Revista Estrutura - edição 3 - page 13

13
Engenharia Civil da Poli decidimos mon-
tar um curso de computação para os pro-
fessores do Departamento, no qual eu
também me matriculei.
ABECE – Considerando materiais, nor-
mas técnicas e ferramentas entre
outros quesitos envolvidos na enge-
nharia, o que mais evolui nos últimos
tempos na engenharia brasileira?
FUSCO –
Tivemos uma evolução mais ou
menos uniforme de todas as áreas e é ne-
cessário que haja mesmo essa sincronia
na evolução, mas é bom saber também
de um detalhe importantíssimo: as nor-
mas técnicas formam a espinha dorsal da
engenharia de um país.
ABECE – Como tem sido sua participa-
ção na formulação das normas brasi-
leiras?
FUSCO –
Tenho participado diretamente
dos trabalhos de elaboração das normas
técnicas voltadas à engenharia e constru-
ção civil da ABNT – Associação Brasileira
de Normas Técnicas desde o princípio
dos anos de 1970, quando o assunto co-
meçou a despertar atenção dos profis-
sionais brasileiros. Um exemplo disso foi
a Norma de Símbolos Gráficos para Pro-
jetos de Estruturas, que fiz praticamen-
te sozinho, tendo sido posteriormente
submetida a uma comissão que a apro-
vou quase sem nenhuma alteração. Ou-
tra que também redigi foi a de Ações de
Segurança nas Estruturas. Em ambas, as
mudanças nelas introduzidas ao longo do
tempo foram meramente formais. Atuei
por mais de dez anos na ABNT, tendo
participado nesse tempo da elaboração
e também da revisão das principais nor-
mas que regem o setor nos dias de hoje.
ABECE – Qual sua avaliação sobre o
momento atual da engenharia brasi-
leira?
FUSCO –
Assim como o país, ela está toda
destruída. Apesar dos desacertos do perío-
do militar, havia um projeto de país, incluin-
do as obras de infraestrutura. Como fimdo
regime militar, os que chegaram ao poder
começaram a desmontar o que havia sido
criado pelos militares. Isso provocou a fuga
de profissionais capacitados para o exte-
rior ou para outras atividades. Um exemplo
disso são os profissionais responsáveis por
projetar a Usina de Itaipu. Toda essa equipe
sumiu. Se o Brasil precisar hoje construir
outra Itaipu não encontrará mais esses
profissionais. E gente você não cria em 24
horas. Eu alertei em relação ao perigo do
desmantelamento das equipes que tinham
ajudado a construir as obras de infraestru-
tura projetadas durante o regime militar.
ABECE – E em relação às escolas de
engenharia?
FUSCO –
A qualidade dos estudantes que
chegam ao nível superior tem decaído
muito nos últimos anos. As escolas de en-
genharia fazem o que podem a partir de
alunos do ensino médio que recebe e que
são horríveis. Temos um sério problema
de educação básica no país.
ABECE – A seu ver, como soluciona-
mos isso?
FUSCO –
Há muito tempo estou preo-
cupado com o ensino de forma geral no
país. Agora mesmo, estou concluindo
um livro com o título de “Introdução à
Engenharia de Estruturas de Concreto”
exatamente para auxiliar no equacio-
namento dessa questão. E no prefácio
dele, coloco alguns aspectos sobre um
ponto que considero decisivo: que é a
falta de uma atenção especial sobre a
“arte de aprender”. Coloco lá que, en-
quanto ao longo do tempo, a arte de
ensinar ganhou apoio científico e se
transformou na tecnologia do ensinar, o
aprender continua ainda no artesanato
individual. É isso que precisa mudar. O
que se discute aqui são princípios para
a organização da arte de aprender. Para
essa discussão, pode-se partir de três
princípios educacionais:
1 – Só se aprende a partir daquilo que já
se conhece;
2 – Só se aprende as coisas que são es-
miuçadas;
3 – Só se aprende quando não há lacunas
no processo de aprendizagem anterior.
Além disso, para saber se as ideias que
pretendia aprender foram inteiramente
entendidas, isto é, se foram efetivamente
integradas nas suas estruturas mentais, o
estudante deve se sentir capaz de expli-
cá-las, em todos os seus detalhes, a outro
estudante ou, o que é melhor, de explicá-
-las a si mesmo, como se ele tivesse sido o
idealizador dessas ideias. Esta é a melhor
forma de alguém julgar o próprio aprendi-
zado. Por fim, para saber se um conheci-
mento foi efetivamente adquirido por ou-
tros, deve haver uma avaliação. Eu termino
o prefácio com uma recomendação: para
o desenvolvimento do país, é fundamental
que os estudantes aprendam a aprender.
ABECE – Que mensagem pode dar
aos jovens que estão cursando en-
genharia?
FUSCO –
O Brasil precisa ainda ser cons-
truído, então sempre vai necessitar de gen-
te competente para projetar e construir
tudo o que for necessário ser construído.
Tivemos uma evolução
uniforme em todas as áreas.
Mas as normas técnicas
formam a espinha dorsal da
engenharia brasileira
1...,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12 14,15,16,17,18,19,20,21,22,23,...80
Powered by FlippingBook