REVISTA ESTRUTURA
| MAIO • 2019
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brou alguns acidentes recentes ocorridos
no país.
O tema
Prevenção de Acidentes e Danos
em Construções de Concreto
foi abordado
pelo engenheiro Júlio Timerman, presi-
dente do IBRACON. Tratando especifica-
mente das inspeções, o palestrante infor-
mou que, logo que a obra é concluída, já
deve ser feita uma inspeção ou quando
ela for integrada a algum sistema de mo-
nitoramento e acompanhamento viário.
Igualmente deve ocorrer uma inspeção
todas as vezes em que houver altera-
ções, tais como alargamento, acréscimo
de comprimento, reforço ou mudança no
sistema estrutural.
Timerman explicou que são três os ti-
pos de inspeções recomendadas: a Ro-
tineira, para se verificar a evolução de
anomalias já observadas; a Especial, feita
com uma periodicidade de cinco anos; e a
Extraordinária, que é gerada por uma de-
manda não programadas, como impacto
de veículos, eventos naturais como inun-
dação e vendaval. Em todas as inspeções
deve ser feito um relatório. “Na inspeção
extraordinária deve ser apresentada a
descrição da obra, identificação da ma-
nifestação patológica, incluindo mapea-
mento, documentação fotográfica e tera-
pia recomendada”, informa o engenheiro.
Após as ponderações de Timerman,
o vice-presidente de Gestão e Assuntos
Institucionais do Sinaenco – Sindicato
Nacional das Empresas de Arquitetura e
Engenharia Consultiva, Sérgio Marques
Assumpção relatou alguns resultados
de um trabalho desenvolvido pela enti-
dade e intitulado
Prazo de Validade Ven-
cido
, para avaliação de pontes, viadutos
e outras estruturas públicas que já foi
realizado em 22 cidades brasileiras des-
de 2005. “Em todas as cidades em que o
estudo foi desenvolvido, os administra-
dores públicos se sensibilizaram com a
questão e fizeram investimentos na área,
recuperando pontes e viadutos, embora
que ainda de forma insuficiente”, observa
Assumpção.
Alguns resultados concretos decorren-
tes do trabalho do Sinaenco: em 2005 a
Prefeitura de São Paulo ampliou a verba
para manutenção de R$ 3 milhões inicial-
mente previstos, para R$ 25 milhões, re-
cuperando quatro pontes e viadutos; em
2007 foi criada a Frente Baiana de Manu-
tenção, reunindo Sinaenco, Crea (BA) e
Prefeitura de Salvador para inspeção de
obras-de-arte especiais; e no Rio de Ja-
neiro, duas obras em pior estado foram
reformadas após o levantamento (Paulo
de Frontim e Elevado do Joá).
Tendo por tema
Sistema de Gerencia-
mento de Pontes
, o engenheiro Túlio Bit-
tencourt, diretor da ABECE e um dos
fundadores do grupo brasileiro do IAB-
MAS (International Association for Bridge
Maintenance and Safety), detalhou em
sua apresentação na mesa-redonda as
ferramentas e as melhores práticas na
gestão de manutenção de pontes e via-
dutos. Lembrou que, frequentemente se
associa o sistema de gerenciamento de
pontes com os softwares utilizados nes-
sas atividades. “A existência de recursos
computacionais para o correto gerencia-
mento de pontes não substitui os enge-
nheiros gestores de pontes, mas o opos-
to disso”, comentou Bittencourt.
O que ocorre, salientou, é que a metodo-
logia é capaz de produzir informações va-
liosas para a consideração do engenheiro
gestor. “Esses recursos são especialmente
necessários para a administração de gran-
des parques de obras, com considerável
volume de informações”, completou.
Bittencourt avança sua abordagem en-
fatizando a questão crucial do convenci-
mento das autoridades sobre a necessi-
dade de ações preventivas. “Justificar os
investimentos na infraestrutura é mais
fácil quando os benefícios são quantifica-
dos. Para tal, precisamos conhecer a fun-
do nossas obras, através dos registros
e da utilização de sistemas de gerencia-
mento de pontes”, diz Bittencourt.
Ao final do encontro, o secretário Aly
destacou o legado de uma ocorrência
como a do viaduto da Marginal Pinheiros.
Para ele, o episódio deve criar a cultura
da manutenção e incentivar que as admi-
nistrações possuam ou providenciem um
inventário das OAEs, criem programas de
manutenção das OAEs e também um Sis-
tema de Gerenciamento das Informações
relativas a essas obras-de-arte. “Mas
tem um tópico dentro de tudo isso que
me preocupa em particular. A perda de
profissionais experientes e capacitados
tecnicamente para atuar nessa área. Um
recente levantamento que fizemos na se-
cretaria constatamos que 70% da força
de trabalho técnica da Prefeitura de São
Paulo tem mais de 55 anos e prestes a
se aposentar. Como boa parte do histó-
rico das pontes e viadutos não está do-
cumentado adequadamente, ele poderá
se perder junto com a aposentadoria dos
profissionais”, observou o secretário.
(*) Além da ABECE e do IBRACON, o even-
to foi promovido também pela EPUSP
(Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo) e grupo brasileiro do IABMAS
(Brazilian Group – International Associa-
tion for Bridge Maintenance and Safety).
Contou ainda com a participação de en-
tidades como a ABPE (Associação Brasi-
leira de Pontes e Estruturas), Prefeitura
do Município de São Paulo e Sinaenco
(Sindicato Nacional das Empresas de Ar-
quitetura e Engenharia Consultiva).
PONTES E ESTRUTURAS
| DEBATE
ECOS DA MESA-REDONDA
Algumas ações, propostas e medidas concretas para aprimo-
rar a manutenção de pontes e viadutos discutidas no evento
– Alocar recursos orçamentários para obras de manutenção nos níveis federal, es-
tadual e municipal;
– Realizar vistorias rotineiras, em intervalonãosuperior aumano (ABNTNBR9452/2016);
– Definir programa permanente de manutenção com estrutura organizacional
para planejamento e execução dos trabalhos;
– Ter um manual de especificações e procedimentos padronizados para executar a
manutenção;
– Implantar Sistema de Gestão de Obras de Arte;
– Desenvolver sistemas eficientes de controle de altura de veículos que trafega por
sob as pontes e viadutos;
– Estudos internacionais estimam que o ideal é que se invista ao menos 2% do PIB
na manutenção da estrutura;
– Inspeções, diagnósticos e recuperação de OAE devem ser realizados apenas por
empresas ou profissionais especializados e contratados por critérios técnicos.