Revista Estrutura - edição 6 - page 54

REVISTA ESTRUTURA
| OUTUBRO • 2018
54
INOVAÇÃO
| IGREJA CRISTO OBRERO
A
arquitetura moderna atual-
mente está passando por um
processo de revisão, grande
parte dele baseado em planos
e documentos de pesquisas históricas
que explicam o processo como um todo.
Especialmente orientados para entender
o processo do pensamento e as circuns-
tâncias sociais por trás de sua gestação.
Um dos tópicos mais trabalhados é o que
está relacionado ao projeto estrutural
das superfícies em concha e lisas, nivela-
das com o uso de régua, construídas em
meados da década de 1950.
Uma recente concessão do programa1
Keeping It Modern
– Fundação Getty – per-
mitiu uma profunda investigação sobre a
história e o projeto da Igreja2
Cristo Obrero
,
A obra mais icônica do engenheiro uru-
guaio Eladio Dieste, realizada no ano pas-
sado. Para entender as características de
seu projeto, especialmente as estruturais, é
necessário responder a duas perguntas bá-
sicas: Por que essa igreja no pequeno povo-
ado de
Estación Atlántid
a? E por que Dieste?
ANTECEDENTES DA
CONSTRUÇÃO
O desenvolvimento de Atlântida como
um resort praiano teve início em 1908
com um programa de reflorestamento
impulsionado por uma corporação parti-
cular:
La Arborícora Uruguaya
, que ativa a
estação ferroviária local. Em 1911 a região
ao redor da estação era um projeto imo-
biliário, quando teve início a construção
do hotel Atlântida e dos primeiros chalés
no passeio à beira-mar. Entre as primeiras
famílias estão os sobrenomes Urioste e
Giúdice, figuras principais posteriormente
relacionadas com a Igreja
Cristo Obrero
.
Em pouco tempo, a pequena cidade ao
redor da estação ferroviária passou a ter
uma escola, uma padaria e serviço médi-
co. Uma população estável de trabalhado-
res fez desse seu espaço vital. No início da
década de 1940, o casal Alberto Giúdice e
Adela Urioste compra o terreno e a casa
onde é construída uma pequena capela.
O casal Giúdice já estava transmitindo a
doutrina cristã na região e, em 1946, foi
construída uma capela básica. No dia 25
de dezembro de 1949 a capela foi elevada
a paróquia, o que impulsionou uma mu-
dança na pequena construção existente.
Uma nova igreja passa a ser um pensa-
mento constante, no entanto a obtenção
do dinheiro para sua construção não é
fácil para uma modesta cidade operária.
Enquanto a captação de recursos é provi-
denciada, com pequenas doações, sorteios
e loterias, o casal Giúdice-Urioste começa a
procurar um construtor capaz de erigir uma
construção bonita, porém não muito cara.
Dieste é nomeado em 1955 por outros
engenheiros, para a construção de arma-
zéns de tijolos de baixo custo, comumnovo
sistema estrutural: telhados de cerâmica
reforçada. Pelo menos seis construções
em concha com dupla curvatura são erigi-
das pelos engenheiros Dieste e Montañez,
antes mesmo da fundação da empresa:
Armazém Frugoni em Montevidéu (1955),
Posto de Gasolina Cooper em Montevidéu
(1957), Lavanderia Jung Lanas em Monte-
vidéu (1957), Clube de Remadores Merce-
des (1957), Armazéns Graneleiros BROU
em Colônia (1958), e o Depósito Carrau em
Montevidéu (1959). Além disso, Dieste rea-
liza a TEM Factory S.A. em Montevidéu, o
Ginásio Municipal de Dolores e o armazém
para rolos de papel do jornal
El País
, cuja
foto estava na primeira página em 1956. Ao
mesmo tempo, está sendo desenvolvida3
a projeção da igreja do
Cristo Obrero.
Con-
vémmencionar que a Berlingieri House em
Punta Ballena
(1946) constituiu a primeira
abóbada de tijolos reforçados (vão livre
de 6m). Ela foi construída em colaboração
com o arquiteto catalão Antonio Bonet.
O envolvimento de Dieste nesse pro-
jeto é resultado de seu relacionamento
com o engenheiro Mario Bonaldi, e com
outros profissionais católicos, que haviam
participado do projeto anterior da capela
de 1946 na Estación Atlántida. Em 1955 a
relação complexa com Dieste começa e
continua com altos e baixos, até a finali-
zação das contas administrativas da igreja
em 1962. Dieste, que recentemente havia
se convertido ao catolicismo4, considera
esse projeto como um desafio pessoal, e
acaba se envolvendo em cada detalhe da
concepção planimétrica, do projeto estru-
tural, da supervisão da construção e da
participação financeira. Ele se aprofunda
no projeto dos quatro componentes do
complexo: A igreja, o batistério subterrâ-
neo, a torre do sino e a casa paroquial,
A igreja Cristo
Obrero y Nuestra
Señora de
Lourdes se
destaca por
sua resolução
criativa estrutural,
construtiva,
formal e
espacial
DIVULGAÇÃO
FIG. 2 – OS TIJOLOS CERÂMICOS SÃO UNIDOS COM ARGAMASSA DE CIMENTO E AREIA
REFORÇADO ESTRUTURALMENTE COM BARRAS DE AÇO.
1...,44,45,46,47,48,49,50,51,52,53 55,56,57,58,59,60,61,62,63,64,...68
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