Revista Estrutura - edição 4 - page 57

ABECE – Como analisa a exigência
para que os arquitetos projetem pen-
sando na segurança contra incêndio?
Indio da Costa –
Acho esta exigência
importante e lastimo que não exista esta
disciplina nas faculdades.
ABECE – Como vê a chegada do BIM
nos projetos de engenharia?
Indio da Costa –
Com grande alegria, pois
é um instrumento que nos auxilia enorme-
mente e nos possibilita projetos de melhor
qualidade, com antevisão de espaços mais
clara e com detalhes mais bem desenvolvi-
dos. Além disso, o Revit, que faz parte do
sistema Bim, facilita o diálogo com os lei-
gos, por conta da visão em 3D.
ABECE – Como é sua implementação
num escritório de arquitetura?
Indio da Costa –
Cada vez maior. É um
caminho sem volta e em constante evo-
lução. A nova ferramenta ainda não está
completamente popularizada entre os ar-
quitetos, mas cada vez mais os escritórios
estão conscientes da sua importância.
ABECE – Qual sua análise sobre o ní-
vel de competência dos jovens arqui-
tetos recém-formados que chegam
hoje ao mercado de trabalho?
Indio da Costa –
Não acho que as fa-
culdades estejam funcionando como
deveriam, entretanto, os jovens que
são antenados, tem hoje uma enorme
vantagem sobre os recém-formados da
minha geração, pois tem a internet e um
instrumental muito maior à sua dispo-
sição, para saber e acompanhar tudo
o que está acontecendo no mundo da
arquitetura.
ABECE – Qual sua orientação a jovens
estudantes que estejam pensando
em cursar arquitetura?
Indio da Costa –
O mais importante, na
minha opinião é que os jovens se apaixo-
nem pela profissão. Não há bom profis-
sional, em qualquer área, que consiga um
bom resultado, sem muita paixão e esfor-
ço. Além disso, acho que para uma boa ar-
quitetura, é muito importante uma visão
mais ampla e renascentista do mundo,
onde o contexto social, cultural e artístico,
se mostre presente na obra arquitetônica.
ABECE – Considerando que sem es-
trutura não existe forma possível,
concorda que, em última análise, é o
arquiteto quem concebe a estrutura?
Nesse sentido, como situa sua produ-
ção arquitetônica em relação a inte-
ração forma-estrutura?
Indio da Costa –
Na maior parte do meu
trabalho, a estrutura nasce com o proje-
to arquitetônico, mas o trabalho em con-
junto com o Engenheiro de estruturas, é
fundamental em todo o processo. Isso
serve também, para as relações entre as
demais áreas que se complementam no
todo de uma obra arquitetônica, desde
a criação até a realização. Há projetos,
entretanto, em que a estrutura não de-
fine a forma, mas ao contrário, a forma
termina definindo a estrutura. Com o au-
xílio dos Engenheiros de estruturas, que
são parceiros importantes, nos meus
projetos, consigo conciliar a leveza das
minhas criações com estruturas sólidas
fundamentais em qualquer obra.
ABECE – Qual sua visão crítica da
precedência da estrutura sob a for-
ma na criação arquitetônica, como
no exemplo do Museu de Arte Mo-
derna do Rio?
Indio da Costa –
Quando o resultado
final tem valor considerável, acredito
que são apenas métodos diferentes de
se trabalhar, mas não necessariamente
vejo como algo ruim. Cada profissional
tem a sua linguagem e estas diferenças
não criam escalas diferenciadas de valor,
mas enriquecem a profissão, com maior
diversidade.
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se juntou a ele. Para o arquiteto, a leveza
presente nos seus projetos só é possível
“graças ao auxílio dos calculistas, que são
parceiros importantes”. Na entrevista a
seguir, Indio da Costa fala mais sobre sua
vida e carreira:
ABECE – Quando e em que circunstân-
cia optou pela arquitetura? 
Indio da Costa –
A escolha foi um pouco
por intuição e também por exclusão. Eu
sabia que lidar com arte era uma voca-
ção natural e não me sentia atraído pelas
profissões convencionais que existiam
nos anos 60: medicina, engenharia, direi-
to e semelhantes.
ABECE – Quando decidiu que iria agre-
gar urbanismo e design à sua ativida-
de de arquiteto?
Indio da Costa –
Urbanismo sempre fez
parte do meu trabalho. Iniciei minha tra-
jetória profissional estagiando no escri-
tório Saturnino de Brito, uma referência
em urbanismo e essa bagagem eu trago
até hoje para meus projetos. O design,
só realmente entrou no nosso escritório,
quando o meu filho, Guto, designer de
produto, veio agregar esta área ao nosso
trabalho. Aprendi a ver a arquitetura e o
urbanismo do ponto de vista coletivo e a
me preocupar mais com a inserção corre-
ta do objeto arquitetônico, na paisagem.
ABECE – Qual a importância de uma
atuação harmônica entre arquitetos
e engenheiros para o bom andamen-
to de uma obra?
Indio da Costa –
É uma parceria impor-
tante e complementar, pois todo projeto
depende de uma correta execução e o
engenheiro, agrega conhecimento tecno-
lógico específico e prática construtiva.
ABECE – Qual sua avaliação sobre o
atual estágio da arquitetura brasilei-
ra em comparação com a de outros
países?
Indio da Costa –
Estamos atrasados em
relação a outros países ditos do primei-
ro mundo, sobretudo em temos de tec-
nologia. Não me parece que falte cria-
tividade aos arquitetos brasileiros, mas
sim, uma engenharia avançada e opor-
tunidade para projetos mais ousados e
vanguardistas. Nosso maior desafio é
não perder, mas reforçar nossa identi-
dade cultural, num mundo globalizado,
onde as influências externas têm de ser
filtradas para a nossa realidade sócio
econômica e cultural.
Em todo projeto,
o engenheiro
agrega
conhecimento
tecnológico
específico
além de prática
construtiva
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