Revista Estrutura - edição 1 - page 53

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ovas tecnologias, novos softwa-
res e modelos de cálculo cada
vez mais completos e complexos
permitem estruturas mais elabo-
radas, mais precisas e mais controladas.
É inegável que as edificações que estão
sendo hoje projetadas possuem um grau
de complexidade e dificuldades muito
maiores do que as edificações projetadas
há 20 ou 30 anos. Mudaram os vãos,
mudou a tipologia, mudaram os materiais,
as dimensões, principalmente a altura,
cresceram. Valores de fck de 50 Mpa eram
difíceis de serem especificados.
A Engenharia Estrutural vem avançando
sistematicamente no sentido de oferecer
novas e otimizadas soluções para os em-
preendedores viabilizarem empreendi-
mentos no difícil mercado da Construção
Civil no Brasil.
Todas estas tecnologias, no entanto, não
são suficientes para garantir a qualidade
de todo o processo de desenvolvimen-
to do projeto estrutural. A complexida-
de envolvida, os prazos muito exíguos e,
principalmente, o fator humano que é o
responsável por comandar cada etapa do
projeto, resultam em riscos por desvios
no processo.
Exemplificando, o concreto armado é um
material em constante evolução e que ain-
da possui muitos pontos a serem esclare-
cidos tanto do ponto de vista de projeto
como do ponto de vista de execução. A
comunidade internacional de Engenharia
Estrutural ainda se debate com modelos
de cálculo para blocos de fundação entre
outros temas, com diversas teorias e pes-
quisas sendo desenvolvidas para a devida
compreensão e avanço do conhecimento
técnico. O comportamento da edificação,
quando projetado no estado limite último,
com elementos fissurados, somente pode
ser equacionado com base em tratamen-
tos probabilísticos. As famosas marquises,
comuns a muitos edifícios, ainda tendem
a ruir sem prévio aviso após determinado
período de vida útil, se não bem projeta-
das e inspecionadas frequentemente.
Desvios no processo que podem gerar
soluções e detalhamentos incorretos que,
por sua vez, resultam em manifestações
patológicas e, no limite, em colapsos.
Os coeficientes de segurança do proje-
to existem para garantir que as incerte-
zas e variabilidades de materiais, carrega-
mentos e modelos matemáticos sejam
minimizadas, mas podem não ser sufi-
cientes para cobrir erros no desenvolvi-
mento do projeto. Outro ponto importan-
te que está sempre presente na mente do
projetista estrutural é a questão da elabo-
ração de um projeto estrutural otimizado,
com o consumo mínimo necessário de
materiais. Essa busca por viabilidade do
empreendimento aproxima a estrutura
do limite e pode, num erro de avaliação,
conduzir a situações onde os coeficientes
de segurança fiquem comprometidos.
Temos tidos alguns casos de insucessos,
seja nos colapsos de edifícios e obras de
infra-estruturas, seja em problemas com
conforto e deformação na situação de
serviço, o que indica que o processo de
desenvolvimento do projeto estrutural
requer uma revisão.
Casos como o que ocorreu recentemente
em um viaduto na cidade de Belo Horizon-
te precisam ser evitados. Exemplos tam-
bém como o da ruína de um edifício de
28 pisos, ainda em fase de construção, na
cidade de Belém, não configuram como
uma prática adequada da engenharia
estrutural. Marquises que desabam em
diversas cidades do nosso país também
indicam a necessidade da mudança de
postura de nossa engenharia.
Obras de grande porte, desde a ABNT
NBR 6118:2003, são objetos de preocu-
pação com relação às consequências de
erros humanos no processo de desen-
volvimento do projeto. Por este motivo, a
comissão da norma já definia que estes
projetos deveriam ter um Controle de
Qualidade do Projeto, como forma de ga-
rantir que o projeto desenvolvido, ao ser
verificado por outro profissional, estives-
se em conformidade com a norma.
No processo de revisão da ABNT NBR
6118:2014, após muitas discussões sobre
o que seriam obras de grande porte, se
decidiu ampliar o conceito de controle
de qualidade do projeto, para todas as
obras. Afinal uma edificação de 2 pavi-
mentos com balanços de 8m, por exem-
plo, pode representar um grande risco
mesmo não sendo teoricamente consi-
derada uma “obra de grande porte”.
Independente da obrigatoriedade ou não,
a ABECE, através de um comitê formado
como objetivo de trabalhar namelhoria do
processo de desenvolvimento do projeto,
concluiu que a Avaliação Técnica do Proje-
to (ATP) a ser realizada por um profissional
habilitado, segundo critérios e posturas
estabelecidos nesta recomendação, con-
tribui de forma muito eficiente para que o
projeto seja desenvolvido no sentido de se
buscar o melhor desempenho estrutural.
Seguindo procedimentos já empregados
em diversos países onde a engenharia es-
trutural está consolidada há mais tempo,
entende-se que a adoção desta prática,
já comum para diversos contratantes e
com excelentes resultados, permitirá ao
contratante projetos mais precisos e so-
luções ainda mais otimizadas, com a ga-
rantia de não se ter imprevistos durante
e depois da execução da estrutura.
Divulgação
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