REVISTA ESTRUTURA
| ABRIL • 2018
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Este artigo apresenta os resultados
da autocicatrização “engenheirada”
de três cimentos comerciais brasilei-
ros CPIII, CPII-E e CPV com diferentes
percentagens de EAF, com teores de-
crescente de 55%, 34% e 0% respec-
tivamente, e ativado com o PRAH. Os
corpos-de-prova foram carregados em
compressão com 90% da sua carga de
ruptura, a fim de gerar uma rede de
microfissuras. Essas amostras foram
posteriormente imersas em água satu-
rada com cal para desencadear o me-
canismo de autocicatrização, seguidas
de vários testes após 28, 56 e 84 dias.
Foi observada uma autocicatrização
mais evidente nas amostras de cimento
CPIII (55% de EAF) contendo o PRAH, e
apesar de indicar uma inversão, maior
autocicatrização nas amostras com ci-
mento CPV (0% de EAF) comparados ao
CPII-E (34% de EAF), evidenciando que
a reações autocicatrização não são fun-
ção do simples aumento do teor de EAF,
e que estas reações de autocicatrização
são muito mais complexas [4].
Diferentes abordagens têm sido de-
senvolvidas para estudar um novo tipo
de concreto que têm a capacidade para
reparar fissuras passivas com abertura
de até 0,4 mm. Dentre essas aborda-
gens, o concreto autocicatrizante “en-
genheirado” possui uma capacidade de
autocicatrização autônoma que poten-
cializa o mecanismo de colmatação na-
tural do concreto através da dosagem
de um PRAH que ativa os componentes
presentes na dosagem do concreto,
como os cimentos e as adições mine-
rais. Este artigo aborda o uso do PRAH,
geralmente indicado como aditivo im-
permeabilizante redutor de permeabili-
dade, adaptado como agente promotor
da autocicatrização “engenheirada” do
concreto.
2 – REFERÊNCIAS
DE CONCRETO
AUTOCICATRIZANTE NO
BRASIL
Este artigo apresenta o desenvolvi-
mento no Brasil da tecnologia de con-
creto autocicatrizante pela abordagem
autônoma ou “de engenharia”. Concretos
autocicatrizantes foram utilizados recen-
temente na laje de subpressão do Museu
da Imagem e do Som (M.I.S.) em Copaca-
bana [5], na Cobertura Fluida do Museu
de Arte do Rio (M.A.R.) no centro da cida-
de do Rio de Janeiro [6] e também na laje
de subpressão de condomínio no Setor
Nordeste em Brasília [7].
Os engenheiros BRITEZ e HELENE
apresentaram os desafios da nova sede
do M.I.S., envolvidos na concretagem
de uma laje de subpressão estanque
em concreto armado, com 1,0 m de es-
pessura, volume de 1.200 m³ e taxa de
armadura de aço de 105 kg/m
3
, situada
a 50 m da orla marítima e vinculado à
classe de agressividade IV. O traço do
concreto com propriedades autocicatri-
zantes possuía um consumo por m
3
de
448 kg de cimento CPIII 40 RS, adição de
30 kg de SA e 4,5 kg de PRAH concentra-
do. O PRAH concentrado foi dosado no
teor de 1,0% sobre o peso do cimento
CPIII 40 RS. A relação água/aglomerante
foi de 0,35, onde 100% da água de amas-
samento foi substituída por gelo (130 kg
de gelo em cubos à -10ºC + umidade de
5% da areia), e todos os concretos dos
caminhões foram lançados em tempera-
turas entre 20°C a 25°C. Os resultados
demonstraram que a composição do
concreto, o plano de concretagem e os
procedimentos executivos empregados
foram decisivos para promover uma es-
trutura íntegra e com propriedades es-
tanques, bem como algumas engenhosi-
dades empregadas na construção dessa
laje do M.I.S., dispensando, nesse caso,
alternativas tradicionais e convencionais
de impermeabilização [5].
Para o traço do concreto da Cobertura
Fluida do M.A.R., os engenheiros ALMEI-
DA e CORRÊA especificaram uma com-
posição de concreto com relação água/
aglomerante 0,45 (189 litros de água) e
com consumo por m
3
de 391 kg de ci-
mento CPIII 40 RS, adição de 30 kg de
SA, 8,0 kg de PRAH e 600 g de fibras de
polipropileno (PP). O PRAH, na versão
normal, foi dosado no teor de 2,0 % so-
bre o peso do cimento CPIII-40 RS. Esta
cobertura com 800 t de peso próprio,
possui as dimensões de 66 m de compri-
mento e 25 m de largura (1.700 m
2
). A laje
foi calculada com uma taxa de armadura
muito alta de 310 kg/m
3
, para apresen-
tar um comportamento estrutural como
uma casca de concreto, e possui a forma
de uma onda com desníveis de até 1,75
m e gera uma impressão de fluidez com
diferentes espessuras (predominante-
mente de 15 cm), “flutuando” a cerca de
30 m de altura apoiada em 37 tubos de
aço galvanizado. A concretagem da laje
foi executada em apenas um dia, com
uma concretagem ininterrupta de 13
horas, para evitar que a cobertura apre-
sentasse junta fria de concretagem. Na
concretagem dos 320 m
3
de concreto,
80% da água foi substituída por gelo, to-
dos os concretos dos caminhões foram
lançados em temperaturas entre 16°C
a 21°C, com a trabalhabilidade neces-
sária e retardando a pega, evitando ao
máximo a fissuração. O maior desafio foi
a preparação da fôrma desta cobertura
fluida que foi moldada com peças com 6
m por 8 m de isopor EPS e em torno de
800 kg, pelo responsável da Festa do Boi
Garantido em Parintins - AM [6].
A engenheira SILVA apresenta um es-
tudo de caso de uma concretagem de
uma laje de subpressão executado, em
3 etapas com um intervalo de 1 mês
entre eles, em um condomínio misto
de uso residencial e comercial, localiza-
do no Setor Nordeste de Brasília. A laje
com 2.500 m
2
em concreto armado com
30 cm de espessura, volume de 750 m
3
,
possui uma taxa de armadura de 96 kg/
m
3
em conjunto com 450 g de fibras de
PP para cada m
3
. Foram dosados 3.000
kg de PRAH concentrado ao volume total
do concreto da laje no teor de 0,8% so-
bre o peso de cimento CPIII-40 RS com
consumo de 380 kg/m3 e relação água/
cimento de 0,45. O maior desafio na exe-
cução desta laje de subpressão foi a ne-
cessidade da estanqueidade do sistema
com uma especificidade de projeto que
não permitiria a instalação permanente
de bombas de recalque da água do len-
çol freático por razões ambientais do
entorno [7].
3 – A QUÍMICA DO CIMENTO
DE EAF E DO PRAH NA
AUTOCICATRIZAÇÃO
Em comum, as 3 obras utilizam o ci-
mento de EAF (CPIII 40 RS) e o PRAH para
a dosagem do concreto autocicatrizante
“engenheirado”. Portanto, os seguintes
mecanismos devem ser considerados
para uma dosagem “engenheirada” de
um concreto autocicatrizante robusto [4]:
a) Mecanismo de hidratação contínua
com o uso de cimento CPIII 40 RS
INOVAÇÃO
| CONCRETO AUTOCICATRIZANTE