REVISTA ESTRUTURA
| SETEMBRO • 2017
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um termo geral utilizado para des-
crever vários tipos de reações quí-
micas que podem ocorrer interna-
mente no concreto, envolvendo
alguns componentes mineralógi-
cos presentes em rochas e agrega-
dos reativos usados em concreto
e álcalis do cimento presentes na
solução dos poros. Como resulta-
do da reação, são formados pro-
dutos que, na presença de umida-
de, em sua maioria, são capazes de
expandir e causar tensões inter-
nas, fissurações e deslocamentos
(conforme
foto 3
), podendo levar
a um comprometimento da dura-
bilidade. Como sempre, para que
ocorram reações químicas deleté-
rias, há necessidade da presença
de umidade e água.
a.2) Mecanismos preponderantes de
deterioração relativos à armadura:
a.2.1) Despassivação por carbonata-
ção: é a despassivação do aço da
armadura por ação do gás carbôni-
co da atmosfera sobre o concreto.
a.2.2) Despassivação por ação de clo-
retos: Consiste na ruptura local da
camada de passivação do aço da
armadura, causada por elevada
concentração de íons-cloreto.
a.3) Mecanismos de deterioração
da estrutura propriamente dita:
São todos aqueles relacionados às
ações mecânicas (tais como fissuras e
deformações excessivas), movimenta-
ções de origem térmica, impactos, ações
cíclicas, retração, fluência e relaxação,
bem como as diversas ações que atuam
sobre as estruturas.
b) Agressividade do meio ambiente:
A agressividade do meio ambiente está
relacionada às ações físicas e químicas
que atuam sobre as estruturas de concre-
to, independentemente das ações mecâ-
nicas, das variações volumétricas de ori-
gens térmicas, da retração hidráulica e de
outras previstas no dimensionamento das
estruturas (ABNT NBR 6.118:2014, p.16).
3 – DEMAIS CONSIDERAÇÕES
QUE DEVEM SER AVALIADAS
EM ESTRUTURAS DE
CONCRETO PARALISADAS:
Além dos fenômenos patológicos rela-
cionados simplificadamente no item 2.0,
deve-se também levar em consideração,
numa inspeção, o que segue:
3.1 – Manchas escuras de fuligem
e a formação do
gel da proliferação
de micro-
organismos no
concreto exposto:
O concreto armado
aparente de estruturas
em obras paralisadas
por longos anos, por
efeito da deposição da
fuligem presente na
poluição
atmosférica
oriunda dos combustí-
veis de veículos e indús-
trias que utilizam estes
materiais ou carvão no
seu processo produtivo,
apresenta manchas escuras em sua super-
fície, principalmente nos últimos andares.
Aliada a este problema, também ocor-
re, ao longo dos anos, o ataque de micro-
-organismos tais como fungos e bolores,
resultando em um gel ácido que causa
manchas de cores esverdeada a preta
no concreto. A ação desses agentes pode
proporcionar a deterioração precoce do
material, reduzindo a sua durabilidade,
seu desempenho e sua vida útil. Esse
mecanismo de deterioração, envolvendo
a ação do agente biológico, pode ser de-
nominado de biodeterioração (Pinheiro e
Silvia, 2011, p. 1067), também conhecido
em engenharia de concreto por lixiviação.
Um fator muito importante para a de-
terioração da estrutura de concreto é o
tempo, que proporciona a instalação e o
crescimento dos micro-organismos sobre
a superfície, acelerando sua deterioração.
O pH do concreto é altamente alcalino
(11< pH <13), o que restringe a capacida-
de do micro-organismo de crescer e de
se desenvolver. No entanto, quando o
concreto está exposto a condições am-
bientais como poluentes atmosféricos e
o dióxido de carbono, estes reduzem seu
pH e aumentam a biorreceptividade do
material, formando-se uma película que
se chama biofilme sobre um substrato.
Após a instalação do biofilme há a fixa-
ção de outros micro-organismos e partícu-
las do meio na superfície do concreto, for-
mando manchas e pátinas biológicas que
descaracterizam o material. Esse fenôme-
no pode ser chamado de biodeterioração
estética, tal como ilustrado na
foto 4
:
3.2 – Aspectos geométricos da
estrutura de concreto armado
Nas inspeções de campo devem ser
verificadas as condições dos aspectos
geométricos da estrutura de concreto
armado.
Repette (1991, p. 14) descreve que o não
cumprimento das especificações de pro-
jeto, como por exemplo erros na confec-
ção das fôrmas acarretando desvios nas
locações e alterações nas dimensões das
peças estruturais, são tidos como falhas
eminentemente construtivas e muitas
vezes são detectados já mesmo durante
as operações de acabamento das edifica-
ções. As principais mencionadas pelo au-
tor que se devem ser verificadas são:
a) Prumo de pilares ou peças lineares:
Deve-se neste caso verificar se o de-
saprumo atende aos limites estabe-
FOTO 3 - BLOCO DE FUNDAÇÃO COM REAÇÃO ÁLCALI-AGREGADO
FONTE: ARQUIVO PESSOAL DO AUTOR (TOMAZELI, 2015, P. 34)
FOTO 4 - MANCHAS ESCURAS DA
IMPREGNAÇÃO DE FULIGENS E PROLIFERAÇÃO
DE MICRO-ORGANISMOS NA SUPERFÍCIE
DO CONCRETO APARENTE DA ESTRUTURA
INACABADA EM OBRA NA CIDADE DE SÃO PAULO
FONTE: ARQUIVO PESSOAL DO AUTOR
(TOMAZELI, 2015, P. 145)
ARTIGO TÉCNICO
| INSPEÇÃO EM ESTRUTURAS DE OBRAS PARALISADAS