Revista Estrutura - edição 3 - page 51

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Outra questão bastante abordada em
relação à execução de fundações foi à
segurança em tubulões a céu aberto.
As normas de segurança do Ministério
do Trabalho, em especial as NR’s 18, 33
e 35 que tratam dos equipamentos de
segurança (EPI’s), do trabalho em altura
e em espaço confinado, devem ser ri-
gorosamente cumpridas para se evitar
acidentes.
A estaca trado vazado segmentado, co-
nhecida como “hollow-auger”, foi ajus-
tada para parâmetros mais atualizados,
bem como foi introduzida a estaca héli-
ce-contínua com trado segmentado que
não fazia parte da edição de 2010. Esta
estaca vem sendo largamente utilizada,
em especial em obras de pequeno por-
te dada a limitação do equipamento em
profundidade, diâmetro e torque. Foi
amplamente discutido o comprimento
mínimo para o qual se possa considerar
uma fundação profunda em estacas. A
profundidade crítica foi estabelecida em
L ≥ oito ɸ e no mínimo 3 m, levando-se
em conta vários critérios técnicos.
Outro assunto debatido, mas ainda não
levado adiante é a necessidade de uma
especificação mais rigorosa para o con-
creto utilizado em obras de fundações.
Além da especificação mais rigorosa, o
controle em obra deve abranger um nú-
mero maior de ensaios, incluindo teor de
exsudação, “slump-flow”, caixa L, ao lado
do fck e do “slump–test”.
Uma discussão significativa ocorreu quan-
do se falava de atrito negativo. Na norma
de 1996 o atrito negativo era considerado
da seguinte forma, com fator de seguran-
ça global:
P
adm
= [(P
p
+ P
l
) – 1,5 P
an
] / FS
g
que foi substituido na revisão de 2010
por
P
adm
= [(P
p
+ P
l
) / FS
g
] – P
an
Onde:
P
adm
é a carga admissível
P
p
é a parcela correspondente à resis-
tência de ponta na ruptura
P
l
é a parcela correspondente à resis-
tência por atrito lateral positivo, na
ruptura
P
an
é a parcela correspondente ao atrito
lateral negativo na ruptura. O pon-
to onde ocorre a mudança de atrito
negativo para positivo é chamado de
ponto neutro.
A discussão se deu em função do atrito
negativo ser antes um problema de recal-
que do que um problema de capacidade
de carga de estacas, que não justificaria a
redução da carga admissível na atual nor-
ma. Foi mantido o texto atual.
Desde a vigência da norma de 2010, a es-
pecificação do concreto para fundações é
motivo de controvérsia. Atualmente vários
especialistas em concreto veem partici-
pando ativamente nas reuniões da norma.
É consenso que haverá mudanças signifi-
cativas na atual especificação.
Das principais alterações pretendidas,
uma delas é a especificação de acordo
com as normas vigentes de concreto,
porém sem dar conotação técnica a um
concreto magro, por exemplo, que po-
deria ser C10 ou C15, mas que esbarra
em prazo, problema imperioso em obra.
Onde se concentram o maior número de
problemas e é de sobremaneira impor-
tante o concreto, são nas paredes-dia-
fragma, estacas-barrete, estacas esca-
vadas com fluido estabilizante e estacas
hélice-contínua.
A atual especificação apesar de ter solu-
cionado várias ocorrências de obra, com
o passar do tempo ficou obsoleta ou,
dizendo de outra maneira, nem todos
os fornecedores de concreto usinado
participavam das associações que indi-
cavam as características necessárias ao
concreto para as estacas mencionadas.
Para tais estacas necessita-se muito mais
um concreto com trabalhabilidade ade-
quada, com baixa segregação, auto-a-
densável, alto consumo de finos, e muito
mais. A resistência à compressão simples
é consequência de toda a necessidade
de se ter concreto com os parâmetros
necessários e lança-lo dentro de um flui-
do estabilizante e abaixo do nível d´água
e alturas de até 60m! Também na Euro-
pa e EUA existe idêntica preocupação.
Recentemente, em 2014 no 11th EFFC/
DFI de Estocolmo, o engenheiro Karsten
Beckhaus, “chairman of the Concrete
Task Group for Deep Foundation of DFI/
EFFC” publicou o interessante artigo: “Are
specifications for deep foundation con-
crete up-to-date?”
Pretende-se alterar a especificação prin-
cipalmente no que se refere aos controles
de recebimento da mistura no canteiro.
Recentemente em resposta à pergunta
da ABEF sobre quais as características do
concreto para as fundações profundas, o
Ibracon sugeriu:
Fck ≥ 20MPa (ABNT NBR 5738, NBR
5739 e NBR 12655);
Concreto autoadensável, com classifica-
ção SF2 na ABNT NBR 15823 e 600mm ≤
Espalhamento (slump flow) ≤750mm;
Segregação estática, classificação SR2 na
ABNT NBR 15823 e coluna ≤ 15%;
Concreto autoadensável, classificação
PL2 na ABNT NBR 15823 – Caixa L ≥ 0,80
Exsudação total de água ≤ 2% (ABNT NM
102 – Concreto Fresco. Determinação da
exsudação de água. Método de Ensaio)
Para que se obtenha concreto com me-
lhor desempenho, o caminho passa pelo
melhor controle do recebimento do ma-
terial especificando-se aquilo que se
pode controlar, pois não há possibilidade
de controle do consumo de cimento ou
do fator água/cimento do concreto fresco
ou endurecido.
Por fim e resumindo muito, esses são al-
guns tópicos importantes que foram ou
serão discutidos durante o andamento
dos trabalhos da comissão de revisão
da ABNT NBR 6122/2010. Deve-se sa-
lientar o enorme interesse que a revisão
vem despertando na engenharia com
a expressiva participação de um grupo
de aproximadamente 40 engenheiros,
entre geotécnicos – projetistas, executo-
res, consultores e acadêmicos –, tecno-
logistas de concreto e projetistas de es-
truturas de vários estados do Brasil que
vem contribuindo de maneira sensata,
propositiva, ponderada, compreensiva
e principalmente com espírito e mente
aberta para contribuir com o bom anda-
mento da revisão.
A REVISÃO DA NORMA
VEM DESPERTANDO
ENORME INTERESSE
NA ENGENHARIA BRASILEIRA,
UMA VEZ QUE HÁ A
EXPRESSIVA PARTICIPAÇÃO
DE APROXIMADAMENTE
40 ENGENHEIROS,
DE VÁRIAS PARTES
DO PAÍS, QUE ESTÃO
CONTRIBUINDO PARA SEU
BOM ANDAMENTO
1...,41,42,43,44,45,46,47,48,49,50 52,53,54,55,56,57,58,59,60,61,...80
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