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çada no instante em que definiu o pro-
jetista pelo preço mais baixo. A propa-
ganda na televisão acena para algumas
escolhas erradas: “Não é uma Brastemp,
mas satisfaz...”. Ou propagandas enga-
nosas: “Tira manchas difíceis até mes-
mo depois de secas...”. Mas não mostra
os casos de desastres esclarecendo as
causas. As obras caem por falhas dos
materiais, de sua aplicação descuidada
ou pela concepção errada da estrutura?
O construtor é o maior interessado em
saber os verdadeiros motivos dos aci-
dentes, mas não chega a tirar proveito
dessas lições da vida.
As maiores dores de cabeça dos constru-
tores com obras defeituosas decorrem
do projeto. Ou é o arquiteto, que conce-
beu uma obra difícil de ser executada, ou
um projetista, que aceitou as exigências
de arquitetos incapazes de perceber o
comportamento estrutural. Tal projetista
negligente, ganhando pouco, deixou de
dar a atenção que o projeto mereceria. O
construtor não se detém a pensar nessas
eventualidades. Uma trinca em alvenaria
pode resultar de uma aplicação em épo-
ca errada (dias quentes no fechamento
de vãos), de uma deformabilidade exces-
siva do suporte, de erro de projeto ou
de retirada prematura de escoramentos.
Qualquer que seja a causa, o aborreci-
mento do construtor é o mesmo. Poderia
ter sido evitado? Uma escolha correta do
projetista, com preço justo do serviço,
teria como decorrência um projeto mais
perfeito?
As falhas, que ocorrem todos os dias,
não são privilégio dos maus construto-
res. Acontecem com todos, bons e maus,
honestos ou safados, sovinas ou esban-
jadores. Quem faz a obra não é o dono
da construtora. São os seus colaborado-
res. Sua má escolha leva a maior proba-
bilidade de aborrecimento. Raramente
resulta de falha de material de constru-
ção, tijolo ou concreto, aço ou vidro. O
material pode ser ótimo, mas sua apli-
cação tem que ser correta. Um projeto
pode ser correto, mas a execução preci-
sa corresponder à qualidade do que se
deseja obter. Um projeto correto, porém
mal concebido, pode significar um de-
sastre. Um bom construtor deve dedicar
algum tempo para julgar se um projeto
foi mal concebido ou não, independen-
temente de estar corretamente calcu-
lado. A má concepção não pode levar a
uma obra perfeita. Um exemplo simples
vale mais do que mil palavras.
Uma obra de 5 milhões de reais
tem uma estrutura que custa cer-
ca de R$1.000.000. Um corretor ga-
nha 6% do custo total para arranjar
compradores e organizar a venda:
0,06x5.000.000=300.000. Sua respon-
sabilidade limita-se a verificar se os
papéis estão corretos, se existem ônus
registrados sobre o imóvel, se existe al-
guma pendência judiciária.
Um projeto de estrutura custa, segun-
do a tabela de honorários do Institu-
to de Engenharia de São Paulo, cer-
ca de 6% sobre o valor da estrutura:
0,06x1.000.000=60.000, isto é, 20% dos
honorários do corretor. Sua responsa-
bilidade não se limita à segurança da
construção: ele é responsável pelas de-
formações excessivas das peças, pelas
agressões à arquitetura, pelas invasões
aos recintos de uso domiciliar, pela possi-
bilidade de passagens de tubulações, pe-
las condições de uma boa execução, pelo
consumo de materiais. Depois de pronto
e entregue o projeto, podem surgir mo-
dificações, porque o novo comprador
tem ideias diferentes sobre a utilização
do que lhe foi oferecido. O construtor
não pode perder uma oportunidade de
venda e atende a qualquer alteração que
o comprador exigir. Tais alterações são
gratuitas para o comprador e para o
construtor. O projetista deve pagar as
inovações em seu projeto. Deve garantir
a segurança de todas as peças e verificar
gratuitamente as consequências decor-
rentes das novas exigências. Ou faz, ou
não recebe o saldo de seus serviços. E
tem que fazer depressa, porque a obra
não pode parar. Isto não é urna exceção,
como se poderia pensar à primeira vista.
É a rotina da maioria dos projetos.
Mas a realidade é diferente: o que se
paga realmente, hoje, por um projeto de
estrutura, não chega a 50% do valor de
tabela. No exemplo citado, isto corres-
ponde a R$30.000, o que representa ape-
nas 0,006 do custo da construção. Uma
variação de 25% deste valor (7.500), que
deveria ser a dispersão normal de valo-
res de diversas propostas, não represen-
ta quase nada para o investimento total
da construção. Tais diferenças, entretan-
to, podem representar a escolha entre
uma obra bem concebida, segura e de
desempenho satisfatório e outra obra,
mal concebida, mal detalhada, com segu-
rança precária, de durabilidade duvidosa,
exigindo urna manutenção dispendiosa
para encobrir os defeitos. O significado
disto representa para o proprietário ou
ao construtor dezenas de vezes mais do
que o valor pago pelo serviço mal feito.
Para o profissional, por outro lado, repre-
senta trabalhar ou ficar ocioso. Tive no-
tícia de um profissional, meu amigo, que
Quem faz a obra não é o dono
da construtora. São seus
colaboradores. Sua má escolha
leva a maior probabilidade de
aborrecimento
“
“