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O CASO
Um belo condomínio de edificações mul-
tifamiliares de pequeno porte (3 pavi-
mentos) estava com data marcada, pela
construtora, para entrega das unidades
aos novos felizes proprietários.
As cisternas, projetadas de forma inde-
pendente, construídas sem interligações
com as estruturas de concreto armado
das edificações, na véspera da entrega
das unidades habitacionais, foram es-
vaziadas para limpeza. Algum tempo
depois, como que movidas por alguma
força “extraterrestre”, sobem, sozinhas,
do solo onde estão enterradas, de for-
ma irregular, “adernando” e provocando
grande susto nos presentes!
A data da entrega das unidades habita-
cionais foi adiada...
AS CAUSAS
Os estudos de sondagem relatavam,
para o terreno de implantação do con-
domínio, um solo composto por areia
muito compacta, com boa capacidade
de carga, porém com nível d’água quase
aflorando (30 cm de profundidade em
relação ao nível superior do terreno).
O projetista da estrutura detalhou as
fundações das edificações em sapatas
isoladas, assentes em profundidades
variadas e compatíveis com as cargas;
foi necessário o rebaixamento do lençol
freático, durante os trabalhos de cons-
trução da infraestrutura.
Junto com as sapatas, ainda com o siste-
ma de bombas para o rebaixamento do
lençol freático em funcionamento, foram
construídas as cisternas, isoladas das
estruturas das edificações, que depois
foram impermeabilizadas e cheias.
Ocorreu que as cisternas, quando car-
regadas com o volume total de água
interna, distribuíam ao solo, na cota de
assentamento, uma pressão equivalente
a aproximadamente 25,5 kN/m² (2,55 tf/
m²) (Ver Anexo 01).
Considerando que as cisternas possuíam
1,80m de altura total externa e estavam
totalmente enterradas, as lajes de fundo
ficaram recebendo uma subpressão de
15 kN/m² (1,50 tf/m²) (1,80m-0,30m), me-
nor que o carregamento provocado pelo
peso próprio da estrutura acrescido do
volume de água interno das cisternas.
No entanto, ao esvaziarem as cisternas,
o carregamento correspondente a apro-
ximadamente 28.000 litros de água foi
suprimido e, assim, a subpressão ficou
numericamente maior que a carga resul-
tante da estrutura projetada, provocan-
do a “subida” das cisternas...
COMO EVITAR
A solução dada pela construtora foi de-
molir as cisternas e construir castelos
d’água maiores, agrupando a reserva de
consumo de algumas edificações.
Mas, construindo cisternas, como isso
poderia ter sido evitado?
Certamente existem várias soluções,
mas uma delas, mantendo as geome-
trias internas, seria projetar prolon-
gamentos das lajes de fundo das cis-
ternas, de forma a criarmos abas que
estariam, então, sujeitas ao peso do
terreno compactado ao redor, externa-
mente, das paredes.
Como demonstrado no Anexo 02, com
abas de apenas 50 cm, para as cister-
nas com as dimensões consideradas,
conseguiríamos um acréscimo de 65
kN (6,50tf) no peso próprio da estrutu-
ra e de mais 299,2 kN (29,92 tf) devido
ao solo compactado colocado sobre as
abas, resultando em um carregamento
total de 20 kN/m² (2,0tf/m²), suficiente
para manter as cisternas enterradas,
mesmo vazias.
Evidentemente as armações deverão ser
compatíveis com as hipóteses de cálculo
necessárias, mas isso é outra história...
Para que possamos visualizar o ocorrido
e testar algumas hipóteses de geometria
para as cisternas e soluções variando
apenas a largura das abas externas para
uma mesma geometria, elaboramos uma
planilha Excel que está automatizada,
para “avisar” se a cisterna quiser “subir”.
A entrada de dados está liberada apenas
para as células em amarelo na planilha.
Os Anexos 01 e 02 citados acima, bem
como a planilha Excel automatizada ela-
borada para os cálculos demonstrativos,
poderão ser encontrados no endereço
WEB abaixo:
.
com.br
FIG. 1 – CISTERNA ENTERRADA, PROJETADA COM ABAS EXTERNAS