REVISTA ESTRUTURA
| ABRIL • 2017
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tudo o que era possível aprender sobre
experimentos em estruturas. Já na Poli,
passei a dar aulas de concreto armado.
Paralelamente, montei meu escritório de
projetos de estrutura.
ABECE – O senhor também se formou
em Engenharia Naval. O que o levou
para esse caminho?
FUSCO –
Em meados dos anos de 1950,
o governo decidiu criar no Brasil o pri-
meiro curso de engenharia naval. Como
faltava professor, foram chamados en-
genheiros do exterior e o responsável
pela coordenação foi o contra-almiran-
te reformado da Marinha dos Estados
Unidos, George Charles Manning. Fui
convidado para ser seu assistente, mas
pouco antes do início efetivo do curso, o
professor Manning decidiu me incumbir
de ministrar o curso, pois acreditava que
eu tinha mais conhecimento de estru-
turas. Parti então para minha segunda
graduação e, num processo estranho,
eu fui, talvez, um caso único de, por dois
semestres, ter sido ao mesmo tempo
aluno e professor de mim mesmo. No
final do semestre, eu avaliava os meus
colegas, enquanto meus exames vinham
do MIT em envelopes lacrados. Em 1960
conclui o curso e em 1965 terminava
também meu doutorado em Engenharia
Naval. Durante o período em que lecio-
nei no curso de Engenharia Naval, fui
responsável pela elaboração do projeto
de quatro navios, que, por problemas de
orçamento, não saíram do papel.
ABECE – Então o senhor voltou para a
construção civil?
FUSCO –
Sim. Voltei para o Departa-
mento de Engenharia Civil. Como eu
havia feito o doutorado, fui escolhido
para ser o chefe da disciplina. Foi muito
bom, pois isso coincidiu com uma gran-
de movimentação mundial em torno do
estudo das estruturas de concreto, na
qual eu estava muito interessado, que
era a finalização de um trabalho iniciado
após a Segunda Guerra Mundial e que
consistia na reavaliação da forma de
se conceber as estruturas de concreto
em todo o mundo. Havia sido criado um
grupo de estudo com a participação de
todos os países europeus e que contava
também com representantes de países
de outros continentes, incluindo o Bra-
sil, que era representado pelos profes-
sores Telêmaco Van Langendonck e Fer-
nando Lobo.
ABECE – Quais os fatos marcantes
dessa época?
FUSCO –
Uma das minhas realizações foi
a montagem de um laboratório de estru-
turas para o curso de Engenharia da Poli,
um antigo sonho meu. Lembro que o pro-
fessor Décio de Zagottis tinha comprado
alguns equipamentos de ensaios, que
estavam encostados num canto. Então
eu me propus a montar o laboratório. Fui
me encontrar com o governador, que na
época era o Paulo Maluf, um ex-aluno da
Poli e lhe falei da minha ideia. Ele me ofe-
receu a doação de 80 toneladas de suca-
ta de aço, que eram sobras das obras do
metrô. Com isso, mais a ajuda de algumas
empresas e também o apoio da Prefeitu-
ra da USP, consegui materializar o labo-
ratório, que está em funcionamento até
hoje no campus. Uma das empresas que
contribuiu foi a Termomecânica, de outro
ex-aluno da Poli, o empresário Salvador
Arena. Fui falar com ele, que forneceu
uma ponte rolante para a instalação dos
equipamentos de teste do futuro labora-
tório. Esse encontro com Salvador Arena
acabou gerando, um tempo depois, mais
uma atividade na área acadêmica, quan-
do fui ser responsável, na segunda me-
tade dos anos de 1990, pela criação da
Faculdade de Tecnologia Termodinâmi-
ca, uma instituição de formação técnica.
Acabei ficando dez anos lá.
ABECE – Com base em sua trajetória,
quais as principais mudanças ocorri-
das na área de projetos?
FUSCO –
No início da década de 1950
se projetava usando o regime elástico.
Quando comecei como estagiário no es-
critório do Paulo Franco Rocha, o concre-
to armado era calculado em regime elás-
tico e a resistência do concreto se admitia
como tensão de um pilar na faixa de 40
kgf por cm
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que, com a mudança do siste-
ma internacional de medição, equivalia a
4MPa. Eram valores básicos e com a evo-
lução, deixou-se de lado o regime elásti-
co e se passou a calcular pelo regime de
ruptura. Foi uma mudança da água para
o vinho.
ABECE – E em relação à forma de pro-
jetar o que mudou?
FUSCO –
Quando comecei, se fazia os
cálculos apenas com a régua de cálculo.
Depois começaram a surgir as máquinas
de calcular mecânicas. Depois vieram as
elétricas. Me recordo que, quando me
formei, fiz um trabalho que continha uma
série de tabelas. Para fazer os cálculos,
pedi emprestada do escritório onde es-
tagiava, uma máquina elétrica. Que coisa
maravilhosa! As máquinas mecânicas da
época faziam cálculos a + b, a x b e a:b. Já
com as elétricas era uma maravilha, pois
você dava os parâmetros de a, x, y e b, e
ela fazia todo o cálculo.
ABECE – E com a chegada gradual do
computador o que aconteceu?
FUSCO –
Aí mudou tudo. Inclusive o mé-
todo de calcular. Antigamente as estrutu-
ras pesadas hiperestáticas eram calcu-
ladas, principalmente, com métodos de
esforços, que exigiam uma enorme tra-
balheira. Hoje nem se usa mais os méto-
dos dos esforços. Hoje se usa o método
das deformações e dos deslocamentos,
que já era conhecido na época, mas não
era possível fazer o cálculo por falta de
tecnologia. Atualmente, com os algorit-
mos, basta alimentar com os dados que
tudo é calculado em segundos. Quando
os computadores começaram a ser intro-
duzidos nos canteiros, em meados dos
anos de 1980, nós do Departamento de
O Brasil
sempre
necessitará
de gente
competente
para projetar e
construir
“
“
NOSSO CRAQUE
| PÉRICLES BRASILIENSE FUSCO