Revista Estrutura - edição 1 - page 28

REVISTA ESTRUTURA
| JULHO • 2016
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ABECE
– Então tem que continuar pes-
quisando sempre?
VASCONCELOS
Com certeza! Eu es-
crevi um artigo há pouco tempo sobre o
Concreto translúcido. Um jovem húnga-
ro, de 22 anos, percebeu que mediante
determinada composição é possível fazer
um concreto, que deixe passar um pouco
de luz, não tudo, mas de tal maneira que
se você fizer uma parede com esse con-
creto, você pode ver se tem uma pessoa
do outro lado. Se você iluminar o ambien-
te adequadamente, é possível ver a si-
lhueta da pessoa. Essa nova propriedade
do material pode ser utilizada e, sobretu-
do, os arquitetos estão interessadíssimos
nisso, para economizar energia. É uma
coisa nova que surgiu há pouco tempo.
A maioria dos engenheiros, em geral, não
sabe disso.
ABECE
Em relação ao cálculo das es-
truturas, como foi a evolução nos últi-
mos anos?
VASCONCELOS
A gente pensa que
tudo já foi descoberto. Mas estão surgin-
do coisas novas sim. Tem gente querendo
calcular hoje utilizando os processos an-
tigos. Mas as normas técnicas de hoje já
não permitem ou aceitam que se façam os
cálculos como era no passado commuitas
simplificações. Por exemplo, eu calculava
os pilares de uma estrutura levando em
conta só a força axial de compressão, re-
sultante da ação do peso próprio sobre
cargas permanentes e cargas variáveis,
que atuavam na área de influência daque-
le pilar. Hoje, o pilar é calculado para resis-
tir além das forças gravitacionais, a força
devido à ação do vento, imaginando um
pilar esbelto, de tal maneira que quando
o vento atuar nessa estrutura, o tal pilar
desloca-se algo como um centímetro,
uma coisa mínima, alguns milímetros, e
com esse deslocamento, passa a atuar
uma força adicional, e vai estar submetido
não só à força de compressão axial, mas
também a uma força de flexão. O pilar for-
ma uma curva em “S”, vira num sentido e
vira no outro, existe um ponto em que ele
fica parado. Mas, a parte de cima faz uma
curva num sentido, e a parte debaixo faz
uma curva noutro sentido. Ou seja, a es-
trutura tem momentos fletores no topo e
também na base do pilar.
Então, hoje em dia esses programas de
computador calculam esses esforços. E
mostram que momentos são esses, que
cálculos são esses. Quer dizer, um cálcu-
lo feito anos atrás mostrava só as forças
de cargas axiais nos pilares. Hoje é pre-
ciso mostrar os momentos na direção X,
ou na direção Y, além de dimensionar a
armadura para estes esforços. Os sof-
twares de dimensionamento de estrutu-
ras permitem que o engenheiro proces-
se uma estrutura de multipavimentos
com centenas de combinações de carre-
gamentos, ponderados, de acordo com a
norma de ações e segurança, e obtenha
as envoltórias com os máximos esforços
e deslocamentos em todos os elementos
componentes da estrutura. Além disso,
hoje é possível fazer a análise dinâmica
da estrutura para verificar o seu desem-
penho, deslocamentos e acelerações,
diante de ações como o vento ou sismos.
Agora é muito importante que os enge-
nheiros e, principalmente, os profissio-
nais mais novos tenham bons conheci-
mentos para estabelecer os critérios de
projetos e elaborar o modelo estrutural
de forma consistente. É necessário que
se saiba pré dimensionar os elementos
da estrutura através de métodos simpli-
ficados, para que se tenha a ordem de
grandeza dos esforços atuantes nestes
elementos, que servirão para validar-
mos ou não os resultados emitidos pe-
los softwares de cálculo.
ABECE
– Ou seja, hoje em dia é impossí-
vel calcular como era feito no passado?
VASCONCELOS
Ficaria um proces-
so tão trabalhoso que seria impossível
fazer. Antes, a gente aceitava as simpli-
ficações por não haver métodos como
determinar os esforços e deslocamen-
tos considerando toda a estrutura tridi-
mensional de um edifício hiperestática.
Por outro lado, trabalhávamos com coe-
ficientes de segurança bem maiores que
os atuais.
ABECE
– As normas técnicas evoluíram
muito nos últimos anos?
VASCONCELOS
De fato, elas evoluíram
em qualidade e quantidade. Hoje temos
que atender, além do dimensionamento
devido aos esforços solicitantes nos ele-
mentos da estrutura, que estes elemen-
tos tenham dimensões mínimas, exigidas
na norma de dimensionamento em situ-
ação de incêndio, bem como atender as
instruções técnicas dos bombeiros. Além
disso, mais recentemente tivemos que
atender a norma de desempenho.
ABECE
– Qual a necessidade que levou
o senhor e o professor Mario Franco a
desenvolver a expressão do Gama Z?
VASCONCELOS
O Gama Z foi ideia
do Mario Franco. Nós estudamos em
conjunto até chegarmos a uma fórmula
para calcular esse efeito. Nessa fórmu-
la nós trabalhamos juntos. Mas eu digo
sempre, a ideia não foi minha. O Mario
Franco foi quem primeiro vislumbrou
o conceito. O que tivemos de trabalho
em conjunto foi o desenvolvimento da
formulação até chegarmos à expressão
como é conhecida hoje. O Gama Z é um
parâmetro que serve para avaliar a ri-
gidez de uma estrutura, em outras pa-
lavras se a estrutura é pouco ou muito
NOSSO CRAQUE
| AUGUSTO CARLOS DE VASCONCELOS
Tem gente querendo calcular hoje
utilizando o processo antigo. Mas
as normas técnicas de hoje já não
aceitam os cálculos do passado
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