Revista Estrutura - edição 7 - page 34

REVISTA ESTRUTURA
| MAIO • 2019
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tetura, fortalecendo o debate crítico. Não
há notícias sobre discussões a respeito
da historiografia relacionada à engenha-
ria estrutural, que dirá discussões sobre
o papel dos historiadores e seus filtros
em nossa história.
Já nas primeiras linhas do artigo
The
New Brutalism
, de 1955, Reyner Banham,
importante crítico e historiador inglês,
faz uma pergunta: “Qual tem sido a in-
fluência dos historiadores da arquitetu-
ra contemporânea na história da arqui-
tetura contemporânea”? Essa pergunta
é um bom começo para a reflexão que
se pretende fazer aqui. Reflexão sobre
a forma como é contada a história da
arquitetura moderna brasileira e suas
consequências para a engenharia estru-
tural. A arquitetura moderna brasileira é
reconhecida internacionalmente, e para
sua implantação e desenvolvimento foi
fundamental a contribuição de nossa
engenharia estrutural.
Marcelo Puppi, em seu livro
Por uma
História Não Moderna da Arquitetura Bra-
sileira,
atribui o modelo original de his-
toriografia da arquitetura moderna no
Brasil à escrita de Lucio Costa, que se
expressou em artigos debatidos pela
mídia e pela comunidade acadêmica de
seu tempo. Segundo o autor, Costa, na
década de 1930, atribuía um papel cen-
tral à técnica para o desenvolvimento
do que ele chamava então de “arquite-
tura contemporânea”, parecendo que
“o passado arquitetônico encontrava-se
à espera do concreto armado para, nos
tempos modernos, efetuar sua resolu-
ção dialética”. Essa abordagem serviu
para que Costa justificasse sua atuação
como arquiteto, procurando tornar ob-
soleto o ecletismo na arquitetura prati-
cada até então.
No entanto, apesar de trazer a técnica
do concreto armado para o debate arqui-
tetônico, Costa associava o domínio des-
sa técnica à prática dos arquitetos. Assim
como Le Corbusier, ao contrapor a estéti-
ca do engenheiro à estética do arquiteto,
para recuperar o prestígio perdido pela
arquitetura durante a primeira revolução
industrial, Costa deixou de introduzir na
discussão brasileira a contribuição da en-
genharia estrutural envolvida nas solu-
ções que a nova arquitetura demandava.
Contribuição proveniente principalmen-
te do trabalho de Emílio Baumgart, com
quem Costa e sua equipe desenvolveram
o projeto do MES (Ministério da Educa-
ção e Saúde, projetado em 1936 por ele,
com consultoria de Le Corbusier). Por um
lado, ao desconsiderar a contribuição da
engenharia estrutural em seus textos,
Costa pode ter contribuído para o ostra-
cismo em que se manteve a engenharia
estrutural na história da arquitetura mo-
derna brasileira. Por outro lado, Emílio
Baumgart deixou de escrever sobre o
assunto, dando também sua parcela de
contribuição.
Mais tarde, o modelo historiográfico
adotado por Yves Bruand em sua tese
de doutorado de 1969, publicada e
traduzida em 1981 no livro
Arquitetura
Contemporânea no Brasil
, foi bastante
similar ao adotado por Costa, e em seu
texto também são raras as menções à
engenharia estrutural. Tal modelo de
historiografia manteve a disciplina, e
consequentemente os nomes dos pró-
prios engenheiros estruturais, fora dos
textos sobre a arquitetura moderna
brasileira. Novamente, não há textos
dos engenheiros estruturais que par-
ticiparam daqueles projetos mencio-
nando suas contribuições ou mesmo as
especificidades característica daqueles
projetos estruturais. É possível obter
registros dos projetos arquitetônicos,
mas desconhece-se os projetos estru-
turais. Esse foi o modelo de historio-
grafia vigente à época e assim tem sido,
desde então.
O dito popular “
quem conta um conto
aumenta um ponto
” reflete essa questão,
na medida em que esse conto foi conta-
do exclusivamente do ponto de vista da
arquitetura. Caso houvesse um ponto
de vista por parte da engenharia estru-
tural, firmando sua contribuição para o
desenvolvimento da arquitetura moder-
na brasileira, este poderia ter se refleti-
do em sua historiografia, justamente por
aumentar um ponto. Por um lado, a his-
A construção da história se dá pelo fazer
e pelo contar, e nesse segundo contexto
deixamos de atuar. Basta observar a pouca
ênfase dada ao ensino da história da
engenharia para jovens que nela ingressam.
Se assim é com a história da engenharia de
um modo geral, que dirá o ensino de projetos
estruturais icônicos. Quanto teríamos a
aprender estudando projetos elaborados por
Emílio Baumgart, Joaquim Cardozo, Roberto
Rossi Zuccolo, José Carlos de Figueiredo
Ferraz, Arthur Eugênio Jermann, Augusto
Carlos de Vasconcellos, Mário Franco ou
Bruno Contarini, para citar apenas alguns
VALORIZAÇÃO PROFISIONAL
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