Revista Estrutura - edição 3 - page 10

REVISTA ESTRUTURA
| ABRIL • 2017
10
de verificação. É um processo paralelo ao
projeto e que o segue nas diferentes eta-
pas. É um projeto que tem um alto custo,
mas que é uma garantia de investimento
muito importante.
Na Espanha existe essa supervisão para
muitas obras de infraestrutura propiciada
pelas administrações. Para evitar proble-
mas nas construções e também para ad-
vertir seus clientes sobre possíveis falhas
de projeto, as construtoras espanholas
realizam CQPs de todas as suas obras. Es-
ses trabalhos são mais conceituais, mas
muito importantes e devem ser realizados
por pessoas de muita experiência.
ABECE –
Em sua opinião, quais são os
maiores desafios da engenharia no fu-
turo?
Hugo Corres –
A formação. As novas tec-
nologias devem ser aproveitadas como
instrumento para o desenvolvimento
das ideias, mas as ideias são o motor, o
primeiro passo. Devemos estar acostu-
mados a engendrar ideias e, para isso,
a formação é importantíssima. Precisa-
mos saber mais, mais que nunca e sobre
tudo. Saber profundamente. Entender,
entender e entender. O trabalho de um
engenheiro não é calcular, é gerar ideias
a partir do conhecimento e evitar proble-
mas que nunca são solucionados com o
cálculo. Temos que ensinar/aprender a
fazer engenharia.
ABECE –
Como o senhor analisa o esta-
do atual o ensinamento da engenharia
nas faculdades europeias e também
no Brasil?
Hugo Corres –
Esse é um assunto com-
plexo. Eu também sou professor na Uni-
versidade Politécnica de Madri e me per-
gunto sempre qual é a forma de contribuir
mais para a formação das novas gera-
ções. Creio que, neste momento, exis-
te muito ruído e muita especialidade. A
universidade se debate entre investigar e
projetar. Entre publicar ou ensinar. Há um
pouco de confusão. Em minha opinião, é
difícil fazer um engenheiro na universida-
de. O compromisso da universidade deve
ser dar a ele uma boa formação; a melhor
possível. A profissão, a experiência, os
mestres, muitos ou poucos que encon-
tramos no caminho são importantes. A
profissão deve ser aprendida com a expe-
riência e com a ajuda de mestres adequa-
dos. Precisamos ser humildes para poder
aprender; temos que aprender fazendo.
É preciso trabalhar infinitamente. E para
tudo isso é imprescindível uma formação
básica boa, muito boa, de conceitos cla-
ros, e equilíbrio e a compatibilidade elás-
tica que é a formação básica. Conceitos
totalmente claros. A universidade tem um
papel que é formar-se, dotar-se e manter-
-se constantemente autocrítica. O mundo
em que vivemos muitas vezes não nos
permite pensar nesses termos. Mesmo
assim, os bons engenheiros continuam
aparecendo. Será que com mais ajuda
eles seriam mais e melhores? Ninguém
sabe e nem saberá.
ABECE –
Que orientação geral o se-
nhor pode dar aos jovens que expres-
sam o desejo de seguir a carreira de
engenharia de projetos de estruturas?
Hugo Corres –
Que é uma grande esco-
lha; que é uma profissão com a qual se
pode criar. Que é preciso estar constante-
mente aprendendo, que é preciso ter uma
grande curiosidade, e que é necessário ter
uma grande paixão para entender e con-
tribuir. É preciso saber e digerir tudo. É um
mundo apaixonante, e é uma atividade na
qual vale a pena investir uma vida.
ABECE –
Qual é a importância da siner-
gia entre projetistas de estruturas, en-
genheiros e arquitetos?
Hugo Corres –
Nós, engenheiros e ar-
quitetos temos sido as mesmas pessoas,
cronologicamente, desde quase 300
anos. Os atores da engenharia/arquitetu-
ra/arte/construção eram uma só pessoa.
Apolodoro de Damasco, o arquiteto/en-
genheiro/construtor/artista do Panteão
de Roma, a obra de engenharia estrutu-
ral que, em minha opinião, é a mais inte-
ressante da história da arte/engenharia/
arquitetura/construção, era uma única
pessoa. Era arquiteto, concebeu um tem-
plo para os deuses do céu e pensou um
óculo no centro de uma cúpula, que foi
recorde do mundo do concreto durante
quase 1800 anos, para prestar uma ho-
menagem ao sol. Era um excelente en-
genheiro estrutural porque idealizou as
formas com maestria, de acordo com as
proporções canônicas de seu tempo e
utilizou como ninguém o concreto que
podia ser produzido naquela época. Era
um construtor incrível porque estabele-
ceu um recorde. Era um artista porque
imaginou cada um dos detalhes deco-
rativos do templo porque nós nos es-
quecemos de nossas origens. Se nossa
formação agora não é tão geral porque
não sabemos nos questionar e resolver
conjuntamente nossos problemas co-
muns. É por falta de inteligência. Nós,
os arquitetos e engenheiros, temos que
colaborar de forma estreita e percorrer
juntos os problemas e as soluções dos
temas de arquitetura que são complexos
e que exigem o máximo de criatividade.
Para mim, um dos maiores prazeres foi e
continua sendo colaborar com bons ar-
quitetos. Sempre aprendi, sempre pude
desempenhar minha parte de criativida-
de e sempre senti prazer com isso.
ENTREVISTA
| HUGO CORRES PEIRETTI
É difícil fazer um engenheiro na
universidade. A profissão deve ser
aprendida com a experiência e a
ajuda de mestres
1,2,3,4,5,6,7,8,9 11,12,13,14,15,16,17,18,19,20,...80
Powered by FlippingBook