feito
a transferência de carga das fundações
com o prédio antigo em funcionamento.
Uma dificuldade extra nesse processo foi
consultar a Companhia do Metropolita-
no, pois já havia o projeto das obras da
futura Linha Verde do Metrô.
ABECE – Como analisa o futuro da
construção e da engenharia?
Newton Simões –
Penso que tudo de-
penderá de como será o cenário do setor
após a movimentação provocada pela La-
va-Jato. Depende de quais serão os players
que continuarão a atuar, como o governo
e também o setor privado vai se adaptar a
ummodelo commaior transparência e go-
vernança. É uma incógnita ainda, mas que
terá de ser equacionada, pois nessa área
o Brasil tem enorme demanda represada.
E é um setor onde a engenharia é muito
demandada, além de ser estratégica.
Nosso
compromisso é
utilizar o BIM para
trazer resultados
concretos para o
projeto e não por
ser moda
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