REVISTA ESTRUTURA
| ABRIL • 2017
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me respondeu: “Para trabalhar deste jei-
to, prefiro desistir da profissão. Se V. não
aceitar esse preço, outro vai fazer!”
Assim, não valem nada a experiência
profissional, a dedicação, a ficha de ser-
viços bem sucedidos e o prestígio. Todos
estão nivelados pelo preço. É o computa-
dor que calcula: o projeto é um só, com
a mesma segurança. O engenheiro só
aperta botões! A criatividade não existe
mais. A apresentação é desenhada por
computador. Não existem erros. As nor-
mas são obedecidas. Não há diferenças
entre os diversos profissionais. É assim
que pensam os construtores e proprie-
tários... Mas a realidade é diferente: o
que se paga realmente, hoje, por um
projeto de estrutura, não corresponde
ao que se deveria obter. O construtor ou
o proprietário pensa que fez “um bom
negócio” sem perceber a diferença entre
uma obra bem concebida, segura e de
desempenho satisfatório e outra obra,
mal projetada, mal detalhada, com se-
gurança precária, de durabilidade duvi-
dosa, exigindo uma manutenção dispen-
diosa para encobrir os defeitos.
Tal situação tem causado uma deban-
dada dos projetistas. Aqueles que não
são fanáticos pela profissão procuram
outros meios de sobrevivência. Tenho
tido conhecimento de casos assombro-
sos de desvio da profissão. Eis alguns
de que tive conhecimento direto com
as pessoas envolvidas: emprego públi-
co, venda de materiais, planejamento
industrial, auditoria, consultoria técnica,
criação de gado, montagem de restau-
rantes, informática, publicidade, música
em boates. Em todos esses casos, fui in-
formado de que os ganhos foram subs-
tancialmente maiores do que em proje-
tos. Já estão ocorrendo casos em São
Paulo – e eu tenho conhecimento direto
de três casos – de projetos de arquitetu-
ra e estrutura feitos nos Estados Unidos.
São obras grandes, não habitacionais,
de elevado investimento. Tais obras não
têm permissão legal para serem execu-
tadas no Brasil. Para isso, é necessário
que algum profissional, registrado em
nosso país assuma a paternidade do
projeto e refaça os desenhos de acor-
do com os modelos de apresentação
compreensíveis para nossos operários
e em obediência às normas brasileiras.
Por incrível que pareça, sempre existirá
alguém que aceite tal incumbência por
uma remuneração aviltante! Assumir as
responsabilidades de um projeto que
não fez, porque não foi pago para isso, é
uma espécie de prostituição. No deses-
pero de sobrevivência, sempre existirá
alguém que faça isto!
O que está acontecendo com nossa pro-
fissão? Isto tende a se alastrar? Nossas
entidades de classe estão a par desta
situação? Elas tomarão alguma provi-
dência? Nossos construtores têm cons-
ciência do que estão fazendo com o sis-
tema de “leilão de projetos” sem escolha
do profissional pelo seu valor? Quando
menciono isto em nosso meio a respos-
ta é sempre a mesma: “É o mercado que
domina o sistema, que torna impossível
qualquer alteração!”.
Ficaremos de braços cruzados, deixan-
do o pior acontecer? Sabemos que isto
já está acontecendo e não há meios de
alertar os construtores de que eles estão
“matando a sua galinha de ovos de ouro”,
e de que sua economia ao conseguir um
projeto mais barato corresponde a com-
prar algo que não é nenhuma Brastemp,
como diz a propaganda. Estão a par de
que eles estão sendo iludidos, compran-
do papel pintado ao invés de um proje-
to bem elaborado? Que pela metade do
preço eles não conseguem comprar um
bom azulejo, ou cimento confiável, ou aço
de características comprovadas ou ... um
projeto sensato e seguro?
Já fiz anteriormente uma tentativa de
abrir os olhos dos proprietários e dos
construtores, com os seguintes 8 pon-
tos para serem meditados, os quais ago-
ra repito:
– Nem sempre o preço mais baixo de
projeto dá uma economia real.
– Pode acontecer de que a obra seja
mais econômica com maior consumo.
– É mais importante um projeto bem
detalhado do que um desenho bonito
– Poucos desenhos podem indicar gas-
to excessivo de materiais.
– Nunca haverá um projeto bom feito
num prazo inadequado.
– Não é somente a segurança que vale
num projeto: o comportamento em
serviço e a durabilidade são igual-
mente importantes.
– O que representa o preço de um pro-
jeto de qualidade em confronto com
custo dos acabamentos, facilidade
de execução, bom detalhamento,
tranquilidade e acompanhamento da
obra pelo projetista?
– Quem escreve isto só é beneficiado
com projetos ruins.
Construtores e proprietários bem in-
tencionados:
meditem profundamen-
te sobre tudo isto, sem preconceito, e
ganhem dinheiro procedendo com os
profissionais colaboradores como pro-
cedem em suas compras de materiais,
escolhendo pela qualidade!
Assumir a responsabilidade
por um projeto que não fez,
porque não foi pago para isso,
é uma espécie de prostituição
“
“
VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL
| FOCO NO PESSOAL DE PROJETO