Revista Estrutura - edição 1 - page 23

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4. CONSIDERAÇÕES SOBRE
AS POSSÍVEIS CAUSAS
DO SINISTRO
Atualmente a estrutura passa por um
processo rigoroso de peritagem.
Dentre as possíveis causas do colapso do
viaduto, a mais provável delas está rela-
cionada com o deslizamento das cordo-
alhas por deficiência do encunhamento
das cunhas nos blocos de ancoragem.
Para que haja um adequado encunha-
mento do conjunto de ancoragem, a for-
ça de protensão deve possuir um valor
mínimo no momento da sua aplicação.
O professor Alan Thompson, da Univer-
sidade de Curtin na Austrália, em seu
trabalho intitulado “Performance of Ca-
ble Bolt Anchors”, conclui:
PARA EVITAR O DESLIZAMENTO
DURANTE O USO, É IMPORTANTE
QUE A CORDOALHA SEJA
TRACIONADA COMPLETAMENTE
NO MOMENTO DA INSTALAÇÃO
COM UMA FORÇA DE,
NO MÍNIMO, 50% DA FORÇA DE
RUPTURA DA CORDOALHA.
Também a norma Espanhola EHE-08 em
seu capitulo 35.2.1, cita:
O DESLIZAMENTO ENTRE A
ANCORAGEM E A ARMADURA,
FICA IMPEDIDO QUANDO SE
ALCANÇA A FORÇA MÁXIMA DE
PROTENSÃO (80% DA CARGA
DE RUPTURA DA CORDOALHA).
O processo de encunhamento, usu-
almente, produz marcas denteadas
características nas cordoalhas, oca-
sionadas pela pressão das cunhas. Em
uma bibliografia clássica da engenharia
estrutural, o professor Fritz Leonhardt
salienta em um item específico sobre
cunhas cravadas:
AS CUNHAS DEVEM SER
FIRMEMENTE CRAVADAS
NO DISPOSITIVO DE
ANCORAGEM POR MEIO
DE UM MACACO DE
MANEIRA A PRODUZIR
UM DENTEAMENTO
EM TODA A SUA
SUPERFÍCIE.
Conforme se observa nas fotos do sinis-
tro (figuras 10 a 21), não foram detecta-
das as referidas marcas nas extremida-
des dos tirantes. Além disso, análises
preliminares indicam que no momento
da protensão dos cabos, ou seja, com o
viaduto descarregado, as forças de pro-
tensão foram da ordem de 22% da força
de ruptura, fase em que se realizou a in-
jeção de calda de cimento.
Outro fator agravante, que é corroborado
pelas observações de campo, é a de que
o encunhamento deficiente possibilitou a
penetração de calda de cimento entre as
cunhas e as cordoalhas. Com a ação de
cargas superiores à de cravação nos tiran-
tes, produzidas pelo tráfego (incluindo seu
efeito dinâmico), a calda de cimento facili-
tou o escorregamento das cordoalhas.
5. TESTES REALIZADOS COM OS
MECANISMOS DE PROTENSÃO
UTILIZADOS NA OBRA
Com a finalidade de verificar a qualidade
das ancoragens utilizadas no viaduto, a
construtora realizou testes no conjunto
cordoalha, bloco e cunhas com produtos
idênticos aos utilizados na obra (figuras
23 a 27 e tabela 1).
Para a montagem utilizou-se um macaco
oco com blocos de ancoragem nas duas
extremidades, unidos por uma única
cordoalha (figura 23).
Durante o ensaio, foi medida a penetra-
ção da cunha para cada estágio de carga
(figura 24). Os quinhões de carga foram
subdivididos para simular as condições
de carregamento conforme abaixo:
1. Carga de 3,97 kNs correspondente
ao valor do peso próprio caracterís-
tico do tabuleiro.
2. Carga de 11,9 kN correspondente
aos valores característicos do peso
próprio do tabuleiro mais a carga
variável sobre o viaduto.
3. Carga de ruptura de algum dos ele-
mentos do conjunto.
Em todos os testes foi verificada a forma-
ção do denteamento da cordoalha pela
ação dos entalhes das cunhas.
Em todos os ensaios, a ruptura deu-se
por falha na cordoalha e não nas cunhas
ou nos blocos. As rupturas se deram com
cargas superiores à carga nominal das
cordoalhas. Também não ocorreram es-
corregamentos nos testes.
FIGURA 23. MONTAGEM DO SISTEMA PARA O TESTE
CONSTRUTORA ALVAREZ LTDA.
CONSTRUTORA ALVAREZ LTDA.
FIGURA 25. MARCAS DE DENTEAMENTO DEIXADAS
PELAS CUNHAS NA CORODOALHA ENSAIADA.
CONSTRUTORA ALVAREZ LTDA.
FIGURA 24. MEDIDA DA PENETRAÇÃO DA
CUNHA.
CONSTRUTORA ALVAREZ LTDA.
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