Revista Estrutura - edição 7 - page 23

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Projeto original da Cablagem – 8 cabos de 231 m com 31 cor-
doalhas de 12,5mm de uma ponta à outra, em cada alma.
A obra executada coincide com o projeto localizado em ter-
mos de forma e armadura frouxa, mas não em termos de arma-
dura protendida. Isso foi percebido quando, ao abrir o caixão
na região da seção danificada, verificou-se que alguns cabos
estavam ancorados dentro do caixão, a 10 m do pilar P8.
As built da Cablagem – obtido por Tomografia
Concreto
Pilares: fck = 15 MPa . .Superestrutura: fck = 30 MPa
proj 35 MPa testemunho
Armadura passiva . . .CA-50: fyk = 500 MPa
Armadura ativa . . . .CP-160/180: fpyk = 1600 MPa ;
fptk = 1800 MPa
2.DISCUSSÃO DAS CAUSAS -
DIAGNÓSTICO DO ACIDENTE COM O VIADUTO
T5, MARGINAL PINHEIROS
Como sempre, o 1º impulso que temos ao ver um acidente é
procurar a causa e entender porque? Entender porque, isto é,
definir o “diagnóstico”, é sempre o 1º passo a dar, fundamental!
Algumas vezes ele está claro e basta um pouco de sensibili-
dade estrutural e conseguimos visualizar o porquê e definir o
diagnóstico.
Acontece, porém, que algumas vezes as coisas não são assim.
Tudo o que parecia “obvio” não se sustenta e é preciso procurar
uma hipótese mais consistente.
Às vezes, inclusive, não conseguimos encontrar uma hipó-
tese que explique claramente o que ocorreu. Conseguimos
apenas descrever algumas delas que são capazes de explicar o
acidente, mas não temos como escolher entre elas!
Vale lembrar que o eng. de estruturas nessa posição está
numa situação bem pior que a de um médico. O doente não
fala, não reclama de dor, nem quando apalpado, e na maioria
das vezes, o órgão que deu origem ao acidente foi esmagado e
a autópsia fica muito difícil. Aqui, no nosso caso, tivemos sorte,
nem tudo ficou esmagado!
2.1.Hipóteses naturais:
2.1.1 - Corrosão da armadura
Vamos chamar o prolongamento da transversina de apoio,
do fundo do caixão até o topo do pilar, de “lingueta” (nome de
guerra criado na obra), ver desenho a seguir.
Como, sobre o pilar P9 do acidente, existe uma junta dilata-
ção e de cada lado dela uma lingueta, é natural que aí corresse
água e que pudéssemos encontrar corrosão da armadura.
Olhando as fotos a seguir, o concreto estava muito compacto
e a armadura muito boa, sem nenhuma indicação de corrosão.
2.1.2 – Escorregamento da lingueta
sobre o teflon do aparelho de apoio
Como esse trecho do viaduto é muito longo
(51+62,5+62,5+51=227m), ele encurta muito ao longo dos 1
os
anos (13cm em ~ 10 anos) por retração e fluência.
Além disso, entre o verão e o inverno ele encur-
ta uns 6cm. Imaginando uma condição inicial mais
provável, de construção em temperatura média,
teríamos um encurtamento total de 16cm no inver-
no, 8cm pra cada lado (a obra é simétrica!). Assim,
a possibilidade de escorregamento é plausível e
deve ser analisada.
Antes da obter o projeto as verificações iniciais
foram feitas como indica a figura a seguir, consi-
derando a carga vertical V excêntrica de 10cm e
uma força horizontal de atrito de 5%, chegamos
até 10%. A verificação passava com folga.
Dispondo do projeto, verifica-se que a monta-
gem foi feita com uma excentricidade de 5cm no sentido con-
trário à tendência de movimento, de modo que a verificação
ficou ainda mais folgada.
De fato, tudo foi projetado de forma adequada (é verdade
que esses detalhes só chegaram 4 semanas após o acidente) e
a hipótese de escorregamento fica menos provável, mas ainda
é possível.
Olhando, no entanto a foto do pilar P9 e suas linguetas logo
após o acidente, a seguir, observa-se que a ponta da lingueta
não escorregou, mas ficou presa na cabeça do pilar. Assim, essa
é mais uma hipótese razoável que cai por terra. –
2.1.3 – Ruptura do canto do pilar
Uma outra hipótese aventada foi a da ruptura do canto do
pilar, que favoreceria o escorregamento da lingueta. Mais uma
vez essa hipótese não se sustentou, o pilar estava integro, o
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