Revista Estrutura - edição 1 - page 29

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deslocável. Existem algumas premissas
para utilizar este método, como a estru-
tura ter mais que quatro pavimentos, a
estrutura não deve apresentar torção,
e o valor limite do Gama Z é de 1,3. A
vantagem que o Gama Z tem em relação
ao antigo parâmetro alfa da norma de
1978, é que podemos utilizar o seu va-
lor como um fator majorador das ações
horizontais, para levar em consideração
os efeitos de segunda ordem global nos
pilares. Em um processamento são cal-
culados vários valores de Gama Z, para
diversas combinações de carregamento
e direções da ação horizontal de vento.
ABECE
– Existe hoje espaço para estru-
tura metálica ser mais utilizada?
VASCONCELOS
Sem dúvida. Nos últi-
mos anos observamos um crescimento
razoável das estruturas metálicas, mistas
e híbridas em edifícios multipavimentos,
ainda restrito a edifícios comerciais. Em
minha opinião, a expansão da utilização
de estruturas metálicas passa obrigato-
riamente por um projeto arquitetônico
que seja concebido para ser executado
neste partido estrutural. A cultura das
escolas de arquitetura no Brasil é volta-
da para soluções onde as estruturas são
de concreto. São poucos escritórios de
arquitetura que têm profissionais pre-
parados para desenvolver projetos para
estruturas metálicas.
Por outro lado, as construtoras e incor-
poradoras também tem uma cultura ar-
raigada em usar concreto. O mesmo se
passa com as estruturas pré-fabricadas
para edifícios multipavimentos residen-
ciais ou comerciais. Também não está na
cultura de arquitetos e construtores a
utilização de elementos pré-fabricados
na execução de estruturas. Com a ten-
dência da diminuição de mão de obra na
construção civil, tanto as estruturas me-
tálicas como as pré-fabricadas de con-
creto tendem a ampliar o seu mercado
no curto e médio prazos. Ambas as tipo-
logias de estruturas permitem a execu-
ção de estruturas de melhor qualidade,
uma vez que tem controle de fabricação
rigoroso, a velocidade de execução des-
tas estruturas é muito mais rápida, pois
o canteiro passa a ser uma área de mon-
tagem, os elementos estruturais saem
direto das carretas para o seu lugar de-
finitivo na estrutura, dispensando áreas
de estocagem.
ABECE
– O que o senhor acha dos colap-
sos que têm acontecido ultimamente
em vários tipos de estruturas?
VASCONCELOS
Na verdade, desde que
o homem aprendeu a construir, ele sem-
pre foi buscando executar construções
maiores, mais complexas e arrojadas,
como pontes e grandes catedrais. Mui-
tas delas continuam de pé até os dias de
hoje. Cada vez que se chegava ao limite,
seja por utilizar vãos maiores que os usu-
ais ou de dimensões de elementos estru-
turais mais esbeltos, os colapsos eram
frequentes. Era um preço a pagar pelo
fato de querer evoluir e de não ter muito
conhecimento sobre como as estruturas
trabalhavam. Tanto construtores como
arquitetos do passado sempre tiravam
lições destes colapsos com o método da
tentativa e erro, e quase sempre conse-
guiam ir se superando. Mesmo após o
desenvolvimento dos conhecimentos em
resistência dos materiais, estabilidade
das construções, dimensionamentos de
elementos estruturais sejam de estrutu-
ra metálica ou de concreto, colapsos na
construção continuaram a ocorrer ainda
com relativa frequência, e novamente
buscava-se aprender com os erros co-
metidos e as estruturas continuaram a
ter soluções mais complexas e arrojadas.
Nos dias de hoje, nós temos um conhe-
cimento muito avançado do comporta-
mento mecânico dos materiais, que tem
resistência e qualidade bem controladas
em seus processos de produção. Temos
ferramentas computacionais que nos
permitem modelar estruturas com forma
e geometrias as mais complexas possí-
veis, e os colapsos continuam a ocorrer
não é só no Brasil, mas em todos os pa-
íses estes fatos ocorrem, porém hoje,
com bem menos frequência.
ABECE
– Quais as razões de ainda ocor-
rer colapsos hoje em dia?
VASCONCELOS
Normalmente os co-
lapsos não ocorrem por uma única cau-
sa. Eles são resultados da ocorrência de
uma série de erros que juntos superaram
a capacidade resistente da estrutura le-
vando-a ao colapso. Os erros começam
nos projetos devido a modelagens que
não refletem a estrutura real, carrega-
mentos que não foram levados em conta,
detalhamento dos elementos estruturais
em desacordo com a maneira como fo-
ram calculados e detalhados. Às vezes er-
ros grosseiros que passam pela falta de
uma verificação mais apurada antes de
liberar o projeto para a obra, pois o cro-
nograma está atrasado e o projeto tem
que sair do jeito que esta.
Na fase da execução, podem ser come-
tidos erros como montagem de arma-
duras incorretas, excentricidades eleva-
das em pilares, problemas na execução
da concretagem – desde um concreto
mal vibrado até bicheiras no interior
dos elementos estruturais –, além de
detalhes de armação que não seguem
o que está solicitado no projeto. E tam-
bém na utilização da estrutura, com
sobrecargas acima das utilizadas em
projetos e manutenção inadequada.
Uma maneira de minimizar essas falhas
na etapa de projeto é realizar uma avalia-
ção técnica de projeto por terceiro pro-
fissional independente, se possível co-
meçando a trabalhar já na fase inicial de
projeto. Nas obras, as construtoras deve-
riam investir em engenheiros de contro-
le de qualidade, que tenham autoridade
para mandar refazer trabalhos que não
estão de acordo com o projeto, mesmo
que isto venha a implicar em atrasos no
cronograma.
ABECE
– Faltam profissionais com essa
especialização?
VASCONCELOS
Essa prática a gente
tem de formar depois de receber o di-
ploma. Durante o curso não se aprende.
É possível aprender a fazer coisas boas
novas, mas ninguém vai ensinar a corrigir
defeitos. Alguns desses casos colocaram
em cheque a engenharia brasileira. O que
está repercutindo mal é essa corrupção,
as firmas estão sem serviço. Os engenhei-
ros de estrutura já começaram a demitir
alguns funcionários, todo mundo cons-
trangido a não progredir, tem arquiteto di-
zendo que vai fechar o escritório. Não po-
demos fazer nada porque dependemos
da política. A avenida Paulista, quando foi
construída, tinha um projeto de fazer uma
via expressa subterrânea, de fora a fora,
que até começou a ser construída. Foi co-
locada em licitação, assinaram o contrato
e começaram a executar a obra, que pre-
via a implantação de 1000 tubulões, mas
ela foi cancelada. Então decidiram até ele-
var um pouco o nível do metrô, uma vez
que não haveria mais a via prevista. São
Paulo perdeu a oportunidade de construir
uma via expressa no principal cartão pos-
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