REVISTA ESTRUTURA
| ABRIL • 2018
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resistividade do concreto das amostras
fissurada aos 28 dias com as amostras
fissuradas e cicatrizadas por 56 dias
para todas as misturas (Figura 2). Este
valor, determinado em coulombs, está
relacionado com a capacidade do con-
creto para resistir à penetração de íons
cloreto através das amostras. A recupe-
ração da propriedade de estanqueida-
de indica uma maior cicatrização nas
amostras com cimento CPIII, CPV e CPII-
-E, respectivamente.
6 – RESULTADOS E
DISCUSSÕES
6.1 – Corpos de prova fissurados
e não cicatrizados
Os corpos de prova fissurados foram
ensaiados imediatamente após o pré-
-carregamento, e considera-se que não
houve tempo de passar por qualquer
cicatrização da fissura. Os resultados na
Tabela 3 mostram que, para as amostras
não cicatrizadas, a RCA e o ERDC foram
influenciados pela adição do PRAH 3G e
pelo teor de EAF no cimento comercial
CPII (34%) e CPIII (55%).
6.2 – Efeitos da autocicatrização
O PRAH 3G influencia na melhora dos
valores de RCA das amostras fissuradas
e cicatrizadas em 5,9% no CPIII, 5,8% no
CPII e 3,7% no CPV comparados ao valor
de 28 dias. No ensaio ERDC, os valores
foram reduzidos em 7,2% no CPIII, em
3,6% no CPII e em 7,8% no CPV. Estes
valores mostram que o efeito de autoci-
catrização depende do tipo de materiais
de cimento utilizado, o teor de EAF e da
adição de PRAH 3G. Conclusões seme-
lhantes também podem ser feitas para
o ERDC. No entanto, deve notar-se que,
comparando os resultados entre as Tabe-
las 3 e 4, os efeitos de autocicatrização
se tornam mais visíveis. A quantidade na
redução dos valores de TRPC foi de 52%
para 49% no CPV, de 38% para 37% no
CPIII e de 21% para 20% no CPII-E.
O principal mecanismo da autocica-
trização autógena de uma fissura é a
produção de cristais de silicato de cálcio
hidratado (C-S-H). Durante a hidratação
do cimento, alguns grãos de cimento
que contêm alita (C3S) e belita (C2S) não
reagem completamente, resultando em
partículas com núcleos não hidratados,
envolvidos em materiais hidratados de
C-S-H e de portlandita (CH).
Durante a fissuração, estas partículas
encapsuladas são naturalmente expos-
tas e começam a hidratar quando entram
em contato com a água, o que provoca
uma expansão volumétrica capaz de
preencher completamente microfissuras.
A hidratação contínua do cimento não
reagido é o mecanismo presente nos tra-
ços com cimento CPV. A reação hidráulica
latente também pode ser outro mecanis-
mo para fornecer um grau significativo
de capacidade de autocicatrização para
os traços com cimento que contenham
adições de escórias de alto forno (EAF)
como o CPII-E (34%) e CPIII (55%).
Em ambientes alcalinos, nas amos-
tras aditivadas com o PRAH, à medida
que o teor de EAF aumenta, as espécies
de silicatos podem dissolver-se do EAF
para criar ácido silícico (H4SiO4), que
pode reagir com o CH dissolvido, cujo
resultado são cristais de C-S-H, provo-
cando um aumento significativo nas
propriedades de recuperação mecâ-
nica e de redução da permeabilidade.
Portanto, observa-se também que as
amostras com EAF ativados por PRAH
3G são menos afetadas pelos efeitos
dos carregamentos mecânicos.
7 – CONCLUSÕES
Neste artigo, foi observada uma auto-
cicatrização mais evidente nas amostras
de cimento CPIII contendo o PRAH 3G e
indica uma maior autocicatrização nas
amostras com cimento CPIII, CPV e CPII-
-E, respectivamente. O C-S-H produzido
durante a reação hidráulica latente do
CPIII e do CPII-E pode então cicatrizar
fissuras finas da mesma maneira que o
C-S-H produzido a partir da hidratação
de partículas não reagidas do cimen-
to CPV. Como a velocidade da reação
hidráulica latente do CPIII e do CPII-E é
função do pH, é substancialmente mais
lenta que a hidratação contínua do ci-
mento não reagido do CPV. Portanto,
a autocicatrização do cimento CPV se
torna mais evidente do que o CPII-E nas
idades ensaiadas neste artigo.
O desempenho do PRAH com relação
a recuperação mecânica, e a redução da
permeabilidade varia com o tipo de ci-
mento. Fabricantes recomendam a dosa-
gem do PRAH concentrado em 1% s.p.c.
independentemente do tipo de cimento,
ou do tipo da adição mineral utilizado na
dosagem do traço de concreto. Portan-
to, o estudo mais aprofundado entre a
relação da dosagem do PRAH, o tipo de
cimento e o tipo de adição mineral seja
interessante para aumentar a durabilida-
de das estruturas de concreto, uma vez
que a vida útil das estruturas pode ser
estimada em décadas.
O autor sugere as seguintes dosagens
de PRAH 3G ou 4G e o consumo mínimo
de cimento, sendo que a Tabela 2 para
obras enterradas expostas ao ataque por
sulfatos, a Tabela 3 para obras expostas às
INOVAÇÃO
| CONCRETO AUTOCICATRIZANTE
FIG. 4 – REDUÇÃO PERCENTUAL DA MIGRAÇÃO DE CLORETOS COMPARANDO OS 3 CIMENTOS