REVISTA ESTRUTURA
| ABRIL • 2017
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mas parece consenso que é importante
colocar a exigência em fundações diretas
ou rasas no mesmo nível das estacas.
Um importante ponto de discussão foi
o dimensionamento das fundações pelo
método de valores admissíveis e de valo-
res de cálculo. Enquanto que o primeiro
é o tradicional, larga e amplamente utili-
zado, e que aplica um fator de segurança
global à carga de ruptura, o segundo tra-
ta de estados limites que aplica fatores
de segurança parciais e é o utilizado nas
normas de estruturas.
Acredito que devemos migrar para o cál-
culo por valores, visto que o problema
das fundações é antes de recalque do
que de ruptura. Independente do enten-
dimento do problema, não se dispõe de
uma ferramenta consistente, poderosa e
de domínio, como se tem na área de es-
truturas, para que se possa levar adian-
te a utilização do método de valores de
cálculo. A elaboração de um projeto to-
talmente integrado de infra e superes-
trutura ainda é complexa, segundo nos-
so entendimento. É algo que exigirá mais
tempo para a área de fundações. Em
2010, pensou-se em deixar duas alter-
nativas de dimensionamento para que a
migração ocorresse gradativamente, até
que se consagrasse o método de valores
de cálculo, entrando o método tradicio-
nal em valores admissíveis em desuso.
Há também a forma como se recebem
os esforços dos projetistas de estrutu-
ras. Alguns apresentam extensas com-
binações de cargas em estados limites
últimos, outros apresentam esforços
característicos totais na fundação, e ain-
da outros que apresentam as cargas em
seus valores característicos, separadas
em permanente, acidental, vento, etc. E
não falamos em efeitos de 2ª ordem que
vem se ouvindo regularmente em artigos
e seminários. Em recentes reuniões en-
tre a ABECE e a comunidade geotécnica,
representada pela ABMS e ABEG, ficou
combinada uma apresentação única dos
esforços, mas que não vem sendo segui-
da por todos os projetistas.
Parece que os seis anos decorridos da
publicação não foram suficientes para a
consagração de um método sobre o ou-
tro, ensejando mais tempo em vigor das
duas possibilidades, até que no futuro
possa caminhar juntos: estrutura e fun-
dações. Existe também uma diferença
entre definições que ocorreu pela não
participação de projetistas estruturais
na elaboração da norma anterior. Hoje
contamos com apoio por enquanto não
presencial, de projetistas ajudando na
discussão.
NORMAS TÉCNICAS
| NBR 6122
Além do início dos trabalhos de revi-
são da ABNT NBR 6122:2010 – Projeto
e Execução de Fundações, analisado
no artigo, existem outras normas em
diferentes fases de revisão, seguindo
a estratégia da ABNT – Associação Bra-
sileira de Normas Técnicas e também
das entidades setoriais de dotar a en-
genharia brasileira dos mais rigorosos
instrumentos técnicos necessários
para a atividade construtiva. Nesse
sentido, vale lembrar que foi concluída
a revisão da ABNT NBR 9062 – Projeto
e Execução de Estruturas de Concreto
Pré-moldado e está na etapa inicial a
revisão da ABNT NBR 6123:88 – Forças
Devidas ao Vento em Edificações.
No caso da 9062, a revisão teve início no
final de 2012, com a formação de uma
Comissão de Estudos, no âmbito do Co-
mitê Brasileiro da Construção Civil da
ABNT (ABNT/BR-02), que foi coordenada
pelo engenheiro Carlos Melo e contou
com a participação de 79 profissionais,
entre engenheiros, projetistas, empre-
sários da indústria de pré-fabricado de
concreto, integrantes da universidade e
representantes de entidades setoriais.
Durante os três anos e meio de traba-
lho, até a aprovação final da revisão, em
setembro do ano passado, foram reali-
zadas 25 reuniões para tratar da revi-
são e mais duas reuniões para a análise
dos votos recebidos. O texto do projeto
apresenta um conteúdo abrangente,
englobando aspectos de projeto, pro-
dução e montagem. São 86 páginas
– mais do que o dobro da revisão de
2006, que teve 42 páginas –, estrutura-
das em doze capítulos.
Para Melo, um dos pontos centrais da
revisão foi a definição do conceito da
rigidez secante das ligações para a per-
feita estabilidade global da estrutura.
Ele salienta que a definição do fator
de restrição da ligação viga-pilar, que
determina os coeficientes de mola e
de rotação da viga em relação ao pilar,
foi o ponto mais importante da revisão,
pois com isso é possível melhorar a
modelagem espacial que calcula o edi-
fício como um todo. A partir de agora,
o projetista passa a ter parâmetros e
também valores que podem ser utili-
zados para o cálculo das ligações, pois
há um critério normalizado. No caso da
ligação semirrígida, na opinião do coor-
denador, a norma brasileira represen-
ta um avanço inclusive em relação ao
existente em outros países.
A questão da segurança foi outro fa-
tor que esteve em pauta na revisão
da ABNT NBR 9062, por esse motivo
um dos temas incluídos foi a definição
sobre a montagem de um plano de
Rigging. Foi inserido ainda um assunto
que não havia sido abordado nas ver-
sões anteriores da Norma: a avaliação
de conformidade do projeto. A ideia,
segundo Melo, foi estabelecer os parâ-
metros para facilitar a avaliação do ATP.
Para itens mais específicos da norma
foram criados grupos de trabalho. Em
relação a questões ligadas à estabilida-
de, por exemplo, o grupo foi liderado
pelo professor Marcelo Ferreira, do NE-
TPre da UFSCar. Já a parte de ligações
de pilar com fundação por meio de cá-
lice coube a um grupo conduzido pelo
professor Mounir Khalil El Debs, do De-
partamento de Engenharia de Estrutu-
ras, da USP de São Carlos.
A norma avançou significativamente
também na questão de resistência ao
fogo. A proposta foi apresentada pelo
professor Fernando Stucchi, da Escola
Politécnica da Universidade de São Pau-
lo (Poli-USP), que conduziu uma avalia-
ção baseada nos Eurocodigos, Normas
Europeias Específicas. Além de debater
o tema com especialistas no âmbito da
fib
(International Federation of Structu-
ral Concrete), Stucchi promoveu uma va-
lidação dos critérios propostos junto ao
coordenador da ABNT NBR 15200, o pro-
fessor Valdir Pignatta e Silva, da Poli/USP.
PERMANENTE REVISÃO DAS NORMAS APERFEIÇOA A ENGENHARIA