Para estruturas em pórtico plano simétri-
co de 2 ou 3 pilares a solução do método
era conhecida, e conduzia a uma equação
diferencial completa de 2ª ordem com
coeficientes constantes. Para o caso em
questão (estrutura tridimensional for-
mada por 4 pórticos simétricos) a solu-
ção levou a um sistema de 4 equações
diferenciais de 2ª ordem a 4 incógnitas
que, resolvido, resultou numa equação
diferencial de 4ª ordem, completa, com
coeficientes constantes. A solução dessa
equação permitiu determinar os esfor-
ços internos (momentos fletores, forças
normais, forças cortantes) em todos os
elementos da estrutura, bem como os
deslocamentos de seus nós. Este
estudo constituiu minha tese de
doutorado, defendida na Esco-
la Politécnica em 1967, tese cujo
exemplo numérico foi justamen-
te a estrutura do San Siro. Na
tese, apresentou-se um progra-
ma em FORTRAN IV, e o exemplo
foi rodado no computador digi-
tal IBM-1620 da Poli. Através do
comportamento tridimensional
da estrutura, verificou-se que, no
caso do San Siro, 40% das forças
normais nos pilares das fachadas
menores migraram para os pilares
das fachadas maiores, tornando
assim muito mais eficiente o siste-
ma estrutural, se comparado com
o que teríamos considerando ape-
nas os pórticos menores. Também
os deslocamentos resultaram
aceitáveis, com o que a superes-
trutura ficou viabilizada e o pri-
meiro desafio posto ao engenhei-
ro de estruturas foi solucionado.
Faltava ainda transmitir ao solo os gran-
des esforços verticais resultantes da com-
binação das cargas gravitacionais com as
cargas de vento. Em função das caracterís-
ticas do solo, a CONSULTRIX (Eng. Sigmun-
do Golombek), responsável pela concep-
ção e execução das fundações, projetou
duas filas de 7 tubulões a céu aberto, com
diâmetro de base Ø
b
= 3,80m e diâmetro
do fuste Ø
f
= 1,30m. A distância entre as
duas filas de tubulões é de apenas 5,55m,
valor muito pequeno para um edifício de
94m acima das fundações (~ 1:17). As car-
gas verticais (G ± V
t
) precisavam ser uni-
formizadas, de modo a resultarem cargas
iguais nos tubulões. Para tanto, criou-se
uma grande estrutu-
ra de transição com
11,35m de altura,
formada por duas
vigas-paredes
de
26,06m de compri-
mento sobre o apoio
elástico constituído
pelos balanços das
7 vigas-alavanca que
interligam os tubu-
lões; e mais dois
pórticos, perpendi-
culares às paredes,
também com altura
de 11,35m e com 9,35m de comprimento,
formando uma caixa rígida fechada. Foi
assim solucionado o desafio ao engenhei-
ro de fundações.
As vigas-parede longitudinais têm 25cm
de espessura, e os pórticos menores
36cm de espessura. Em função dos
elevados esforços solicitantes esses
elementos estruturais resultaram forte-
mente armados em diversas camadas,
com armaduras de comprimentos mui-
to superiores aos 11m disponíveis. O
desafio ao engenheiro construtor foi a
montagem dessas armaduras, que pre-
cisaram ser soldadas de topo, “in loco”,
com a forma aberta, seguida pelo lança-
mento do concreto em camadas.
Foi utilizado concreto com f
ck
=
28MPa, o máximo que se conse-
guia na época.
Excetuando-se a análise dos es-
forços solicitantes e deslocamen-
tos dos pórticos da superestru-
tura, efetuados como vimos por
meio de computador digital, to-
dos os demais cálculos e dimen-
sionamentos foram efetuados
com régua de cálculo mais calcu-
ladora elétrica.
Em 1973 o Council on Tall Buil-
dings and Urban Habitat in-
formou-me oficialmente que o
Edifício San Siro era a mais alta
garagem do mundo. Ainda é. Em
1983 foi publicado pelo mes-
mo Council, em sua monogra-
fia “Planning and Design of Tall
Buildings”, capítulo “Parking”, um
longo artigo dedicado à Garagem
San Siro. A garagem continua em
pleno funcionamento até hoje.
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