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Na mesma linha de comentários do se-
cretário paulistano de Infraestrutura se-
guiu o engenheiro João Vendramini, pre-
sidente da ABECE. “Esse acidente não foi
um problema de engenharia, mas sim de
gestão”. No seu entendimento, todos os
aspectos da discussão relacionada com
o episódio do viaduto refletem a forma
como a sociedade enxerga a atividade do
engenheiro hoje no Brasil.
“Nós, engenheiros, precisamos fazer
com que a sociedade tenha a exata no-
ção da nossa atividade. Hoje, quando o
cidadão faz um gesto banal de abrir sua
torneira, ele acha que uma espécie de
mágica faz a água aparecer. A maioria
não tem ideia de que em todas as fases
do processo de captação, armazena-
mento e distribuição da água, a enge-
nharia está atuando. Nós incorporamos
isso em nosso dia a dia de uma forma
mecânica e rotineira. O mesmo aconte-
ce com inúmeras outras coisas, como a
economia de tempo que se tem ao fazer
um simples retorno numa alça em uma
rodovia”, conclui Vendramini, salientan-
do que o papel de todos os envolvidos
com engenharia é mudar essa percep-
ção sobre o valor da nossa atividade. “A
verdade é que nós não sabemos nos va-
lorizar”, arremata.
O EVENTO –
A série de palestras e
apresentações da mesa-redonda teve
início com uma longa descrição do pro-
cesso de inspeção, análise e diagnóstico
do caso do Viaduto T5 da Marginal Pi-
nheiros, feita pelo engenheiro Fernando
Stucchi, que liderou a equipe encarrega-
da do projeto de reposicionamento, re-
forço e recuperação da obra-de-arte. No
início da longa e detalhada apresentação
com a descrição do que foi feito, Stuc-
chi salientou que muitas vezes definir o
“diagnóstico” das causas do colapso não
é tão óbvio como parecia no início.
“Muitas vezes não conseguimos en-
contrar uma hipótese que explique cla-
ramente o que ocorreu”, afirma. “Con-
seguimos apenas descrever alguma das
hipóteses que são capazes de explicar o
acidente, mas não temos como escolher
entre elas. Vale acrescentar que o enge-
nheiro de estruturas nessa posição está
numa situação bem pior que a de ummé-
dico, pois o paciente (no caso, o viaduto)
não fala, não reclama de dor, nem quan-
do “apalpado”. E, na maioria das vezes,
o órgão que deu origem ao acidente foi
esmagado e a “autópsia” fica muito difí-
cil. Aqui, no caso do viaduto da Marginal
Pinheiros, tivemos sorte, pois nem tudo
ficou esmagado”, explica Stucchi. (Ver o
detalhamento do projeto de recuperação
do viaduto em artigo do engenheiro Stuc-
chi na página 22).
Na sequência, o engenheiro Eduardo
Barros Millen, ex-presidente e atual dire-
tor da Regional São Paulo da ABECE, tra-
tou do tema
Acidentes, Inspeção, Avaliação
Técnica de Projeto (ATP), além da Ética na
Engenharia Estrutural
. Especificamente
em relação a ATP, salientou que a ferra-
menta pode reduzir em até 30% os riscos
de acidentes relacionados com o projeto
de uma obra. “Além disso, ATP represen-
ta garantia de segurança e vida útil da
estrutura, atendimento das normas de
desempenho, redução do prêmio de se-
guro e ganhos no consumo de materiais”,
acrescentou Millen, que também relem-