Revista Estrutura - edição 7 - page 53

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ção de incêndio. Normas para projeto e
execução das fundações e muitas outras
não citadas aqui.
ABECE – Qual sua avaliação sobre o
momento atual da engenharia es-
trutural brasileira do ponto de vista
técnico? Como estamos na compara-
ção com a engenharia praticada em
outros países?
ANDRADE –
No Brasil estamos sempre
evoluindo e nos dedicando à melhoria da
nossa qualidade técnica. No momento
atual podemos afirmar que muitos temas
estão bem resolvidos e que está havendo
progresso. Entretanto, tentar comparar
com o que já existe em outros países é
complicado, pois boa parte deles está em
situação muito mais avançada. É tarefa difí-
cil e não temos como tratar disto aqui. Por
exemplo: na ABNT NBR 6118-2014, item 5.3
é prescrita a “avaliação da conformidade
do projeto”, obrigatória, e temos poucas
notícias da contratação desta avaliação.
ABECE – Que análise faz de alguns epi-
sódios recentes envolvendo colapsos
estruturais ocorridos no Brasil?
ANDRADE –
O colapso é quase sempre
resultado da associação de um conjunto
de fatores distintos, entre eles: falha de
projeto e/ou da execução, deficiência de
controle tecnológico, uso inadequado
com cargas adicionais, estado de conser-
vação da obra e muitos outros. Cada caso
tem que ser tratado individualmente, e
não há como generalizar. O atendimen-
to rigoroso às normas técnicas, incluin-
do verificações periódicas do estado da
obra e seu desempenho deve contribuir
para minimizar os riscos de colapso.
ABECE – Como reduzir a possibilidade
de erros nos projetos?
ANDRADE –
Com o uso de programas
adequados, para cada caso, sem tentar
adaptar a entrada dos dados. Desenvol-
ver os cálculos “etapa a etapa” com ve-
rificação dos resultados em cada etapa.
Verificação final rigorosa, também dos
desenhos, memoriais e demais docu-
mentos do projeto.
ABECE – Qual sua opinião sobre o es-
tágio atual do ensino de engenharia
no Brasil?
ANDRADE –
Em 1993, quando foi inten-
sificado o uso de programas tanto para
análise quanto para detalhamento de
projetos, deixei a EESC – USP e passei a
dedicar-me apenas ao escritório de cál-
culo. Na época da minha graduação e
mais algumas décadas o aluno recebia
uma formação geral multidisciplinar e
estudava de verdade para ser aprova-
do. Não demorou muito para acontecer
a massificação de ensino de engenharia.
Maior quantidade e pior qualidade dos
alunos. Maior quantidade de faculdades
e falta de professores com formação
adequada. A dita formação multidiscipli-
nar já não é a mesma e o aluno ficou mais
interessado no computador e seus pro-
gramas do que nos livros, normas e aulas
teóricas. É claro que há exceções, temos
várias boas universidades, mas é neces-
sário reformular os métodos e conteúdos
do ensino.
ABECE – Que mensagem pode passar
a um jovem que está pensado em es-
colher engenharia como carreira pro-
fissional?
ANDRADE –
Preste bastante atenção em
tudo que estiver fazendo, se ficar com
dúvidas, e havendo-as, procure assistên-
cia de profissional mais experiente. Estu-
de. Estude sempre para completar sua
formação.
ABECE – A seu ver, o que é mais im-
portante hoje para um jovem enge-
nheiro em termos de habilidade pro-
fissional?
ANDRADE –
Ter confiança e certeza de
ter completado com sucesso a parte ini-
cial de seu aprendizado. Ter disposição
para ir completando seus conhecimen-
tos sempre que novas situações se apre-
sentem, por exemplo: novas normas,
novos programas de computador, novas
tipologias das estruturas.
ABECE – Ao receber um estagiário,
quais características pessoais ou
habilidades analisa para antever se
será ou não um bom engenheiro?
ANDRADE –
No contato pessoal com o
jovem já se tem uma idéia das suas quali-
dades ou deficiências. Quanto ao seu fu-
turo, a primeira providência seria avaliar
seu desempenho na graduação. Notas
nas principais disciplinas – matemática,
resistência dos materiais, concreto, es-
truturas metálicas, mecânica dos solos,
sistemas estruturais. Se gosta de estu-
dar e estuda para aprender ou somen-
te para ser aprovado. Se tem facilidade
em informática e aptidão para tratar dos
assuntos técnicos: normalização, biblio-
grafia, etc.
Se em alguns destes quesitos deixou a
desejar, mas no geral teve boa atuação,
pode-se esperar um bom engenheiro,
que irá completar sua formação no es-
critório e no trabalho com projetos onde
aprenderá o que deixou de ser ensinado
na graduação.
ABECE – Relate um pouco do seu iní-
cio profissional ao sair da univer-
sidade. Recorde qual foi a primeira
obra que projetou?
ANDRADE – A primeira obra que recor-
do com carinho, foi a da Santa Casa de
São Carlos, em 1965, com fundações
diretas e estrutura de concreto arma-
do. Imediatamente após a graduação
em 1962, fui contratado como assis-
tente, em tempo parcial, nas aulas de
Resistência dos Materiais. Estava en-
tão com 22 anos. Não fiz estágios, pois
já atuava no escritório de cálculo de
Miguel Carlos Stamato, meu professor
de Estática e meu melhor mestre, que
passou a dedicar tempo integral na
EESC e deixou o escritório sob minha
responsabilidade.
No contato
com um
estagiário já
se tem ideia
de suas
qualidades
e deficiências
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