 
          
            REVISTA ESTRUTURA
          
        
        
          |  OUTUBRO • 2018
        
        
          
            62
          
        
        
          
            NOTAS E EVENTOS
          
        
        
          
            JORGE ZAVEN KURKDJIAN
          
        
        
          
            PÉRICLES BRASILIENSE FUSCO
          
        
        
          D
        
        
          escendente de armênios, Jor-
        
        
          ge Zaven Kurkdjian sempre foi
        
        
          fiel às tradições de suas raí-
        
        
          zes: formou-se em 1966 pela
        
        
          Faculdade de Engenharia Mackenzie,
        
        
          abraçando a especialidade de cálculos
        
        
          estruturais na Engenharia Civil.
        
        
          Ainda estudante e assessorado pelo
        
        
          irmão Jorge Kurken Kurkdjian, então
        
        
          professor de estruturas de aço do Mac-
        
        
          kenzie e engenheiro de projetos estru-
        
        
          turais do Escritório Técnico Arthur Luiz
        
        
          Pitta, já desenvolvia em casa alguns pro-
        
        
          jetos. Com o aumento do volume de tra-
        
        
          balho e após a conclusão do curso de
        
        
          engenharia, ambos decidiram criar um
        
        
          escritório próprio, situado à rua Bento
        
        
          Freitas, próximo dos escritórios de mui-
        
        
          tos arquitetos com os quais passaram
        
        
          a trabalhar. O escritório foi crescendo
        
        
          e em 1978 mudou-se para uma nova
        
        
          sede no Morumbi, onde está até hoje.
        
        
          Com a morte do irmão em 1989 e a
        
        
          subsequente crise gerada pelo confis-
        
        
          co de ativos do plano Collor, em 1990,
        
        
          teve que buscar forças para manter o
        
        
          escritório funcionando. Nessa época,
        
        
          já contava com a colaboração eventual
        
        
          do amigo Julio Fruchtengarten, com
        
        
          quem acabou se associando em 2000,
        
        
          tendo ingressado mais recentemente
        
        
          na sociedade os filhos Roberto e Jairo
        
        
          Fruchtengarten.
        
        
          O Jorge Zaven tinha uma personalida-
        
        
          de marcante; seu gênio alegre, sua vas-
        
        
          ta cultura e a diversidade dos assuntos
        
        
          que o interessavam (fotografia, música,
        
        
          pintura,...) tornavam o convívio com ele
        
        
          muito fácil e as relações pessoais du-
        
        
          radouras. Amava a profissão e tratava
        
        
          com grande respeito e admiração os
        
        
          arquitetos com quem trabalhava, pro-
        
        
          curando sempre conciliar os requisitos
        
        
          estruturais com os arquitetônicos. Aca-
        
        
          bou formando uma vasta biblioteca,
        
        
          com ênfase na literatura voltada para
        
        
          soluções estruturais inovadoras e sua
        
        
          evolução ao longo dos anos.
        
        
          Essas características pessoais, alia-
        
        
          das a um profundo conhecimento
        
        
          técnico tanto de estruturas de aço
        
        
          quanto de concreto e de madeira pos-
        
        
          sibilitaram que o escritório firmasse
        
        
          parcerias duradouras com os mais re-
        
        
          nomados arquitetos do Brasil; o resul-
        
        
          tado é uma série de obras marcantes
        
        
          que contaram com sua participação,
        
        
          sendo algumas mais recentes o San-
        
        
          tuário Theotokos, a sede do SEBRAE
        
        
          em Brasília, o Pórtico da Praça do Pa-
        
        
          triarca em São Paulo, as unidades do
        
        
          SESC Belenzinho, Santo Amaro, 24 de
        
        
          Maio e Jundiaí, o Teatro Cultura Artís-
        
        
          tica, o Cais das Artes em Vitória e tan-
        
        
          tas outras.
        
        
          Jorge Zaven faleceu no final de abril
        
        
          de 2018, aos setenta e cinco anos, dei-
        
        
          xando muitos amigos e uma grande
        
        
          lacuna em nosso meio técnico.
        
        
          Depoimento cedido por Julio Fruchtengarten,
        
        
          amigo e sócio de Jorge Zaven Kurkdjian
        
        
          C
        
        
          omo ele mesmo disse em uma
        
        
          de suas últimas entrevistas,
        
        
          concedida à revista ESTRU-
        
        
          TURA: nasceu para ser enge-
        
        
          nheiro. Prova disso é que o professor
        
        
          Péricles Brasiliense Fusco, antes mes-
        
        
          mo de concluir o curso na Escola Poli-
        
        
          técnica da Universidade de São Paulo
        
        
          (turma de 1952), já havia projetado seu
        
        
          primeiro edifício, quando fazia estágio
        
        
          no escritório de engenharia estrutural
        
        
          de Paulo Franco Rocha.
        
        
          A partir de então, a vida desse pau-
        
        
          listano, filho de pai médico e mãe pro-
        
        
          fessora, foi marcada por uma suces-
        
        
          são de conquistas, pois no mesmo ano
        
        
          em que se formou, também iniciava
        
        
          suas atividades acadêmicas, ao ser
        
        
          convidado para trabalhar na área de
        
        
          estruturas do Instituto de Pesquisas
        
        
          Tecnológicas (IPT). Um impulso ainda
        
        
          maior nessa direção veio com o con-
        
        
          vite para ser assistente do professor
        
        
          Nilo Amaral, na cadeira de concreto
        
        
          da Poli e, mais tarde, quando passou a
        
        
          dar aulas de estabilidade das constru-
        
        
          ções e de estruturas metálicas na FEI
        
        
          (Faculdade de Engenharia Industrial).
        
        
          Em paralelo, mantinha seu escritó-
        
        
          rio de projetos, atuando em diversas
        
        
          obras, tendo se especializado em en-
        
        
          genharia pesada para o setor indus-
        
        
          trial. Comandou, entre outras obras, o
        
        
          projeto do segundo alto forno da Co-
        
        
          sipa – Companhia Siderúrgica Paulista,
        
        
          construções para a CBA – Companhia
        
        
          Brasileira de Alumínio, estações da li-
        
        
          nha norte-sul do metrô paulistano e a
        
        
          Usina Hidrelétrica de Itaipu.
        
        
          No plano acadêmico, além das aulas,
        
        
          escreveu 13 livros, incluindo
        
        
          
            “Técnicas
          
        
        
          
            de Armar as Estruturas de Concreto”,
          
        
        
          considerado fundamental pelos pro-
        
        
          jetistas. Além disso, participou da for-
        
        
          mulação de diversas normas técnicas
        
        
          ao longo de mais de 60 anos de ativi-
        
        
          dade profissional. O professor Fusco
        
        
          era um entusiasta das inovações – em
        
        
          meados dos anos de 1980 estimulou a
        
        
          montagem de um curso de computa-
        
        
          ção no Departamento de Engenharia
        
        
          Civil da Poli –, e tinha uma preocupa-
        
        
          ção quase obsessiva com o ensino no
        
        
          país. Tanto que trabalhava num novo
        
        
          livro onde tratava, principalmente, da
        
        
          falta de uma atenção especial sobre
        
        
          a “arte de aprender”. Como sua inten-
        
        
          sa vida demonstra, o professor Fusco
        
        
          deixou, ao falecer no final de julho des-
        
        
          te ano, um legado não só para a En-
        
        
          genharia brasileira, mas ensinamentos
        
        
          que ainda serão úteis para todos os
        
        
          brasileiros.
        
        
          
            EM MEMÓRIA