REVISTA ESTRUTURA
          
        
        
          |  MAIO • 2019
        
        
          
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          que ficou claro no final do macaqueamen-
        
        
          to, quando seu topo foi limpo e mostrou os
        
        
          neoprenes no seu lugar, de fato com o te-
        
        
          flon bastante sacrificado. Assim, não houve
        
        
          ruptura do canto do pilar, nem do canto da
        
        
          lingueta, que gerariam um “escorregamento”
        
        
          da lingueta, não mais através do teflon, mas
        
        
          através de uma ruptura de canto do pilar ou
        
        
          da lingueta. Na foto ao lado o pilar P9 apare-
        
        
          ce integro e apenas um Neoprene. O outro já
        
        
          havia sido retirado para análise.
        
        
          
            2.1.4 – Insuficiência de armadura de fretagem
          
        
        
          Essa hipótese também era, em princípio, plausível.
        
        
          Observando a foto do P9 no dia do acidente, essa plausibili-
        
        
          dade se reduz já que a ponta da lingueta não estava esmagada
        
        
          e ainda apoiava no topo do pilar.
        
        
          Com a descoberta do projeto, ela se desvaneceu completa-
        
        
          mente, a armadura de fretagem estava em ordem.
        
        
          
            2.2.Hipóteses nem tanto naturais:
          
        
        
          
            2.2.1 – Excesso de protensão
          
        
        
          A Norma vigente na época, NB116, que prescrevia protensão
        
        
          completa para obras como essa, é a que foi usada e nenhuma
        
        
          crítica pode ser feita ao projeto por obedecê-la.
        
        
          Foi assim que Freyssinet inventou o C. Protendido, bastante
        
        
          protensão e pouca armadura, e isso só foi modificado na versão
        
        
          2003 da ABNT NBR 6118 - Projetos de estrutura de concreto, que
        
        
          aliás alguns órgãos do governo, com receio, demoraram a aceitar.
        
        
          Certamente o encurtamento total (Retração, Fluência e Tem-
        
        
          peratura) calculado para o caso estava bem coberto pelo proje-
        
        
          to e não é causa do acidente.
        
        
          
            2.3.Hipóteses ligadas a “defeitos ocultos”
          
        
        
          Na verdade, quando essa dificuldade de definir o diagnóstico
        
        
          ocorre, é preciso ser teimoso, criativo e não se cansar de pro-
        
        
          curar não só no que está visível, mas também no que dizem
        
        
          os modelos de cálculo, que podem começar mais simples e se
        
        
          necessário se tornar mais complexos.
        
        
          Observando bem a foto anexa do pilar P9 no dia do acidente,
        
        
          parece que a lingueta rompeu por esgotamento do concreto a
        
        
          compressão, à meia altura. De fato, a ponta da lingueta aparece
        
        
          apoiada no pilar com trecho integro de meio metro de altura
        
        
          e dele saem dobradas em S as barras de armadura vertical da
        
        
          lingueta, entrando na parte superior da mesma lingueta, ainda
        
        
          preservada e ligada à superestrutura.
        
        
          Essa condição de apoio foi sempre razão de preocupação, seja
        
        
          com a perda da capacidade de suportar as 700tf, seja porque difi-
        
        
          cultasse a operação de macaqueamento, por conta do atrito com
        
        
          a lingueta vizinha, uma vez que a junta estava cheia de resíduos.
        
        
          
            2.3.1 – Esmagamento do concreto da
          
        
        
          
            lingueta a meia altura, lado da junta
          
        
        
          Na procura incansável do diagnóstico, decidiu-se estudar a
        
        
          hipótese de que, por serem velhos (quase 40 anos), os apare-
        
        
          lhos de apoio tivessem deixado
        
        
          de permitir deslizamento. De fato, para forças horizontais
        
        
          da ordem de 250tf, geradas por deformações impostas ainda
        
        
          remanescentes, a lingueta poderia ter sido esmagada a meia
        
        
          altura.
        
        
          Ok, mas 250tf é muito!!!
        
        
          
            2.3.2 – Esgotamento do concreto da lingueta
          
        
        
          
            por fadiga do concreto à compressão
          
        
        
          Verificou-se em seguida que, considerado o desgaste por fa-
        
        
          diga do concreto conforme critério da ABNT NBR 6118, equiva-
        
        
          lente ao do fibM1990 e Eurocode EC2, a necessária ordem de
        
        
          grandeza da força horizontal caia pra 200tf. Essa hipótese de
        
        
          diagnóstico tomou força e parece mais plausível que a descrita
        
        
          acima. Mas 200tf também é muito!
        
        
          
            2.3.3 – Defeito de concretagem na
          
        
        
          
            lingueta do P9
          
        
        
          Analisando a lingueta do ponto de vista
        
        
          da concretagem, verifica-se que, por conta
        
        
          das armaduras inferiores das 3 almas e da
        
        
          laje, bem como da fretagem, que toma toda
        
        
          a espessura da lingueta, ela deve ter sido
        
        
          difícil! Pode ter se formado uma “bicheira”
        
        
          na lingueta, favorecendo sua ruptura por
        
        
          flexo-compressão, com ou sem fadiga.
        
        
          Já com o macaqueamento executado e
        
        
          com os projetos de alargamento dos pi-
        
        
          lares 5 e 9 (para dar mais liberdade para
        
        
          movimentos horizontais e facilitar a troca de aparelhos de apoio),
        
        
          começaram a aparecer surpresas: apareceram defeitos de con-
        
        
          cretagem, bicheiras, na lingueta oposta à rompida (pilar P9). Elas
        
        
          apareceram quando da operação de injeção das fissuras clara-
        
        
          mente visíveis após a demolição da parte remanescente (ver figu-
        
        
          ra ao lado). Dois furos de injeção vizinhos, beberam, como se diz
        
        
          na linguagem de obra, 4 e 3 litros, totalizando 7 litros.
        
        
          Esse é claramente mais um possível “defeito oculto” que po-
        
        
          deria ter agravado a condição da lingueta e contribuído para o
        
        
          acidente.
        
        
          
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