Revista Estrutura - edição 2 - page 53

53
o Structural Engineer, o exame dura dois
dias e só pode ser feito após dois anos de
prática comprovada em escritório de es-
truturas. Os americanos levam tão a sé-
rio a questão da capacitação continuada
e com comprovação que existem dois or-
ganismos cuidando do tema: o National
Council of Examiners for Engineering and
Surveying (NCEES) e o National Council of
Structural Engineers Associations (NC-
SEA). O primeiro é o encarregado de criar
a metodologia dos exames para avaliar a
competência dos engenheiros.
COMPROVAÇÃO DA BOA
FORMAÇÃO
Entendo que esse deve ser um caminho a
ser perseguido também pela engenharia
brasileira. Nesse sentido, necessitamos ter
uma comprovação de que o engenheiro
teve uma boa formação, assim como su-
cessivas especializações para o exercício
da profissão. Temos de acabar com a práti-
ca, que ainda ocorre no país, de engenheiro
recém-formado que assina projeto de edi-
fícios de 40 andares. A adoção de um pro-
grama que inclua maior rigor na educação
continuada, além de auditagem e fiscaliza-
ção, funcionará como uma maior proteção
para toda a sociedade, pois reduziríamos
os riscos de colapsos, que tem ocorrido
com inquietante frequência no país.
Nosso esforço de capacitação precisa ser
algo semelhante à ação de outras catego-
rias, como a dos advogados, que também
se submetem a exames periódicos para
comprovar competência, ou a dos médi-
cos. Como pontuou um recente trabalho
da NCSEA:
UMA COISA QUE MÉDICOS E
ENGENHEIROS DE ESTRUTURAS
TÊM EM COMUM É QUE AMBOS
SALVAM VIDAS. NO ENTANTO,
OS MÉDICOS NORMALMENTE
LIDAM COM PROBLEMAS JÁ
EXISTENTES, ENQUANTO OS
ENGENHEIROS DEVEM EVITAR
QUE PROBLEMAS SEQUER
ACONTEÇAM. ALÉM DISSO, O
ERRO DE UM MÉDICO PODE
CAUSAR FERIMENTOS OU A
MORTE DE UMA PESSOA, JÁ O
ERRO DE UM ENGENHEIRO DE
ESTRUTURAS PODE LEVAR A
UMA TRAGÉDIA AINDA MAIOR
Nos Estados Unidos, para se ter um
profissional melhor capacitado até os
órgãos encarregados da elaboração
de normas técnicas e regulamentado-
ras da construção civil desempenham
papel decisivo no aprimoramento dos
engenheiros. É o caso do American
Concrete Institute (ACI), o equivalen-
te ao IBRACON - Instituto Brasileiro
do Concreto. O ACI forma, juntamente
com outras entidades, uma verdadeira
miríade de órgãos que, além de contri-
buir para a redação de normas técni-
cas e regulamentadoras da atividade
de engenharia e construção, também
consolida práticas recomendáveis para
o aprimoramento continuado dos pro-
fissionais.
COMPROVAÇÃO
DE QUE O PROJETO
FOI BEM
ELABORADO
Um segundo nível de comprovação,
para conferir se o projeto estrutural
foi bem elaborado e atende as normas
técnicas brasileiras, vem com a prática
do uso da Avaliação Técnica de Projeto
(ATP), conceito para o qual o mercado
brasileiro vem se conscientizando. O
tema é objeto de amplo debate e refle-
xão na ABECE e muitos profissionais já
perceberam que podem ficar fora do
mercado caso não se atualizem nes-
se aspecto. No caso da ATP também
há práticas internacionais que podem
servir de referência. Em uma região da
Alemanha, por exemplo, há um instituto
de verificação de projeto no qual o pro-
fissional tem de fazer um exame para
se tornar um verificador. A principal
justificativa para a verificação é o que
os alemães denominam “Vier-Augen
Prinzip”, ou Princípio dos Quatro Olhos,
segundo o qual, se o projeto for anali-
sado por duas pessoas, o projetista e
o engenheiro de verificação, as chances
de erro são menores.
O ideal é que a verificação do projeto es-
trutural seja feita desde o início da obra,
pois os profissionais vão interagindo e
ajustando as ações. Uma vantagem adi-
cional do trabalho do verificador é que,
quando ele atua por muito tempo, acu-
mula um conhecimento que pode ser
bastante útil para uma visão crítica dos
projetos futuros.
1...,43,44,45,46,47,48,49,50,51,52 54,55,56,57,58,59,60,61,62,63,...84
Powered by FlippingBook