Revista Estrutura - edição 6 - page 51

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dando uma aula sobre estruturas enter-
radas, área onde é considerado um dos
maiores especialistas brasileiros. Na se-
quência, acompanhe alguns pontos da
entrevista concedida por Maffei à revista
ESTRUTURA.
ABECE – Como foi o início da sua car-
reira profissional?
MAFFEI –
Logo que me formei, em 1963,
fui ser estagiário do Paulo Franco Ro-
cha. Aprendi muito lá. Considero o Paulo
meu pai para a engenharia, pois ele gos-
tava de ensinar e ensinava tudo. Como
estagiário atuei em grandes projetos,
como o das instalações da Cosipa, na
Baixada Santista e também na constru-
ção da cobertura da Basílica de Nossa
Senhora Aparecida, no Vale do Paraíba.
Fiquei como estagiário até 1966, quan-
do montamos, eu e o Orlando Botelho,
um pequeno escritório de projetos no
Conjunto Nacional, onde ficavam todos
os grandes escritórios de arquitetura e
de engenharia na época. Fizemos diver-
sos projetos interessantes, sobretudo
em edifícios residenciais. Isso durou até
1969, quando o Paulo Franco Rocha foi
trabalhar na Promon Engenharia e nos
convidou, a mim e ao Orlando, para tra-
balhar na empresa. Foi então que come-
çaram os grandes desafios.
ABECE – Poderia relembrar alguns
desses desafios.
MAFFEI –
Um dos primeiros projetos
em que nos envolvemos foi o trecho 3
da futura Linha 1 Azul do Metrô de São
Paulo, que começava um ponto antes do
Vale do Anhangabaú e ia até perto da
Liberdade. Comecei a trabalhar no pro-
jeto básico desse trecho que, por passar
pelo centro da cidade, local de grande
concentração de edifício, foi feito todo
por meio dos chamados Tatuzões. Em
função disso, foram necessárias várias
obras de reforço para que o equipa-
mento pudesse fazer a perfuração dos
tuneis sem comprometer as edificações
na superfície, principalmente na parte
próxima do Mosteiro de São Bento, que
exigiu a construção e uma grande laje.
Eu acabei me destacando na elaboração
desses projetos. Chegou numa determi-
nada fase da obra que os americanos,
com os quais a Promon tinha feito uma
parceria técnica para executar a obra,
me chamaram e propuseram que eu as-
sumisse a coordenação do projeto exe-
cutivo de todas as obras do Trecho 3.
ABECE – Como enfrentou esse desa-
fio?
MAFFEI –
Eu tinha pouco mais de 30
anos, então esse trabalho foi de extrema
importância, inclusive do ponto de vista
acadêmico, pois nessa época eu já tinha
começado a dar aula de Resistência de
Material na Poli. Em função dos estu-
dos para as obras do Metrô comecei a
perceber que o problema desse tipo de
obra, as chamadas “obras enterradas”,
não se trata apenas de uma questão
que envolve a melhor compreensão de
estrutura ou de mecânica do solo, mas
sim um problema de interação entre as
duas áreas. Foi então que passei a estu-
dar solos com mais dedicação. Comecei
a juntar as duas coisas. Tanto que depois
até criei um curso de interação solo-es-
trutura de pós-graduação, pois entendia
que não podemos tratar as duas áreas
de forma independente. Os cálculos
para a estrutura dependem do compor-
tamento e do tipo de solo. Hoje é uma
coisa fácil de fazer, pois temos compu-
tadores que facilitam nos cálculos des-
sa interação. Na época, teve muito de
criatividade para desenvolver essa inte-
ração solo estrutura. Foi muito bacana.
Nessa altura fui crescendo nessa área
de interação solo-estrutura, fazendo os
meus artigos e desenvolvendo melhor a
teoria, inclusive na Poli.
ABECE – Baseado em sua experiência
acadêmica, como avalia as escolas de
engenharia no Brasil?
MAFFEI –
Não conheço todas as esco-
las de engenharia do país, mas conhe-
ço os alunos que saem delas. Por essa
medida, posso dizer que os conceitos
deles são muito fracos. Muitas escolas
de engenharia dão métodos e prática. A
escola deve ensinar teoria. Não adianta
eu te ensinar como calcular para cons-
truir uma viga. É melhor eu, através da
teoria, dizer se o método que você está
usando para calcular é válido ou não no
seu exemplo prático. E teoria é ler muito.
Por outro lado, acho que o professor das
escolas de engenharia tem de, necessa-
riamente, ter doutorado. Ele tem de sa-
ber muito mais do que está ensinando.
ABECE – O que mudou na forma de
elaborar projetos?
MAFFEI –
Hoje não existe mais tempo
para assimilar o projeto. No passado, eu
ficava um mês ou até dois meses calcu-
O computador agrega demais,
mas acho que temos de
desconfiar dele. Há empresas que
criaram um grupo de profissionais
encarregado de checar se o que o
computador definiu é correto
1...,41,42,43,44,45,46,47,48,49,50 52,53,54,55,56,57,58,59,60,61,...68
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