Revista Estrutura - edição 3 - page 14

REVISTA ESTRUTURA
| ABRIL • 2017
14
VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL
| FOCO NO PESSOAL DE PROJETO
ESTÃO OS
CONSTRUTORES
MATANDO SUA GALINHA
DOS OVOS DE OURO?
O
s construtores sabem, melhor
do que qualquer outro profis-
sional, comprar os melhores
materiais nas mais vantajosas
condições. Ninguém consegue igualá-
-los. Eles sabem muito bem que, além
do preço, existem outros fatores que
podem ser mais importantes: entrega
com pontualidade, condições especiais
de pagamento, garantia de qualidade,
responsabilidade por quebras e defei-
tos. Enfim, mais capazes do que os pro-
fissionais de projeto, os construtores
conseguem auferir melhores lucros sa-
bendo comprar, nem sempre, pelo me-
nor preço.
Fora do campo dos materiais de cons-
trução, parece que os construtores não
conseguem raciocinar com a mesma
perícia. É somente o preço do projeto
que entra em consideração. Às vezes, é
também computado o prazo de entrega,
que fica muito prejudicado, com suas
próprias indecisões de escolha. Não
existe uma forma de fazer o construtor
entender que o projeto é semelhante a
um material de construção que pode ter
seus defeitos: resistência baixa, durabili-
dade precária, aplicação difícil, deterio-
ração em progresso, embalagem inefi-
ciente. Os projetos também carregam
consigo muitos parâmetros escondidos:
segurança precária, pouca atenção com
POR AUGUSTO CARLOS DE VASCONCELOS
a durabilidade, dificuldade de executar,
falta de informação sobre escoramen-
tos essenciais, embalagem atraente com
apresentação artística escondendo de-
feitos não visíveis.
O construtor, muito experiente, depois
de cometer muitos erros, acaba apren-
dendo a comprar os melhores materiais,
a fugir dos fornecedores enganosos, a
escolher os operários certos para cada
tarefa. No tocante ao projeto, ele não
adquiriu a experiência necessária para
perceber a falta de segurança. Delega tal
atividade para auxiliares geralmente não
muito competentes para tal tipo de tra-
balho. Não tem condições de examinar
detalhadamente o projeto recebido para
julgar sobre os perigos de uma execução
muito rápida, sobre o aproveitamento
máximo dos escoramentos, sobre as di-
ficuldades de uma execução sem falhas,
sobre a proteção das armaduras e sobre
os perigos da aplicação da protensão
fora do prazo oportuno.
Os efeitos de variações térmicas e de
deformação lenta do concreto não são
analisados com a minúcia necessária
para evitar dissabores futuros. O cons-
trutor não tem outra alternativa senão
delegar tais tarefas para outros. Não
chega a perceber que nem todos os en-
genheiros de projeto estão habilitados
para essas funções. Sua sorte está lan-
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