Revista Estrutura - edição 7 - page 7

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ABECE – Qual sua avaliação sobre as
perspectivas futuras da demanda
brasileira por cimento?
Paulo Camillo –
Cimento é produto im-
prescindível para moradias e obras de
infraestrutura, e é parte fundamental na
cadeia produtiva da indústria da cons-
trução. O setor tem importância estraté-
gica para o crescimento econômico. Em
2016, segundo estimativas do Constru-
Business, o setor de cimento gerou um
Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 5,8 bi-
lhões, equivalente a quase 10,0% do PIB
da indústria da construção (que reúne
máquinas e equipamentos para a cons-
trução) e empregou 28,4 mil pessoas,
equivalente a 3,3% da população ocupa-
da na indústria da construção.
A partir de 2004 diversos fatores colo-
caram a indústria do cimento no rumo
do crescimento: ambiente macroeconô-
mico favorável, aumento da renda real e
da massa salarial real, redução dos juros
e da inflação, expansão do crédito imo-
biliário por parte do governo e bancos
privados, crescimento dos investimentos
em obras de infraestrutura. E tudo isso
foi fundamental para a alavancagem da
construção civil e, consequentemente,
do consumo de cimento. Marcos regu-
latórios imobiliários trouxeram melhor
ordenamento jurídico no setor da cons-
trução e possibilitaram a capitalização
das construtoras e incorporadoras no
mercado acionário, bem como o retorno
dos bancos privados ao financiamento
imobiliário. Programas do governo, tais
como o Minha Casa Minha Vida e o PAC,
impulsionaram o setor da construção
civil, tanto na parte habitacional quanto
na de infraestrutura. Não foi a toa que o
consumo de cimento duplicou de 35 para
mais de 71 milhões de toneladas.
A crise iniciada em 2014, decorrente da
redução das obras formais, só não foi
maior devido as reformas realizadas
pelas próprias famílias e pequenos em-
preiteiros, estimulados pela liberação
de recursos do FGTS e reforçado pela
queda dos juros (Selic) e da inflação,
fazendo com que boa parte do cimen-
to nesse período de crise escoasse via
revenda.
Os indicadores de confiança, divulgados
pela Fundação Getúlio Vargas, começa-
ram o ano de 2019 com perspectiva posi-
tiva. O índice de confiança do consumidor,
por exemplo, continua ascendente, com
reação significativa em janeiro. Já o índice
de confiança da construção civil ficou es-
tável. Embora seja positivo, penso que os
resultados deste 1º trimestre ainda são in-
suficientes para se constatar uma tendên-
cia clara e segura de recuperação.
O desempenho do setor é sustentado
basicamente por dois segmentos: edifi-
cação (comercial, industrial e residencial)
e infraestrutura, como já mencionado. O
início da recuperação está sendo puxado
pelo mercado imobiliário que, no final do
ano passado, segundo dados da Abrainc,
entidade que reúne as incorporadoras,
mostraram que o número de lançamen-
tos imobiliários cresceu 30%, no acumu-
lado de janeiro a novembro de 2018.
ABECE – Sabemos que o segmento de-
pende do aumento dos investimen-
tos em obras de infraestrutura e da
demanda imobiliária. Está otimista
quanto a essas duas áreas?
Paulo Camillo –
Na infraestrutura, prin-
cipal indutor do consumo de cimento,
ainda não observamos melhoras, em
decorrência da ausência de investimen-
tos, causado pelo déficit fiscal e dos
programas de concessão que ainda não
performaram conforme o esperado. Sob
essa ótica, os governos federal, estadual
e municipal devem promover ações para
reverter a crise atual como a manutenção
dos importantes programas habitacio-
nais e de infraestrutura. Isso reforça que,
mais uma vez, a iniciativa privada preci-
sará fazer investimentos expressivos na
C
om uma experiência de apro-
ximadamente 30 anos em
importantes cargos no setor
público, empresas e entidades
setoriais de diversas áreas,
Paulo Ca-
millo Vargas Penna
está hoje à frente
da Associação Brasileira de Cimento
Portland (ABCP). Apesar do pouco tem-
po envolvido com a cadeia produtiva
da engenharia e da construção, o exe-
cutivo é taxativo sobre a atualidade da
engenharia estrutural brasileira: “nada
devemos ao mundo em termos da qua-
lidade profissional e projetos”. E, ao fa-
zer uma avaliação sobre a área, diz que
“por detrás de grandes arquitetos, há
sempre excepcionais escritórios e pro-
jetistas estruturais”. Na entrevista para
a
ABECE
, Penna falou também sobre
suas perspectivas em relação à retoma-
da da área de construção civil, detalhou
seus planos à frente da ABCP, enume-
rou os desafios da indústria cimenteira,
além de destacar a evolução tecnoló-
gica que vislumbra para o cimento e,
consequentemente, para os avanços na
forma de projetar no futuro.
ABECE – O início de 2019 indica um
crescimento nas vendas de cimento.
Acredita que pode haver uma rever-
são da tendência negativa dos últi-
mos anos?
Paulo Camillo –
As vendas de cimento
no mercado interno em janeiro de 2019
cresceram 4,2% frente a janeiro de 2018.
Já em fevereiro, as vendas por dia útil
- que considera o número de dias tra-
balhados - registraram queda de 2,3%
em relação a janeiro, e redução de 3,2%
sobre fevereiro de 2018. As vendas nos
últimos quatro anos acumulam um de-
clínio de quase 30% e ainda encontra,
neste início de ano, um cenário incerto
para a recuperação. Apesar do reaqueci-
mento do mercado imobiliário, aponta-
do nos últimos meses, o setor não conta
com um ambiente consistente capaz de
conduzir a um crescimento sustentável
que possibilite essa recuperação. Nossa
projeção é que o primeiro semestre de
2019 apresente um crescimento pró-
ximo de 1,5%, e a expectativa é de um
segundo semestre ainda mais forte, ala-
vancado principalmente pelo possível
início/retomada das obras de infraes-
trutura da União, que deve nos ajudar a
fechar o ano com alta de 3%.
Nossa expectativa
é ter um segundo
semestre forte,
para uma alta de
3% nas vendas de
cimento em 2019
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