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PALAVRA DO PRESIDENTE
| JOÃO ALBERTO DE ABREU VENDRAMINI
E
ste é o sentimento interno, que
acomete a cada um de nós enge-
nheiros. Temos uma ideia profun-
da de que, individualmente, “sou“ o
ser mais importante do universo.
Como disse o professor Mario Sérgio
Cortella, cada um de nós é um indivíduo,
dentre 7,5 bilhões de indivíduos perten-
centes a uma espécie, Homo Sapiens,
dentre 3 bilhões de espécies classifica-
das, dentre 30 bilhões de espécies co-
nhecidas, que habita o terceiro planeta,
a Terra, dentre nove planetas, que giram
em torno de uma estrela anã, o Sol, den-
tre outras 100 bilhões de estrelas que
compõe uma galáxia, a Via Láctea, dentre
200 bilhões de galáxias, que se formaram
a cerca de 15 bilhões de anos, que per-
tence a um dos universos possíveis, que
provavelmente possui um formato cilín-
drico, e que vai desaparecer.
Veja como “sou“ importante!
Quem é você? Quem sou eu?
Quem somos nós, engenheiros, para
creditar que o único modo de fazer as
coisas é como eu faço? Quem somos nós,
engenheiros, para acreditar que o único
modo de pensar é como eu penso? Que
somos nós, engenheiros, para acreditar
que a única ideia boa é a que eu tenho?
Quem sou eu?
Pergunta difícil, especialmente para
profissionais tão bem preparados, com
formação de alto nível e acostumados a
resolver todo o tipo de problema. E tanto
é assim que somos cooptados por todas
as áreas, e para os cargos mais elevados,
de gerência e direção. Contudo, tal capa-
cidade, associada à formação de alto ní-
A ÚLTIMA COCA-COLA
NO DESERTO
vel nos tornou pessoas difíceis, áridas e
avessas a compartilhar.
Nós engenheiros não sabemos dividir,
para multiplicar. Não sabemos ceder,
para alcançar um objetivo maior e co-
mum. Não sabemos ouvir e aceitar uma
outra ideia, que não seja a nossa.
Quem sou eu? Segundo Fernando
Pessoa,
somos simplesmente Cadáveres
Adiados.
Será que não devemos pensar dife-
rente?
A engenharia brasileira vem sofrendo e
praticamente agoniza nos últimos anos.
Somos reféns das contratações por leilão
eletrônico, quando o correto seria por
técnica e preço. Nossos honorários de
projeto estrutural raramente chegam a
um terço do que cobram nossos colegas
arquitetos, sem falar nos valores destina-
dos à corretagem de imóveis. Mérito das
categorias mais organizadas, que sabem
se reunir em prol de objetivos comuns,
deixando de lado vaidades pessoais.
Todos os anos são oferecidas no Brasil
1,4 milhão vagas para os mais diversos
cursos de engenharia, das quais 700 mil
são para cursos de ensino à distância.
O que lhes parece esta realidade? Até
quando vamos continuar comentando
nossas mazelas pelos corredores?
A ABECE está disposta a colaborar na
quebra destes paradigmas, fortalecendo
os profissionais de estrutura e a excelên-
cia da engenharia, e precisa da colabora-
ção de todos para que suas ações sejam
efetivas a fim de tornar realidade a busca
por melhores condições, por uma enge-
nharia de melhor qualidade, mais segura,
onde os trabalhos possuam execução
adequada e remuneração justa.
Fortalecer as entidades de classe é um
dos principais caminhos para que uma
categoria organizada possa alcançar
seus objetivos. A união de seus membros
demonstrará a força e a capacidade de
mobilização e reação de nossa categoria.
Nós, engenheiros, conhecidos como
verdadeiros
“trouble shouting“
, já passa-
mos da hora de iniciar a resolução dos
nossos problemas.
A sociedade brasileira não faz a menor
ideia da importância do nosso trabalho
e somente somos chamados na agen-
da negativa e nos acidentes, quando se
deseja esclarecimentos ou eleger algum
culpado.
É momento de mostrar a importân-
cia e a excelência de nosso trabalho!