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VALORIZAÇÃO PROFISIONAL
| REGISTRO DOS CONHECIMENTOS
S
abe-se que quem conta um conto
aumenta um ponto. Antes do sur-
gimento da escrita, esse foi o mé-
todo que garantiu a transmissão
de conhecimento entre gerações, e a tra-
dição oral foi responsável pelas histórias
maravilhosas que, transcritas mais tarde
para os livros, encantam-nos até hoje.
Os mitos gregos recontados e adaptados
às culturas que os sucederam são um
exemplo vivo da força de uma boa histó-
ria, confirmando que são as histórias do
passado que ancoram o presente e pro-
jetam o futuro. Mas o que isso significa
no contexto profissional e acadêmico da
engenharia estrutural?
A resposta para essa pergunta pode
começar a surgir quando nos damos
conta que nós, engenheiros estruturais
brasileiros, não contamos nossa histó-
ria. É importante frisar aqui, porém, que
nosso árduo trabalho, materializado e
registrado em projetos eventualmente
repletos de complexidade, engenhosi-
dade e criatividade é também uma parte
dessa história. Contudo, é apenas uma
pequena parcela de sua construção, na
medida em que sua divulgação é restri-
ta, sendo que sequer existe, na maioria
dos casos.
POR MONICA AGUIAR*
(*) Professora de Engenheira Civil da Pontifí-
cia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC-Rio).
NÃO HÁ FUTURO
SEM PASSADO
A ENGENHARIA ESTRUTURAL PRECISA CONTAR SUA HISTÓRIA, PARA
SERVIR DE REFERÊNCIA E ESTÍMULO AOS NOVOS PROFISSIONAIS QUE
ESTÃO CHEGANDO AO MERCADO
A técnica pode se tornar estéril quando
ensinada fora de seu contexto histórico,
ainda mais nessa era de digitalização e
abstração acachapantes que agora vive-
mos. As novas gerações digitais deveriam
ser introduzidas à história da engenharia
pré-digital e seus métodos e soluções
que serviram de embasamento ao co-
nhecimento do qual desfrutamos hoje e
que, no contínuo da história, frutificará
no conhecimento de amanhã.
A história da engenharia estrutural bra-
sileira não tem recebido a atenção que
merece. São muito poucos os trabalhos
acadêmicos e mesmo os livros que tratam
do assunto, onde se destacam os escritos
pelo mestre Augusto Carlos de Vasconce-
los. Quando contextualizada no âmbito
da construção e seus interlocutores, prin-
cipalmente a arquitetura, essa história
tende, inclusive, a desaparecer. E por que?
Talvez porque exista a história e a historio-
grafia. A historiografia, como registro es-
crito da história, estará sempre submetida
aos filtros de quem a ela se dedica.
No Brasil o tema da historiografia da
arquitetura começou a ganhar autono-
mia a partir dos anos 1980, com a conso-
lidação dos programas de pós-graduação
dedicados à História da Arte e da Arqui-