Revista Estrutura - edição 5 - page 62

REVISTA ESTRUTURA
| ABRIL • 2018
62
BOAS PRÁTICAS CONSTRUTIVAS
| DESEMPENHO APLICADO ÀS ESTRUTURAS
Sabbatini (1989), como o modo
de enfocar e conduzir a resolução
de um problema com a visão do
conjunto (visão holística), ou seja,
no nosso caso, é contextualizar a
estrutura levando em considera-
ção o seu papel no edifício.
Para cada parte do edifício são
considerados os requisitos do
usuário, conforme expressos na
tabela 1. Como a parte 1 já abor-
da o invólucro como um todo
(15575-1 - ABNT, 2013), a parte
3 os requisitos para as vedações
horizontais internas (15575-3 -
ABNT, 2013) e a parte 4 as veda-
ções verticais internas e externas
(15575-4 – ABNT, 2013), na parte
2, específica para estruturas, os
requisitos aplicáveis são: segu-
rança estrutural, durabilidade e
manutenibilidade.
É nesse aspecto que o con-
sultor estrutural deve abordar a
parte o edifício sistemicamente.
Por exemplo, na Parte 3: Requi-
sitos para os sistemas de pisos
(15575-3 – ABNT, 2013), caso o
projeto da edificação leve em
conta que a vedação horizon-
tal seja apenas a laje acabada
2
(figura 1), solução comum em edifícios
econômicos, ela será responsável pela
estrutura propriamente dita e também
pela vedação.
Nesse caso, os requisitos de acústica e
estanqueidade, por exemplo, são aplica-
dos diretamente para laje, pois ela está
fazendo a função da vedação horizontal.
Da mesma forma, uma parede de concre-
to que tem função estrutural, projetada
apenas com pintura como acabamento,
irá assumir a função de vedação vertical.
A norma de desempenho além de im-
pulsionar a adoção de novas tecnologias e
processos construtivos, induz a discussão
da interface de todas as partes do edifício
e dessas partes com os elementos e com-
ponentes, pois os requisitos são aplicados
2 Conforme classificação proposta por Souza
(2002), as lajes acabadas são lajes de con-
creto armado racionalizadas que oferecem
um substrato com adequada rugosidade
superficial, planeza e nivelamento ou decli-
vidade, necessários à fixação ou assenta-
mento da camada final de piso, dispensando
a camada de contrapiso. Ao longo dos anos
elas foram conhecidas no mercado como
“laje zero”, denominação errônea, visto que
apresenta tolerâncias em sua execução.
para vedação como um todo (estrutura de
concreto, alvenaria, revestimentos, jane-
las e portas, conforme o caso).
A viabilidade do projeto e as soluções
técnicas devem ser discutidas de forma
sistêmica na fase de concepção de proje-
to, visando o atendimento do desempe-
nho das diversas partes do edifício. Essa
abordagem contribui tanto para o aper-
feiçoamento dos profissionais envolvidos,
quanto para os padrões mínimos de quali-
dade da habitação.
Em relação às novas tecnologias, a nor-
ma estabelece requisitos, critérios e mé-
todos de avaliação que permitem a devida
avaliação para introdução de novos pro-
cessos construtivos commaior segurança.
Em nosso país não se tem a cultura de
investimento em desenvolvimento tecno-
lógico na construção civil, por isso muitas
tecnologias importadas que tem sucesso
no exterior, fracassaram em diversas ten-
tativas por aqui.
A norma de desempenho é uma ferra-
menta criteriosa para aplicação de novas
tecnologias, mas não assegura por si só
o sucesso da implantação. Ela deve estar
integrada a uma metodologia
de desenvolvimento e implanta-
ção de inovação tecnológica que
envolva, no mínimo, um estudo
técnico, um estudo experimen-
tal, a avaliação de protótipo, bem
como a avaliação em obra piloto.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NOR-
MAS TÉCNICAS (ABNT).
NBR 15575-
1
: Edificações Habitacionais – De-
sempenho Parte 1: Requisitos gerais.
Rio de Janeiro, 2013.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NOR-
MAS TÉCNICAS (ABNT).
NBR 15575-
2
: Edificações Habitacionais – Desem-
penho Parte 2: Requisitos para os
sistemas estruturais. Rio de Janeiro,
2013.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NOR-
MAS TÉCNICAS (ABNT).
NBR 15575-3
:
Edificações Habitacionais – Desempe-
nho Parte 3: Requisitos para os siste-
mas de pisos. Rio de Janeiro, 2013.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NOR-
MAS TÉCNICAS (ABNT).
NBR 15575-
4
: Edificações Habitacionais – De-
sempenho Parte 4: Requisitos para
os sistemas de vedações verticais internas e
externas – SVVIE. Rio de Janeiro, 2013.
BORGES, C.A.M.
O conceito de desempenho
em edificações e sua importância para o
setor da construção civil no Brasil.
2008.
263p. Dissertação (Mestrado) – Escola Politéc-
nica da Universidade de São Paulo, 2008.
SABBATINI, F.H.
Desenvolvimento de méto-
dos, processos e sistemas construtivos:
formulação e aplicação de uma metodo-
logia
. 1989. 336p. Tese (Doutorado) - Escola
Politécnica, Universidade de São Paulo. São
Paulo, 1989.
SOUZA, A.L.R.; MELHADO, S.B.
Projeto e exe-
cução de lajes racionalizadas de concreto
armado
. 1ª edição. São Paulo: O Nome da
Rosa, 2002. 116p. (Coleção Primeiros passos
da qualidade no canteiro de obras).
SOUZA, R.
O conceito de desempenho apli-
cado às edificações
. São Paulo, 2015 – tex-
to extraído de SOUZA, R. A contribuição do
conceito e desempenho para a avaliação do
edifício e suas partes: aplicação às janelas e
uso habitacional. 1983. 181p. Dissertação
(Mestrado) - Escola Politécnica, Universidade
de São Paulo. São Paulo, 1983. Disponível em:
.
TABELA 1 – REQUISITOS DO USUÁRIO (15575-1 - ABNT, 2013)
REQUISITOS DO USUÁRIO
SEGURANÇA
Segurança estrutural
Segurança contra o fogo
Segurança no uso e na operação
HABITABILIDADE
Estanqueidade
Desempenho térmico
Desempenho acústico
Desempenho lumínico
Saúde, higiene e qualidade do ar
Funcionalidade e acessibilidade
Conforto tátil e antropodinâmico
SUSTENTABILIDADE
Durabilidade
Manutenibilidade
Impacto ambiental
FIG. 1 – EXEMPLOS GENÉRICOS DE SISTEMA DE PISO
(ADAPTADO DE 15575-3 – ABNT, 2013)
1...,52,53,54,55,56,57,58,59,60,61 63,64,65,66,67,68
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