 
          
            REVISTA ESTRUTURA
          
        
        
          |  OUTUBRO • 2018
        
        
          
            48
          
        
        
          
            ESPAÇO ABERTO
          
        
        
          |  CBCA
        
        
          
            INCÊNDIO EM EDIFÍCIOS
          
        
        
          
            ALTOS NO BRASIL
          
        
        
          E
        
        
          m 1° de maio de 2018, um incên-
        
        
          dio de grandes proporções no edi-
        
        
          fício Wilton Paes de Almeida sur-
        
        
          preendeu todo o País. O edifício
        
        
          de concreto armado com 24 pavimentos,
        
        
          localizado na região do Largo do Paissan-
        
        
          du, em São Paulo, teve o seu colapso e
        
        
          infelizmente vidas foram levadas.
        
        
          Da mesma forma que em outros trági-
        
        
          cos incêndios ocorridos também em edi-
        
        
          fícios localizados na cidade de São Paulo
        
        
          – Joelma, Andraus, Cesp e Grande Avenida
        
        
          - o caso do edifício Wilton Paes de Almeida
        
        
          tem a característica de ser uma constru-
        
        
          ção do meado do século passado, com
        
        
          projeto arquitetônico, estrutural e de ins-
        
        
          talação, que não considerava a segurança
        
        
          contra incêndio. São várias as edificações
        
        
          nessa condição no Brasil, e isso represen-
        
        
          ta um grande risco para as pessoas.
        
        
          Os incêndios nesses edifícios propa-
        
        
          garam-se com muita facilidade e envol-
        
        
          veram toda a edificação, dificultando
        
        
          as operações de combate ao incêndio
        
        
          e provocando sérios danos à estrutura.
        
        
          A ocupação original do edifício também
        
        
          precisa ser respeitada. Um edifício ba-
        
        
          sicamente feito para abrigar escritórios
        
        
          não pode ser modificado para um edifício
        
        
          habitacional sem o devido cuidado.
        
        
          No caso mais recente, do já menciona-
        
        
          do edifício Wilton Paes de Almeida, a falta
        
        
          de compartimentação vertical, a estrutura
        
        
          pouco redundante e um projeto antigo em
        
        
          termos de segurança contra incêndio foram
        
        
          as principais razões para o desabamento.
        
        
          Nele, assim como nos outros edifícios
        
        
          mencionados, havia quebra de compar-
        
        
          
            REDUNDÂNCIA ESTRUTURAL, COMPARTIMENTAÇÃO VERTICAL E OBSERVAÇÃO
          
        
        
          
            DE NORMAS E ESPECIFICAÇÕES DE MATERIAIS DE REVESTIMENTOS SÃO
          
        
        
          
            MEDIDAS QUE EVITAM TRAGÉDIAS*
          
        
        
          timentação vertical pelas fachadas, pelo
        
        
          poço do elevador, pelas escadas não en-
        
        
          clausuradas e, provavelmente, por outras
        
        
          vias. A compartimentação vertical é impor-
        
        
          tante justamente para impedir a propaga-
        
        
          ção vertical do incêndio de um pavimento
        
        
          para o imediatamente superior, sendo uma
        
        
          das medidas mais eficientes para a segu-
        
        
          rança contra incêndio e também essencial
        
        
          para o dimensionamento das estruturas.
        
        
          Quanto à questão de redundância es-
        
        
          trutural, em edifícios altos, significa dizer
        
        
          que caso um elemento estrutural falhe
        
        
          por conta do incêndio, o projeto estrutu-
        
        
          ral prevê caminhos alternativos para os
        
        
          carregamentos chegarem à fundação.
        
        
          De umamaneira geral, cabe a arquitetura
        
        
          garantir a compartimentação vertical e pro-
        
        
          jetar adequadamente as saídas de emer-
        
        
          gência, por meio de escadas de segurança,
        
        
          por exemplo, cujo número, largura e locali-
        
        
          zação devem ser projetadas com base na
        
        
          ABNT NBR 9077:2001 - Saída de emergên-
        
        
          cia em edifícios ou nas instruções técnicas
        
        
          dos Corpos de Bombeiros estaduais.
        
        
          Outras medidas do escopo da arquite-
        
        
          tura são as especificações de materiais
        
        
          de revestimento e acabamento colo-
        
        
          cados em tetos, paredes e pisos. Esses
        
        
          devem possuir características de reação
        
        
          ao fogo adequadas, levando-se em con-
        
        
          ta a propagação superficial das chamas
        
        
          e a quantidade e densidade de fumaça
        
        
          desenvolvidas. Acessibilidade aos equi-
        
        
          pamentos para combate ao incêndio e
        
        
          o distanciamento seguro entre edifícios
        
        
          também são de responsabilidade dos
        
        
          projetos de arquitetura.
        
        
          Cabe à engenharia de instalações, os
        
        
          projetos de chuveiros automáticos, hi-
        
        
          drantes, sistemas de iluminação de emer-
        
        
          gência e sistemas de detecção e alarme.
        
        
          Acrescentam-se a isso a ABNT NBR
        
        
          14432:2001 e as Instruções Técnicas
        
        
          (IT8, em São Paulo), que indicam o TRRF
        
        
          (tempo requerido de resistência ao fogo)
        
        
          para o qual as estruturas devem ser
        
        
          projetadas. É importante lembrar que o
        
        
          TRRF não é tempo real, mas um tempo
        
        
          padrão utilizado para ensaios em for-
        
        
          nos. Quanto mais alta a edificação, maior
        
        
          será esse TRRF. Conhecido esse tempo,
        
        
          o engenheiro dimensionará os elementos
        
        
          estruturais com base nas normas ABNT
        
        
          NBR 15200:2012 “Projeto de estruturas
        
        
          de concreto em situação de incêndio” ou
        
        
          ABNT NBR 14323:2013 “Dimensionamen-
        
        
          to de estruturas de aço de edifícios em
        
        
          situação de incêndio - Procedimento”.
        
        
          Fica claro que a segurança contra in-
        
        
          cêndio é multidisciplinar, dependendo da
        
        
          arquitetura e da engenharia, tendo como
        
        
          guia as Instruções Técnicas dos Corpos
        
        
          de Bombeiros estaduais e as Normas
        
        
          Brasileiras, que devem estar sempre em
        
        
          contínuo aprimoramento com base nos
        
        
          erros detectados em incêndios ocorridos
        
        
          no Brasil e no exterior. Além disso, sem-
        
        
          pre é importante considerar as pesquisas
        
        
          científicas desenvolvidas pela Engenharia
        
        
          de Segurança contra Incêndio.
        
        
          (
        
        
          
            *
          
        
        
          ) Centro Brasileiro da Construção em Aço
        
        
          (CBCA), com a colaboração de Valdir Pignat-
        
        
          ta e Silva (professor doutor da Escola Poli-
        
        
          técnica da Universidade de São Paulo) e do
        
        
          engenheiro Mauri Resende Vargas (Tecsteel
        
        
          Engenharia)